JOSÉ BRANDÃO
(José Carlos Mendes Brandão )
José Carlos Mendes Brandão é autor de sete livros de poesia: O Emparedado, 1975; Exílio, 1983; Presença da Morte, 1991; Poemas de Amor, 1999; O Silêncio de Deus, 2009; Memória da Terra e O Sangue da Terra, 2010. É detentor de vários prêmios literários, como o “José Ermírio de Moraes”, para melhor obra publicada no ano (1983-1984); V Bienal Nestlé de Literatura Brasileira, por Presença da Morte (1991); Prêmio Brasília de Literatura, por Sol no Umbigo, inédito (1991); Prêmio Nacional de Literatura “Cidade de Belo Horizonte”, por Deus no Prego, romance inédito (2000); Prêmio Nacional de Literatura “Cassiano Nunes”, da Universidade de Brasília (2010); Prêmio Nacional de Literatura “Gerardo Mello Mourão”, do Ideal Clube, Fortaleza, CE, menção honrosa por O Sangue da Terra (2010).
“Em seu segundo livro Exílio, dê-se registro às palavras de abertura: “Por toda a grandeza do universo, do tempo ou do amor, eu quis a mágica da ascese, um vôo secreto na febre do sangue. O poeta sonha a forma do espírito”. “ Luiz Vitor Martinello
Quem quiser ler mais sobre o poeta, tem uma fonte preciosa:
http://www.overmundo.com.br/overblog/imanencia-e-transcendencia-na-poesia-do-brandao
e no blog http://www.recantodasletras.com.br/autor_textos.php?id=23137&categoria=7
De
BRANDÃO, José.
EXÍLIO
Capa e ilustrações de Carlos Daniel.
São Paulo: Massao Ohno –
M. Lydia Pires e Albuquerque editores, 2011. 87 p.
ODE NOTURNA
Não durmo. Duro
na noite em que me encontro
de mim ausente. Penso
no que sou e, nesse ato
de pensar, não sou. Pouco
mais que uma ideia,
ou menos, no ar, reflito
ou, imagem, no acaso
do sonho distraído
de um deus sonhado,
sou refletido.
ODE ESTELAR
Os deuses são estrelas
mortas há tanto tempo,
e ainda brilham. Nada
podem, nas redes
dos destino. Íntimas
faces de lendas,
resistem, tristes.
POEMA DO OUTONO
O outono cai
numa folha
dourada.
(A cor do tempo
ou seu sonho
é o ouro.)
1o. Prêmio Cassiano Nunes - Concurso Nacional de Poesia - Seleção 2009. Antologia. Org. Maria de Jesus Evangelista. Brasília: Universidade de Brasília -Biblioteca Central- Espaço Cassiano Nunes, 2010. 152 p. 14 x 21 cm. Ex. bib. Antonio Miranda
A GATA
A gata me olhou com seus olhos náufragos.
Era como se seu olhar viesse
do outro mundo. Lançava com os olhos
um grito silencioso, que gelava.
Havia gigantescas ondas, monstros
marinhos, corais, conchas e florestas
submersas em seus olhos de âmbar e ouro
líquidos, mal velando o abismo fundo.
Neles boiava o sal da eternidade.
Deus neles mergulhara na criação.
A luz primeira Deus criou nos olhos
da gata imemorial. O seu miado
surdo traz ecos dos enigmas do homem
diante do absoluto mar da origem.
O CAVALO
O cavalo sentou-se à minha mesa,
comemos e bebemos, conversamos
como velhos amigos que retornam
ao altar de antes, com os olhos rasos
de lágrimas e algum represado ódio.
O cavalo soltava fogo pelas
ventas, enquanto fia seu riso ácido.
Contou-me a história da partida antiga
com sangue e pus nos cascos quebradiços,
fomos irmãos, pastamos nas pastagens
do mesmo senhor, nosso pai, ausente
e presente na dor e na alegria.
A angústia não tem fim, e retornamos
ao capim do universo que deixáramos.
O CACHORRO
O cachorro me olhou com o silêncio
lacrimejante das janelas-enigma,
sempre fechadas, sem palavras, sangue
e sal diluidor, e latiu forte
como a morte, como árvores de espantos.
O cachorro rompeu o silêncio
de pedra exausta, precisava a dor
dizer ao mundo. O sangue nos lençóis
clamava aos céus, o breve fim, a angustia
milenar, consentida, mas angústia.
O cachorro floriu diante do mar,
em êxtase com a água, a eternidade
nos olhos mansos, vendo o tempo frágil
desfazer-se na fria areia efêmera.
*
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Página ampliada e republicada em abril de 2022
Página publicada em novembro de 2011.
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