J.A. DE BARROS JUNIOR
ALMANACH LITTERARIO DE SÃO PAULO para o anno de 1884 publicado por José Maria Lisboa. São Paulo: Typorgraphia da “Provincia de São Paulo”, 1883. 263 p. 12x18 cm ( p. 58 ) “A. Ex. Biblioteca Nacional de Brasília, doação de Aricy Curvello.
QUE NOUTE!
A lua com um olho moribundo,
Envolta em grande nuvem funeraria,
Parece uma viuva proletaria,
Sonambula que vaga em céu profundo.
Uiva o cão de uma chacara no fundo
De fórma tão tristonha e mortuaria,
Como a voz da coruja solitaria,
Ou medonho phantasma d´outro mundo!
Notei depois à luz do lampeão
Um desgraçado filho da miséria
Roncando, embriagado, pelo chão.
N´esse fóco de luz tão deleteria,
Via a filha também... pediu-me pão,
Que noute n´este sec´lo da matéria!
Rio – Novembro, 1879.
Ibidem, p. 157
COUSAS DA CORTE
É de força a mulher! Sahe o marido
Váe logo p´ra janella namorar;
Entre tantos amantes a notar
Temos um felizardo mais querido...
É um bólas, pelintra e atrevido,
Passa no bond, pisca-lhe um olhar,
—Um signal para o ir logo esperar
Quando o marido à noute houver sahido.
E gaba-se depois o tal tratante,
Contando essas miserias sem córar,
As palavras até da propria amante!
O marido, coitado! Um pobre alvar
Vive entregue ao trabalho a todo instante;
Mas... um dia a mulher ha de chora!
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