JOÃO CARDOSO DE MENESES E SOUSA
( BARÃO DE PARANAPIACABA )
(Santos, 25 de abril de 1827 — Rio de Janeiro, 2 de fevereiro de 1915) foi um poeta, jornalista, advogado, tradutor, professor e político brasileiro.
Filho de João Cardoso de Meneses e Sousa, formou-se em 1848 pela Faculdade de Direito de São Paulo, residiu alguns anos em Taubaté, onde foi professor de história e geografia. Depois exerceu advocacia na corte no Rio de Janeiro, até 1857. Então entrou para a repartição geral da fazenda, onde exerceu diversas funções no Rio, São Paulo e Pernambuco. Foi deputado por Goiás, de 1873 a 1876.
Estreou na literatura aos 17 anos, com o "Cântico do Tupi". Publicou seu primeiro livro em 1849, a "Harpa Gemedora", coleção de poesias, um volume de 112 páginas, edição da Typ. de Costa Silveira, em São Paulo. Também publicou um opúsculo, "O Christianismo", em São Paulo, na Typ. de Azevedo Marques (o Dic. Bibliográfico de Inocêncio Francisco da Silva não informa a data). Traduziu, verso por verso, recebendo muitos encômios, o "Oscar d'Alva", poema de Lord Byron, que saiu impresso na Typ. de Paula Brito, no Rio, em 1857. E também é estimado tradutor de "Fábulas de La Fontaine", 2 volumes, no Rio, em 1886.
Recebeu, por Decreto Imperial de 8 de maio de 1883, o título de Barão de Paranapiacaba. É recipiente da comenda da Imperial Ordem da Rosa.
Fonte da biografia (abreviada): Wikipédia
“Mesmo que não tenha, pois, mérito primacial, a poesia do Barão de Paranapiacaba, do tempo em que ainda não era Barão, mas apenas João Cardoso de Meneses e Sousa, ou resumidamente João Cardoso, como lhe simplificavam por vezes o nome, não deixa de interessar á historia literária, como documento capaz de esclarecer determinados pontos de nosso romantismo, então a se formar. Da lavra de João Cardoso é o melhor relato, que nos chegou, de poesia "pantagruélica" ou "bestialógica" dos acadêmicos de Direito de São Paulo, poesia essa na qual ele próprio brilhou, ao lado de Bernardo Guimarães, e que teria conseqüências no romantismo. A par disso, João Cardoso foi dos primeiros cultores de nossa poesia "americana" ou indianista; um dos primeiros byronianos de São Paulo, como o demonstram a data em que traduziu o "Osear of Alva" de Byron, as epígrafes de A Harpa Cernedora, o testemunho de Pires de Almeida e certos ingredientes byronianos que se espelham em seu livro inicial; finalmente, urna influência incontestável, tanto no ramo elegíaco, como no indianista (talvez ainda no de sua poesia bíblica) e, também, um elo na formação dos poetas românticos da segunda geração, a patentear, em sua linguagem, o influxo de Firmino Rodrigues Silva e de Joaquim Norberto. Teve, assim, "alguma vibração original na quadra juvenil", mas depois se tornou, como bem percebeu Antonio Cândido, “um “poeta árido e rotineiro”. “
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SOUSA, João Cardoso de Meneses e (Barão de Paranapiacaba). Poesias escolhidas. Introdução, seleção e notas de Péricles Eugênio da Silva Ramos. São Paulo: Conselho Estadual de Cultura – Comissão de Literatura; Imprensa Oficial do Estado, 1945. 174 p. (Coleção Poesia, 7) 13x18 cm. “ João Cardoso de Menezes e Sousa “ Ex. bibl. Antonio Miranda
CORAÇÃO MORTO
Oh! Morto o coração, quão triste é a vida!
DR. A. J. RIBAS
Que me resta dos gozos do passado?
Uma por uma, as ilusões murcharam;
Saciado de amor, já não me afagam
Sonhos, que outrora a vida me embalaram.
Amei com todo o anelo e forças d'alma,
Ao despontar da aurora da existência;
Era um amor do céu, velado ao mundo
Pelo sagrado pálio da inocência!
Veio o gelado sopro do deleite,
Essa divina flor crestar no agraço.
Fugiste, anjo do amor, batendo as asas
Para as etéreas regiões do espaço.
Se hoje do extinto amor brilha um reflexo
No coração, que lânguido palpita,
É como a luz da moribunda chama,
Que numa pira fúnebre crepita.
A UNS OLHOS
O que no azul fulgura
Cruzeiro sideral,
A luz, que pouco dura,
Da estrela matinal,
Os raios, com que esplende
O disco áureo do sol,
Se d'alva após, acende
Na esfera o seu farol.
O brilho, que irradia
Nas amplidões do céu,
Quer nele impere o dia,
Quer abra a noite o véu,
Quanto, a luzir, cintila,
Imerge na penumbra,
Se vibras da pupila
Clarão, que nos deslumbra.
Tu da mulher primeira
Herdaste a luz divina,
Que virginal, inteira,
Conservas na retina.
À BERENICE
Eis teu vulto gentil em fino guache. Ao vê-lo,
Que júbilo suave o coração me agita!
Aos olhos, cuja luz nenhum pintor imita,
Falta a meiga expressão, que anima os do modelo.
Apanharas, na pose, em flácido novelo
A trança. Ei-la que, a flux, do pente regurgita,
Rola-te pela espalda e ao chão se precipita,
Osculando-te os pés, a onda do cabelo.
Do peito resvalou-te alvo lilás. Guardei-o,
E abri-lhe, carinhoso, um conchegado ninho
Em nosso relicário, a trasbordar de cheio.
Perdeu aroma e viço a flor nesse escaninho;
Mas inda nela aspiro eflúvios de teu seio,
Que a neve lhe ofuscou da tez no cego arminho.
Caxambu, 1873.
O último terceto, carregando em nomes exóticos, como o do vento cansim, Tifon (outro modo de dizer Set, o deus), Tebas, Ramsés e Amon, ostentando aliterações pouco discretas (v. 12 —
Quan - can - que; tra - Ti; do - de; o - or), bem como aparatosa não repetição de vogais tônicas (no mesmo verso; an - - u - im - é - on), dá uma impressão de coisa feita, de "enchimentos" não muito distantes da poesia "pantagruéllca" (que este soneto não aspira a ser).
Página publicada em agosto de 2009
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