JÉSUS GONÇALVES
(1902 - 1947)
Jésus Gonçalves (Borebi, 12 de julho de 1902 - Itu, 16 de fevereiro de 1947) foi poeta, músico e espírita divulgador da doutrina durante fase crítica de sua doença, a hanseníase.
Jésus Gonçalves paulista da cidade de Borebi. Teve vida de dolorosos resgates. A par da pobreza material e da morte prematura de entes queridos, aos 28 anos de idade manifestou-se nele o mal de Hansen, isolando-o da sociedade. Um único livro (póstumo) existe, de sua autoria, FLORES DE OUTONO, porém de muito interesse, pois nele estão inseridas três fases de sua poesia: a materialista, quando questionava desesperado e revoltado o porquê de sua prova¬ções; a espiritualista, quando encontrou Jesus pela chave do Espiritismo; e, finalmente, a além-túmulo, que nos chegou através da mediunidade de Chico Xavier. Jésus Gonçalves desencarnou em Pirapitingúi, após ter lá semeado amplamente a Doutrina Espírita. (texto extraído da obra compilada por Dora Inconti)
INCONTI, Dora. Poetas diversos. (Espíritas) 2ª. edição. São Bernardo do Campo, SP: Edições Correio Fratern, 1999. 252 p. 14 x 21 cm Ex. bibl. Antonio Miranda
CONSELHO AMIGO
Meu irmão, que na terra se alimenta
Do pão amargo de cruéis labutas
Sem ver o fim das provas em que lutas,
Sem acalento e fé na alma sedenta.
Abeira-te como eu em dores mudas
Da Bondade de Deus que dessedenta
Toda ânsia de paz que brota lenta
Ao rastejarmos em estradas brutas.
E através da paciência que ilumina
E da alegria em meio às próprias chagas
Na fé renovadora de Jesus,
Encontrarás ao fim da dura sina
Como achei eu, após as minha mágoas,
O Lar Celeste te esperando em Luz!
ASCENSÃO
I
De vida em vida, de ilusão em ilusão,
A arrastar-se no pó dos próprios desenganos,
Vai a alma coberta de louros insanos
Arrancados do sangue do próximo-irmão.
E os milênios se passam nas gotas dos anos,
Assistindo calados à vil sucessão
Dos mesmos aleijões fatais da involução,
Sem que a alma abandone os seus cruéis tiranos.
Porém existe um “basta” ao clamor da maldade
E quem no-lo impõe é a sábia Lei Divina
Que no Universo, o Bom vencedor determina.
E chega a grande mestra, a dor-necessidade,
A dor-humilhação, ferimento, doença,
Aprimorando a Alma e matando a Descrença!
II
E nos caminhos sinuosos de tortura
Em que vagam somente a treva e a solidão
Tem o ser seu calvário de lenta ascensão,
Pois pouco a pouco de seus erros se depura.
Pela porta apertada, em regeneração,
Encontra a todo instante, a cada desventura,
A exigir-lhe reparo, em reprimenda dura,
O credor infeliz que não tem compaixão.
Mas se a tudo resiste com ânimo forte
E se busca em Jesus o consolo da paz,
No luminoso Amor que todo mal desfaz,
Então vislumbrará além do umbral da morte,
A Recompensa do Perdão à sua miséria,
Em vestimenta de serena alvura etérea!
LUZ ESPÍRITA
Para as urzes de ásperas estradas,
Para aflições de um dolorido peito,
Para as misérias da prisão de um leito,
Para as mágoas que sangram disfarçadas,
Para a treva do crime e do despeito,
Para as almas em fel dilaceradas,
Das esferas de luzes recamadas,
Descem as flores do ideal perfeito!
O ideal que se estende e que se eleva
Unindo corações, secando o pranto,
Extinguindo da terra toda treva.
É o ideal fraterno e varonil
Do Espiritismo humano e sacrossanto,
Frutificando luzes no Brasil!
Poesia mística – Poesiareligiosa – Poesia espírita
Página publicada em dezembro de 2018
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