ROMANTISMO – POESIA ROMÂNTICA
JOAQUIM XAVIER DA SILVEIRA
Joaquim Xavier da Silveira (Santos, 7 de outubro de 1840 — Santos, 30 de agosto de 1874) foi um poeta, jornalista, advogado e líder abolicionista brasileiro. Filho do capitão de milícias Francisco Xavier da Silveira, o jovem Joaquim trabalhou no comércio, como auxiliar de escritório e guarda-livros, vindo a cursar a Faculdade de Direito de São Paulo, donde saiu formado em 1865. Jornalista, jurisconsulto e tribuno, foi reconhecido como grande orador e defensor da causa da libertação dos escravos no Brasil. Faleceu ainda jovem com apenas 34 anos, vítima da varíola que grassava no município.
Realizou várias obras como poeta, apesar de não ter editado nenhum livro enquanto vivo. Seu livro mais conhecido, Poesias, foi publicado somente em 1902 pelas mãos de seu filho, Joaquim Xavier da Silveira Júnior, advogado e discípulo das idéias do pai. Além deste livro, dentre suas obras, destaca-se Porque Amo a Noite, Só e História de Um Escravo.
Hoje, Xavier da Silveira é nome de ruas, entre elas uma no centro de Santos - SP (Avenida Xavier da Silveira). Destaca-se também a herma disposta em uma praça próxima às avenidas Ana Costa e Francisco Glicério em Santos, donde seu busto paira em observação perene ao crescimento de sua querida cidade. A rua Xavier da Silveira em Copacabana na cidade do Rio de Janeiro, foi homenagem ao filho de Joaquim Xavier da Silveira, Joaquim Xavier da Silveira Júnior, que foi Prefeito da cidade maravilhosa.
Extraído do ALMANACH LITTERARIO DE SÃO PAULO PARA O ANNO DE 1884 publicado por José Maria Lisboa. S. Paulo: Typographia da “Provincia de São Paulo”, 1883. p. 91-94
PORQUE AMO A NOITE
Sabes que é amor sem ter em troca
Um olhar de mulher banhado em fogo?
É no leito — a vigilia, e n´alma o inferno
É blasphemia do peito em desafogo?
Vivo entre prantos, delirante sempre
Sem ter uma alma que me vote amor!
P´ra não zombarem do infeliz que soffre
Espero a noite — que me escuta a dor.
Meu deus, que vida! Quando os risos d´alma
Deviam todos afagar-me o rosto
Cercam-me as sombras e minh´alma é triste
Como o horisonte quando o sol é posto.
Este era o tempo — que da primavera
P´ra mim deviam rebentar as flôres,
E, no entanto sinto o sol do estio
Crestar-me as crenças, abrazar-me em dores!
E como eu sofro, porque choro embalde,
Pobre, sozinho, sem consolo achar,
Lamento o dia e esperando a noite
Maldigo a sorte que me faz chorar!
E quando durmo — na minha alma passa
Formosa Vesper — (que gentil visão!)
Creio um momento na ventura em sonhos
Desperto ai louco!! topo a solidão!
Oh que martyrio! que destino o meu
Que até sonhando desgraçado sou!
Que triste fado! nunca a luz das crenças
Dentro em minh´alma um raio seu coou!
SÓ
Sonhei-te ha muito! eras visão aerea
Forma impalpável, mas que a alma via,
Na luz da lua, no cantar das aves,
Na aurora em flôr quando a manhã sorria!
Longas, bem longas minhas horas todas
Perdi nas luctas de um scismar eterno!
Na voz enferma de minh´alma em febre
Liam-se estragos d´um gelado hinverno!
Caladas horas se escoavam tristes
No tempo inglório que a soffrer passei;
E tu fugiste vaporosa sombra
E eu, insano, adormeci... sonhei!
Creança ainda, tacteando em trevas,
Ouvi um poeta modular meu nome;
Um marco ergueu-se na minh´alma crente
Que a mão do tempo nunca mais consome!
Cresci — conmigo o isolamento gélido.
Feri as cordas: era muda a lyra!
De meu passado se levantam vagas
A que minh´alma com fervor se atira!
É que o passado se desfez nos prantos,
E a luz da aurora nunca mais eu vi!
Não há mais dia, para mim o tempo
É noite eterna e eu adormeci!
Página publicada em novembro de 2015
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