JOÃO RICARDO PENTEADO
Surgiu como poeta para o público com o livro “Os Rumos”, pela Coleção dos Novíssimos" (1960), da editora de Massao Ohno.
Alguns poemas foram incluídos depois na
ANTOLOGIA POÉTICA DA GERAÇÃO 60. Org. Álvaro Alves de Faria; Carlos Felipe Moisés. São Paulo: Nankin, 2000. 246 p.
de onde extraímos os poemas:
Terceiro rio
Nada separa o Rio da fome,
o cansaço parco, do caminho dos pés,
o bafo amargo, dos bois ébrios.
O Rio caminha nas vias do sangue
corroendo as mãos de crianças nuas
que no gesto incauto lhe admiram o lombo.
O Rio não limpa a fome das almas,
nem a sede detém suas patas de lodo
desfiando esperanças.
O Rio é maior que a gula do Tempo
no andar calmo de seu corpo espesso
devorando ilusões.
O Rio confronta a sede do rio
e morre aos poucos dentro de nós.
Marinha
O peixe ofusca no andar ligeiro
malhas e fendas
soantes ao grito.
Nas veias percorrem
salinas sopradas
de fé e angústia...
Não se poluem as conchas paridas
dos ventres de areia,
obtura-se apenas o asco
no dente voraz.
O mais é sereia cantando
às rosas do mar.
Poema
Os cães devoram os mares,
deixando o fardo da esperança
dos pássaros de plumagem muda,
devoram asas
que buscam no ombro de muitas nuvens
a ceia do sono.
Os mares por fim adormecem
na morte ocasional de poetas
que emigraram da lembrança dos pássaros.
Página publicada em dezembro de 2019
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