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JOHANN HEYSS
Johann Heyss é escritor e músico desde 1990 e tradutor desde 2001 (com dezenas de traduções literárias publicadas).
Como músico, já lançou 5 discos-solo e se apresentou em várias cidades do Brasil e também em Nova York. Sua música agrega eletrônica, folclore, pop e experimentalismo. Seus primeiros livros são voltados ao ocultismo (com títulos publicados no Brasil, EUA, França, Alemanha, Rússia e República Tcheca). Em 2010 passou a publicar ficção, poemas e biografias. Seu primeiro romance, “A fada do dente” (2015), apresenta a magia sob uma ótica irônica. O segundo, “Às vezes o buraco é mais embaixo” (2017, Editora Patuá), conta uma história crua de amor e ódio. O terceiro, “Crianças do abismo” (2018, Kotter Editorial), retoma o sobrenatural em fartas doses de anos 80, sexo, drogas e violência.
Seus primeiros livros de poemas, “Maremoto Ignoto” (2015) e “O Tarô de Thoth: Poemas” (2016) oscilam entre simbolismo e cultura pop; já o terceiro, “As águas-rubis”, mergulha em sombras com esperança e estupor.
PÓS-CATACLISMA
depois do terremoto, as luvas
pousadas na mesa
por que o chumbo não as derrete?
quando abri os olhos o teto estava tão longe
e o baque batucou cada tambor oculto em meu peito
o som das ondas nas rochas salgadas
de saudade presente
o atalho perigoso compensa
você pensa pensa pensa
eu penso que penso
abrem-se as cortinas, penumbra dos bastidores
mergulho com destemida timidez
teu corpo de doces odores
vomito o medo das dores
ancestrais
e as desisto do futuro:
você em mim
por mim
tornou claro
o que era escuro
(e tornou escuro o que era claro)
ANTOLOGIA DO DESEJO / VÁRIOS AUTORES. LITERATURA
QUE DESEJAMOS. PARATY 2018. Editor e organizador; Eduardo
Lacerda. Ilustração e projeto gráfico: Fernando Mathias.
São Paulo: Patuá, 2018. 358 p. 13,5 x 20, 5 cm..
ISBN 978-85-8297-614-2 --- https://www.editorapatua.com.br/
Ex. bibl. Antonio Miranda
As águas-rubis
Naquela noite dormi ao lado dele, que me voltou em sonho.
Relatou-me a estranheza de sentir
a que da livre do Abismo.
Eu sabia que ele tomara o bote, aquele
que navega as águas-rubis abaixo,
as velas afora,
o caleidoscópio das emoções desconhecidas.
Sei que ele sabia ser tempo
de encarar o precipício:
não olhar para trás, não temer quebrar o pescoço.
Luzes afora, a ciranda de rosas acesas adentrando o
/Círculo Mágico.
Havia Apolo em seus olhos, e Zeus em minha respiração.
Proposta de salto
Escreva na sua agenda
como quem desenha uma harpia
vista a fantasia
como se fosse por encomenda
calcule o trajeto
como quem traça um mapa secreto
comunique o resultado
como quem canta um solo de ópera
risque o traçado
como quem opera uma úlcera
Página publicada em agosto de 2019
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