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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 



ISAIAS ZUZA JR.

 

Nasceu em São Paulo em 1977. Cursou Artes Cênicas na Faculdade de Artes do Paraná e Letras na Universidade Estadual Paulista. É professor e ator. Possui poemas editados em algumas antologias e publicou seu primeiro livro, Fúria devagar, em 2004, pela Câmara Brasileira de Jovens Escritores. Além disso, publica em sites na internet e em seu blog: http://metrezuza.blogspot.com/

 

 

Poema-mundo

 

Vou formando seres de ruas, praças e colégios

sempre acompanhando homens de negócios

numas conversas de que mundo é um papel

noticiando a gente na guerra, nós de correr dias...

 

Eu e você, mundo com agulhas a costurar

o vai-vem da bola rolando, da bola voando,

uma novela que se desenrola na perfuração

do novelo da terra cheia de petróleo e gás...

 

Porque meu destino é relevo de passagem,

trago comigo a percepção por toda matéria

desde o tocar só por ser, ao sentir que tudo

em minhas mãos é de areia, centelha de explosão.

 

 

Perdida

 

Abro os braços para o espaço

de abrir e fechar a vida,

fazer do momento um traço

do que faço ser mantida.

 

Corro ao encontro do desenho

num corpo em linhas retas,

não tenho parada, eu venho

nas curvas, nunca nas setas.

 

Faço do olhar instrumento,

meço e perco as medidas,

faço círculo no vento.

 

Assim sou eu, quase um vulto,

aquela entre as perdidas,

no meio do povo em tumulto.

 

 

Conveniência

 

Convém dizer que os sonhos não morrem,

mas que são povoados de figuras sem paisagem:

como trouxesse numa fita um recorte, morro somente

por aquilo que quero morrer, pelo desejo de perda

e desejo de posse tanta, por aqueles que morrem.

 

Existe na escuridão da linha em branco passagem,

feita de traço, formando no poema acidente,

construindo a razão e a função de todos os sucessos

que passam por nós e nos tocam com azar ou sorte

os sentidos e a alma, do fio do cabelo à boca do estômago.

 

E o que fazemos, e o que deixamos, é um sonho para ser

aperfeiçoado em figuras em série, de paisagem branca

recorte de traço, morte de tudo, como num ciclo

semente de vida, mero acidente, seqüência de ganho

mais sonho de perda, passagem sem linha e dizer de posse

pois convém dizer que os sonhos não morrem jamais.

 

 

O amor dos poemas

 

Tira, teu coração

é fardo tão leve —

eu tive o meu

tão puro e massa

dura —toma, é tudo

o meu tombo de castelo

no que tenho medievo

canção de gesta, amigo

e de amor resta

 

que te guardo cancioneiro

que te guardo um dia tido

e nenhum dia verdadeiro.

 

 

Dissertação de um anjo maldito

 

Virei uma noite ao som de vozes e de cantos peregrinos

para entender que a uma falta tenho motivos de presença

tanto que me invade tua imagem , pois espero chegar só e

calmo, depois de cansar você eu de pensar tanto e dormir.

 

Eu que não morri de dores e não morri de fogo, caminhei

nas águas que trazem às praias os corpos de gente afogada

e escutei as estrelas, e escutei o deserto e a saudade alheia,

a saudade dos homens de tudo o que os fazem fabulosos...

 

A viagem dos que vivem é um passo dos olhos, outro passo

no tempo que vai longe, fazendo mover o corpo ao que se

vai sem rumo, num querer esquecer a morte que os espera.

 

Quando a batida do coração se esvai, e cai a noite, e as asas

dum anjo batem, já não mais é pulsar de leveza e vida, caem

os vivos na terra dos transeuntes, enterrados em valas comuns.

 

 

A natureza humana

 

Pedaço de fogo e brasa de pau

brisa de água e mar de tornado

tuas chamas queimam minhas enchentes

tuas florestas afogam meus fôlegos.

 

A natureza mata a natureza

mas na larva vulcânica

de encontro às flores

a natureza cria a natureza.

 

De morte e de vida assim a tenho

sem saber quem morre primeiro

e quem fica sozinho no mundo

 

que o homem sem natureza é nada,

sem floresta não tem respiração

sem renascimento não existe encontro.




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