IVES GANDRA DA SILVA MARTINS
(São Paulo, 12 de fevereiro de 1935) é um advogado tributarista e jurista brasileiro.
Atualmente é o presidente do Centro de Extensão Universitária, professor emérito da Universidade Mackenzie e professor honoris causa do Centro Universitário FIEO.
Membro da Academia Paulista de Letras, do Instituto dos Advogados de São Paulo da Ordem dos Advogados, secção de São Paulo.
De
PRETÉRITO IMPERFEITO
São Paulo: Pax & Spes, 1997
A LENDA DO COMEÇO APÓS
Eu sou aquele que nasceu do sempre,
Correndo terras e rasgando ventres,
Descortinando auroras cor de sangue.
Eu sou aquele que buscou o eterno,
Furtando sonhos e beirando o inferno,
Tombado, pálido e restando exangue.
Meu nome foi coberto de impropérios,
Minh'alma d'ilusão fez-se em mistérios
E tudo descobriu de uma só vez.
Cenários se alongaram pela estrada,
Que cobri, arrastando a dura espada,
De têmpera qu'igual ninguém já fez.
Eu sou aquele que enfrentou o mundo,
Que desventrou o abismo mais profundo,
Em silêncio translúcido de espaço.
Eu sou aquele que feriu a lenda,
Olhos cobertos sem nenhuma venda,
Que a vida corrigiu no próprio passo.
Assim eu descobri, todos meus versos,
No cinza das tormentas sempre imersas
Entre a sombra do tempo em vendavais
E nisto se resume a história inteira,
Daquele que seguiu a louca esteira,
Pelos mares dos campos siderais
9/7/86
1996
Um ano a mais tributa meu cansaço,
Tributo que mais quero que a anistia.
É que conheço um pouco deste espaço
E desconheço aquele d'outra via.
A luta que travei só valeria,
Num panorama posto noutro passo,
Capaz de vislumbrar no fim do dia
Um novo dia, intemporal e escasso.
A certeza, desfeita a dimensão,
Na incerteza de tê-la conquistado,
Faz-me aceitar a estranha imposição
E a esperança de vê-la do meu lado,
Retirando da lide o esforço vão
No cumprimento eterno deste fado.
02/01/96.
MARTINS, Ives Gandra. Cem sonetos. Desenhos de Adriana Florence. São Paulo: Pax et Spes, Escritório de Arte Adriana Florence Editora, 2006. 144 p. 21x28 cm. capa dura, sobrecapa e revestimento com polietileno transparente.. Col. A.M. (EE)
ÀS VEZES
As vezes nem tempo tenho
Para escrever uma linha
E o peso de estranho lenho
Traz a lembrança que tinha.
Às vezes curvo-me, lasso,
Sem esperança e sem nada,
Procurando um novo espaço
Para uma nova balada.
Às vezes, nem sei se, às vezes,
Vale a pena meu trabalho,
Mas continuo nos meses
Fazendo versos que espalho.
Às vezes paro espantado,
Sem ter você de meu lado.
19/01/94
( Do livro Intemporal Espaço)
MARTINS, Ives Gandra da Silva. Cartas de Antanho. São Paulo: Editora Giordano, 2001. 21 p. 13x20 cm. “ Ives Gandra da Silva Martins “ Ex. bibl. Antonio Miranda
Carta segunda a Ruth
“Pas de nouvelles, Cherie."
Eis num verso a carta inteira,
Que se não fosse a primeira,
Em prosa viria a ti.
A vida é uma longa esteira,
Que por ali, por aqui,
Se pisada chora e ri,
Muda ao mal, mas sem barreira.
O Bem lá morando à beira,
Quando chamado sorri,
Nada mais. Foi o que eu vi.
E findo à moda caseira,
Estamos na quarta-feira,
“Pas de nouvelles, Cherie."
Página publicada em fevereiro de 2009, ampliada e republicada em agosto de 2012.
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