JOSÉ CARLOS DOS SANTOS IGNÁCIO
IGNÁCIO, José Carlos dos Santos. Beiradas de um olhar por dentro. São Paulo: Massao Ohno Editor, 1991. 40 p. 13,5x20 cm. Capa: Guache de Fúlvia Gonçalves. “Orelha”: Eduardo Alves da Costa. Texto na contracapa: Franklin de Oliveira. Apoio Banespa.
“OLHAR SE FAZ DE CONTA"
Olhar-me faz de conta:
se por conta numa soma
olhe o jeito dá-se na adição;
se por meio que redobra a mão
o que conta multiplica a ação.
Então, se faço olhar de conta
reconto as partes
pra mais outra divisão.
"QUERO OLHAR DE PEIXE MORTO".
Com um olhar de peixe morto,
eu trago d'uma figa saideira:
como adormece, quis e me gusta
é de arrepiar no disfarce da dose,
como encara é a lambida por fora
porque mostra depois o defeito
de ter amanhecido
com efeito de um velho tecido.
“TENDO OLHAR DE SEM VERGONHA"
Pra olhar de sem vergonha
é preciso atração desvairada,
que vai e vem e sonha
com a sobra de uma boa fantasia
d'uma morena que passa e se disponha
a deixar no ar tesão de quebra,
que se requebra,
faz botar por entre os lábios
o desejo mais desperto por nós passado
através dos olhos que deixa explícito
o delírio do olhar que por si deponha
aquilo que realmente é o atraente
recheio-me olhado de um sem vergonha.
Página publicada em julho de 2015
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