INÊS FERREIRA DA SILVA BIANCHI
nasceu em 1953 em São Paulo, filha da poeta Dora Ferreira da Silva e do filósofo Vicente Ferreira da Silva, passou a infância e a adolescência na casa da rua José Clemente, 324, onde se reuniam artistas e intelectuais paulistas, que lá iam para ter aulas com Vicente ou participar de leituras poéticas e de grupos de estudo com Dora. ali o ofício da escrita em geral, e da poesia em particular, se presentificou em sua vida, e aprendeu vendo, escutando, lendo, respirando a literatura que a cercava, incorporada ao seu universo pessoal de forma absolutamente orgânica, formou-se em psicologia pela PUC-SP em 1978, trabalhando como psicoterapeuta até 1998, quando se mudou com a família para Ilhabela. em 2002, participa da fundação do Espaço Cultural Pés no Chão, Oscip voltada ao desenvolvimento sociocultural da comunidade local, lá trabalha até hoje como redatora, assessora de imprensa e na elaboração de projetos sociais e culturais que mantêm a organização.
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BIANCHI, Inês Ferreira da Silva. O olho do girassol. (poemas) Prefácio: Enivalda Nunes Freitas e Souza. Posfácio poético: Dora Ferreira da Silva. Goiânia: Martelo, 2018. 80 p. (Coleção cabeça de poeta, 14)
13 x 19 cm. ISBN 978-85-68693-16 Ex. bibl. Antonio Miranda
O olho do girassol
Desperta girassol!
O dia expulsa a neblina
e o mundo é quase certeza
mesmo sem as asas azuis.
Sai a canoa com destino certo
sem destino só os sonhos
mosaico tardio à deriva.
Desperta girassol!
Abre teu olho que a gaivota passa
abre teu olho que o silencio dorme
no poço inerte do tempo sem luz.
Vinga a morte das mariposas
vence a rebeldia das pedras
cavaleiro andaluz pólen de fogo.
Maestro do dia tua alma flutua
entre as hastes coroadas reina solitário
passageiro do relento - dançarino girassol.
A plateia espera que se cumpra a sina
a pluma ao vento aguarda teu vir a ser
a vaca paciente já rumina o parto
ouro nascente - poeta girassol!
Partitura
Guardo provas de vida nos bolsos
folhas secas de um passado recente
tickets de supermercado
pedras de lugares que nem sei.
O mais importante está invisível
num alforje sem pátria
em estado de música.
Noite
As estrelas eram olhos
e o mundo um céu negro
avesso a indagações.
Por mais que esticasse o braço
tocava só a distância
da falta de compreender.
O dia trazia alento
trégua ou esquecimento
de que ela voltaria,
envolta no véu escuro
inquisidora criatura
testemunha do não ser.
Alimentava formigas
contava pétalas
bebia a luz do dia
como se pudesse retê-la,
mas a vida emagrecia
na cintura da ampulheta.
E como sempre estivesse lá
imersa na penumbra
sorrateira e vegetal,
trançava fios de seda
estrume e folhas secas
de meu casulo final.
Página publicada em abril de 2019
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