HORACIO COSTA
Textos em português e alemão
Trad. Gerhard Falkner
História Natural
Detrás do taxidermista, há a palha,
detrás do rinoceronte, a savana,
detrás desta escritura só a noite,
a noite que galopa até o fronte.
Na asa da mariposa assoma a lua,
na cabeça do alfinete brilha o sol,
nestas linhas reverbera um sol negro,
o astro que ora sobe no horizonte.
O animal dissecado da sintaxe
provê o verbo, o bastidor e a legenda
duma coleção mais morta que os mortos.
No gabinete de história natural
o visitante-leitor detém-se face
a mamíferos e insetos reluzentes.
(De Quadragésimo, 1996)
Naturkundliche Vitrinen
Hinter dem Präparator steht das Stroh,
hinter dem Rhinozeros die Savanne,
hinter der Ecriture kursiv nur die Nacht,
die Nacht, die vorwärts stürmt an die Front.
Auf dem Flügel des Nachtfalters erscheint der Mond,
auf dem Kopf der Stecknadel schimmert die Sonne,
auf diesen Zeilen funkelt eine schwarze Sonne,
das Gestirn, das aufscheint an den Horizonten.
Das von seiner grammatikalischen Ordnung gelöste Tier
liefert das Verb, die Kulisse (und die Beschriftung
eines Satzes von Exponaten, die toter sind als die Toten.
In den naturgeschichtlichen Kabinetten
stockt dem Besucher und Leser der Atem
vor den Säugern (tieren) und den leuchtenden Insekten.
O Retrato de D. Luís de Gôngora
cara de vampiro, nariz boxeado pela vida,
stiffness, teu legendário orgulho desmesurado,
sem ironia ou sorriso a boca nos cantos desce,
não vejo tuas mãos, estarão escrevendo,
estarão manipulando o ábaco da sintaxe,
preocupado te vejo em encontrar tesouros
dormentes, na folha branca brilham larvais,
e já fixos me perfuram teus olhos de esfinge,
que imitam tuas orelhas em leque, teu manteau
absoluto, mole de lã ou veludo, sempre Diretor
dum hospital barroco antes do Grand Renfermement,
para quem posas, cantas o Esgueva do pensamento
dos teus contemporâneos, o radical suspiro da Natureza
em cio profundo, linguagem láctea, campo blau,
e me avalias, por fora Ácis, por dentro Polifemo,
assim é o mundo Dom Luís, para mim estás posando,
pré-kafkiana barata insigne vai de ante em ante-sala,
paciente expõe seu elástico decoro enfático, tanto
tens que suportar, por fora Hyde, por dentro tão menino,
pois és menino e para lá da moldura deste quadro
como os negros falas –é de noite que em pérola
se transforma a banalidade, e tua calva preenche
o céu, cede o vazio, e tua palavra uma berceuse escapa.
(De Satori, 1989)
Das Porträt des D. Luis de Góôngora
Vampirgesicht, eine vom Leben verpasste Boxernase,
steifer Charakter, plus legendärer, maßloser Hochmut,
ungebrochen von Ironie oder Lächeln hängen die Mundwinkel herab (durch)
die Hände sieht man nicht (sind nicht zu sehen), vermutlich schreiben sie,
betätigen die Rechenschieber der Grammatik,
ganz vertieft sehe ich dich schlummernde
Schätze heben, auf dem weißen Blatt erscheinen sie wie Larven,
und durchdringend fixieren mich deine Sphinx-Augen,
um mit deinen aufgesperrten Ohren gleichzuziehen, dein kolossaler
manteau , kursiv aus weicher Wolle oder Samt, ganz der Vorsteher
einers barocken Heilstätte vor dem Grand Renfermement
für wen stehst du hier eigentlich Modell, besingst du den stinkenden Fluss
zeitgenössischen des Denkens, das rasende Aufstöhnen der Natur
in höchster Brünstigkeit, die Galaxis der Milchsprache, ein blaues Wappenfeld ,
du musterst mich kritisch, außen Akis, innen Polyphem,
aber so ist das Leben, Don Luis, für mich stehst du Modell
eine vorkafkaische, hochbedeutende Kakerlake, die von Vorzimmer- zu Vorzimmer
kriecht, die geduldig ihre belastbare und eindringliche stilistische Kohärenz
unter Beweis stellt, so vieles musst du wegstecken, außen Mr. Hyde, innen noch so sehr Kind,
ja, du bist echt ein Kind, und jenseits dieses Bilderrahmens
sprichst du wie die Neger – Nachts , nachts bei Dunkelheit, verwandelt sich deine Naivität
in eine Kostbarkeit, und deine kahle Stirn umfasst
den ganzen Himmel, die Leere tritt zurück, und deine Worte werden Wiegenlied.
Cuneiforme
Continuo “imerso em mim e
na água dos meus pensamentos”, mas me interessa
mais do que eles esta praia e mais do que ela em si
a presença das três garças pequenas, brancas
e de olhos amarelos e agourentos e talvez
jovens, que por sua vez muito mais me interessam
do que tratar de compreender alguma “jeune parque”
cujos desígnios -não há porque negá-lo e mais a esta altura-
sempre foram para mim para sempre desconhecidos
não: incognoscíveis. Fiai o que quiserdes, na suave companhia
de vossas viscosas irmãs: confesso que vivi entremeado
a tais fibras o que pensei ter querido e o que
vossa caprichosa e parcíssima escolha nelas soube
mais do que sorrateiramente, incognoscivelmente entremeter.
Ainda, e por falar nas palmípedes três,
convenhamos: atraem-me mais os olhares e a alma
que os oito nada discretos cavalheiros que observo
enquanto as observo, desnudos todos frente ao mar,
ao abrigo entre as pedras deste reino naturista,
no Abricó (diga-se o lugar, pois), Recreio dos Bandeirantes,
Rio de Janeiro, Brasil. Hoje
a praia está ampla, o mar turbulento do outono
perde agora em sua cotidiana labuta
contra a areia. Regozijemo-nos.
Os nudistas, sem dúvida, mais do que
as graças, digo, as garças, me interessam:
enquanto observo estas e penso naquelas (Maillol,
volta ao Museu, não me ocupes neste instante),
confiro se alguém há em ereção, ou se algum par
de casuais amantes neste instante se retira da areia
para esconder-se ainda mais entre as grandes pedras
por líquens cobertas e coroadas por bromélias
e por cujos dorsos escorrem suculentas como sêmen
natural, para dedicar-se, ora está óbvio,
a uma não menos natural seção de homo-sexo,
nefanda segundo o vulgo e, aqui, sur mer,
nada, nada surpreendente:
ninguém que proclividade afim não professe
a esta praia vem, e mais num dia de mar-alto
e vento não tépido, frio, e mais: constante.
Somos previsíveis como a presença das garças
que na extensa língua de areia escavam os seus pitéus.
Os meus são esses que se aninham entre as pedras
por um tempo variavelmente curto ou longo
e que menos do que as garças,
que não as graças e suas parcas primas,
me interessam. Há pouco disse o oposto
e agora percebo tal estratégia do dizer,
que como é sabido muito fingem os poetas
e, por que não, também neste inconclusivo texto
(falso: basta de mentiras).
Também nas duas extremidades visuais
há costões ao oceano expostos:
perfazem algo como um enorme anfiteatro
no qual de fato nada acontece: aqui há monólitos
quase a pique e tão gigantescos que a linha da estrada
em sua silhueta desaparece, quando vistos à distância.
Este é o Mar dos Atlantes num cenário deles digno:
aqui poderiam engalfinhar-se em sua guerra. Mas não.
A ele voltei já faz um tempo, e tanto como à dita
“água do meu pensamento” (já não sei o quanto
nela há de verdade ou se a emana caso exista:
água lustral ou mero torvelinho liqüefazente?
E existirá de fato? Em caso positivo,
nela prossigo imerso ou naufragante?).
Há vinte e cinco anos, em Santa Bárbara, em
outro poema, houve falésias, e um convite que jamais
faria de novo a alguém, nem às garças nem às graças,
nem a nenhum sequer amante: já mais. Je vous en jure.
Minha viagem pela matéria hoje é solitária.
Observo
novamente
as ditas garças.
Sobre a areia em trânsito para o mar
ainda me obceca a impermanente escritura cuneiforme
dos tatibitates pèzitos das gratuitas
aves.
(De Ravenalas, 2008)
Keilschrift
Ich bin wie stets in mich versunken
ins (im) Meer meiner Gedanken, aber mehr als dies Meer
beschäftigt mich sein Strand, und mehr als sein Strand
beschäftigen mich die drei kleinen Reiher, weiß
mit gelben, stechenden Augen, Jungvögel
vermutlich, die mich wiederum erheblich mehr beschäftigen
als mein (der) Versuch, irgendeinen dieser „Jungen Parzen“ zu begreifen
deren Absichten, warum sollte ich das leugnen
mir für alle Zeit fremd bleiben werden
ja geradezu unbegreiflich. Glaubet, was ihr wollet, in der reizenden Gesellschaft
euerer fadenspinnenden (webklebrigen) Schwestern, ich bekenne, dass ich selbst in den Spinnweben(Faden)
gefangen (gesponnen) habe, was ich glaubte zu lieben und was
eu (e) re Laune und Geiz mir durchs Hintertürchen
untergeschoben und zuteilwerden ließen
Und da wir gerade von diesen drei flossentragenden (schwimmhäutigen) Vögeln sprechen
(na iss doch wahr) ((aber echt!)) bekenne ich außerdem: Mmich verlockt ein Blick oder eine Seele weit mehr
als diese acht alles andere als keuschen (anständigen) Kavaliere, die ich im Blick habe
während ich die Vögel im Blick habe, alle durch die Bank nackt, alle den Blick aufs Meer
gerichtet, halb verdeckt von den Felsen des FKK Strands von Abricot,
(nennen wir (ruhig) das Kind doch ruhig beim Namen) Recreio dos Bandeirantes
Rio de Janeiro, Brasilien. Heute
ist der Strand richtig breit, das herbstlich aufgewühlte (Herbstm) Meer
verliert gerade seinen tagtäglichen Kampf gegen den Sand. Hallelujah! (Lasset uns freuen!
Gelobt sei der Herr. )
Die nackten Männer, soviel steht fest, interessieren mich weitaus
mehr als die Grazien, will sagen: die Parzen, will sagen, die grazilen Vögel.
Wwährend ich auf die einen blicke, blickt (gilt) mein Blick auf die anderen) (Monsieur Maillol
bitten mal weghören, von dir ist gerade gar nicht die Rede)
checke (spanne) ich, ob vielleicht einer einen Ständer hat oder ob ein Paar (Pärchen)
lockerer Liebhaber (Lover) sich gerade aus dem Sand macht
um sich ein bisschen zu verstecken zwischen den großen, von Flechten überzogenen
und von Bromelien gekrönten Felsen, über deren Rücken Sukkulenten
wie natürliches Sperma herabfließen, und sich, ganz offensichtlich,
dem genauso (nicht weniger) natürlichen Akt des gleichgeschlechtlichen Liebesglücks hinzugeben,
der Volksmeinung zufolge zwar schändlich, aber hier, sur mer,
etwas ganz und gar unbefremdliches:
Kkeiner, der mit dieser Art von Sex nichts am Hut hat, begibt sich
(hier) an diesen Strand, erst recht nicht bei Flut und einem so wenig milden,
kühl bis kalten, vor allem aber: ununterbrochenen (ständigem) Wind.
Uns aber trifft man hier so todsicher wie die Reiher
die auf der langen Strandzunge nach Leckerbissen fischen (jagen).
Meine Leckerbissen (sind) eben die, die sich zwischen den Felsen verbergen
mal für kürzer, mal für länger
und die mich viel weniger als die graziösen Vögel,
die weder die Grazien noch die geizenden Parzen sind,
interessieren. Aber gerade eben habe ich doch noch das Gegenteil behauptet?
Mit einem Male verstehe ich die Taktik einer solchen Behauptung,
(denn, ) wie man ja weiß, Dichter sind Blender
also warum nicht auch hier, in diesem keine Schlüsse ziehenden Text
(Okaey, jetzt aber genug der Lügen).
Außerdem (Zum anderen) bilden die beiden vor uns liegenden (sichtbaren) Lands(S)pitzen der dem Ozean trotzenden Felsküste
so etwas wie ein gigantisches Amphitheater
auf dem sich nun tatsächlich überhaupt nichts abspielt: quasi senkrechte
Massive, die so gigantisch sind, dass die Linie der Straße,
aus der Ferne betrachtet, auf ihrer Oberfläche verschwindet.
Vor uns eine dem Wüten (Namen) des Titanen Atlas würdige Meereskulisse
vor der sie ihren Kampf noch einmal kämpfen (ausfechten) könnten.
Aber lassen wir das!
Schon vor einer ganzen Weile kehrte ich hierher zurück
ebenso wie zum besagtem „Meer meiner Gedanken“
(ich weiß schon nicht mehr, wie viel Wahrheit in ihm steckt oder ob
es die Wahrheit überhaupt gibt, die es verströmt: wie Fruchtwasser
oder einfach nur als zerfließende Strudel?
Ob (Falls) es dieses Meer überhaupt gibt. Wenn ja,
treibe ich dann (in mich) versunken in mich oder ertrunken im Meer (ertrunken dahin) ?)
Vor fünfundzwanzig Jahren in Santa Barbara, in einem
anderen Gedicht, gab es ebenfalls solche Felsen Klippen und einen Antrag,
wie ich ihn nie wieder jemand machen würde, weder den graziösen Vögeln, noch den Grazien,
noch irgendeinem Lover: nie wieder. Gosh! Je vous le jure.
Meine Reise durch die Materie ist heute eine einsame.
Mein Blick wandert
erneut
zu den besagten Reihern.
Auf dem Sand vom Strand zum Meer
fasziniert mich weiterhin maßlos die zerrinnende Keilschrift
der planlos umhertapsenden Füße
jener grundlos anwesenden grazilen Vögel.
Gerhard Falkner / Horáacio de Costa
APHRODITE
Aphrodite, auf deren Wink hin sich die Tiere paaren
mit Schenkeln wie aus bestem attischen Gestüt
und in Gewändern wie von Botticelli übergossen
(die im Gekräusel ihre Wallung widerspiegeln)
Aphrodite, wie im Tanz, inneren Impulsen
von Kampf und Kühnheit folgend, von Rock´n´Roll
tritt dem Giganten, dessen Schönheit selbst den Marmor
aus der Fassung bringt mit der Sandale in die Kehle
wie einem erschlagenen Hund, um ihm die Lanze
wie im Tanze aus dem Leib zu ziehen, man denkt sich
Perseus hätte diese Schenkel brauchen können
als die Gorgonen ihn verfolgten, wenn man nicht bedenkt
dass Perseus eben diese Schenkel hatte, vom Rock´n´Roll
das ganze Geheimnis liegt immer in den größeren
Zusammenhängen, die Frauen, die als Göttinnen den Fries
durchkämpfen sind den Männern gleichgestellt an Kraft
nicht jedoch an Schönheit überlegen
(ein großer griechischer Gedanke!)
AFRODITE
Afrodite, a cujo sinal os animais se acasalam
coxas como dos melhores estábulos da Ática
panejamento líquido à la Botticelli
pregas que traduzem inquietude
Afrodite, que segue como numa dança impulsos interiores
de luta e audácia, de rock´n´roll
pisa com a sandália o pescoço do gigante
cuja beleza perturba até o mármore
como se fosse um cão morto a pauladas
para dançando arrancar-lhe do corpo a lança
e pensamos que Perseu teria precisado de umas coxas dessas
quando perseguido pelas Górgonas, se não soubéssemos
que ele dispunha exatamente de tais coxas de rock´n´roll
Todo o mistério está nos âmbitos
maiores, as mulheres que, deusas
lutam pelo friso inteiro
são iguais aos homens em força
mas não superiores em beleza
(uma grande ideia grega!)
ARTEMIS
Nie wieder ist ein Körper so ans Licht getreten
wie der, den Artemis, von rechts
ins Kampfgetümmel steigend
aus sich herausholt. Er entspringt. Er bejubelt
sich und seinen Schwung -
Das Kleid ist außer sich vor Falten
Der Wulst, mit dem es unter ihrer Brust gehalten
macht den Marmor weich und lässt ihn fließen
(kein Blutvergießen, nur der Sieg, es geht um alles)
Ihr Knie berührt den Hund, der um sie kämpft
in delikater Weise
Ein Knie, das jedes Knie der Welt
in Schatten stellt
Ein Knie, das sich vollendet fortsetzt in der Wade
–- alles wie gemeißelt, die Sandale, mit der sie
ihren Fuß auf einen überwundenen Gegner setzt
ihn niedertritt
Kill Bill, gespielt von Himmlischen, (Götterkino)
die Torsi torkeln von der Wucht des Schönen
und jeder Lücke stockt der Atem
wie Schönheit so und Schock sich hier versöhnen
ARTEMISA
Nunca mais um corpo emergiu assim à luz
como aquele de Artemisa que
ao entrar pela direita
na agitação da batalha
dá o máximo de si. Nasce.
Exulta consigo próprio e
com o seu impulso
O vestido está doido de tanta prega
a faixa enrolada debaixo dos seios
amolece o mármore e torna-o flúido
(sem carnificina, apenas a vitória:
tudo em jogo)
O joelho roça no cão, que luta por ela
de forma delicada
um joelho que ensombrece
qualquer joelho do mundo
um joelho que se prolonga de forma perfeita
até a panturrilha
– tudo como cinzelado, a sandália, com que pisa
um adversário vencido, espezinha-o
Kill Bill, representado por seres celestes (cinema dos deuses)
os torsos cambaleiam devido ao ímpeto do belo
cada vazio tem a respiração cortada
porque a beleza e o choque assim se reconciliam
KYBELE AUF DEM LÖWEN
Es ist irre
wie eins ins andre übergreift
wie dort ein Gott auf einen Stierkopf
sich versteift, da ein Arm / noch warm
in seine Rüstung greift
während alles andere schon stürzt
irre, wie der Marmor sein Gelände
in die Länge zieht
damit ein Löwe, wie auf Drogen, die Kybele (berüchtigt
für ihre rasende Eifersucht
und eben erst aus Ephessus,
man könnte sagen: eingeflogen)
ins Getümmel reitet
wie sich die Fragmente
in den Pausen, die der Marmor macht
zu Impulsen verdichten, zu Rhythmen,
wie die zerbrochenen Glieder ihre Lücken
überbrücken und das Ganze
in ein olympisches Orchester mündet
nach allem, dieser Frische, dieser jugendlichen Kraft
wäre es sicher angebrachter gewesen, die Götter von damals
hätten die Menschen von hHeute
ins Museum gestellt.
Das einzige Problem:
da wäre sicher keiner hingegangen.
CIBELE EM CIMA DE UM LEÃO
É uma loucura
como uma coisa encaixa na outra
como um deus fica ali obstinado pela cabeça de um touro
e um braço ainda quente
enfia a mão detrás do escudo
enquanto tudo o mais tomba
É uma loucura
como o mármore estica
a sua própria área para que um leão
bem doidão
leve Cibele às costas para o tumulto
(justo a Cibele, conhecida pelos seus ciúmes frenéticos
e que acaba de aterrizar chegada de Éfeso)
e como todos os fragmentos se condensam
em impulsos
nas pausas que faz o mármore
em ritmos
e como os membros partidos superam
as lacunas
e tudo desemboca em uma
orquestra olímpica
Depois disso
dessa frescura
dessa força juvenil
seria mais adequado que os deuses de então
expusessem no museu as pessoas de hoje
O único problema:
ninguém daria a menor
importância
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