POESIA ERÓTICA
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GLAUCO MATTOSO
SONETO III BIZARRO
Coprófilo é quem gosta de excremento.
Pedófilo só trepa com criança.
Defunto fresco em paz jamais descansa
nos braços do necrófilo sedento.
Voyeur assiste a tudo, sempre atento
ao exibicionista, que até dança.
O fetichista transa até com trança,
e o masoquista adora sofrimento.
Libido, pelo jeito, é mero lodo.
A sensualidade faz sentido
conforme a morbidez sob a qual fodo.
Não basta o pé, precisa ser fedido.
Se tenho de escolher, pois, um apodo,
serei um podosmófilo assumido.
SONETO 139 OROERÓTICO (OU OROTEÓRICO)
Segundo especialistas, a chupeta
depende da atitude do chupado:
se o pau recebe tudo, acomodado,
ou fode a boca feito uma boceta.
Pratica “irrumação” o pau que meta
e foda a boca até ter esporrado;
Pratica “felação” se for mamado
e a boca executar uma punheta.
Em ambos casos, mesma conclusão.
O esperma ejaculado na garganta
destino certo tem: deglutição.
Segunda conclusão: de nada adianta
negar que a boca sofra humilhação,
pois, só de pensar nisso, o pau levanta.
SONETO 673 FIMOSADO
Boquete especialista exige a estreita
fimose, pra que a glande não atrite.
A pele se arregaça até um limite
que a língua, na faxina oral, respeita.
Ao bico de chaleira se sujeita
quem chupa, sem direito a dar palpite.
Sebinho que no vão se deposite
vai sendo removido, e a boca aceita.
Bombeia a rola, lenta, sob o lábio,
abrindo-se o prepúcio no vaivém.
A mijo o sêmen sabe, e o sebo sabe-o.
Humilha-se uma boca muito além
da suja felação, e, até que acabe-o,
seu ato animaliza onde entretém.
SONETO 143 HIGIÊNICO
Se o orifício anal é um olho cego,
que pisca e vai fazendo vista grossa
a tudo que entra e sai, que entala ou roça,
três vezes cego sou. Que cruz carrego!
Porém não pela mão me prende o prego,
mas pela língua suja, que hoje coça
o cu dos outros, feito um limpa-fossa,
e as pregas, como esponja escrota, esfrego.
O “beijo negro” é o último degrau
desta degradação em que mergulho,
maior humilhação eu chupar pau.
Sujeito-me com náusea, com engulho,
ao paladar fecal e ao cheiro mau,
e, junto com a merda, engulo o orgulho.
Poemas pornográficos extraídos do livro POESIA DIGES 1974-2004. São Paulo: Landy Editora, 2004. Metadados: pornografia, poesia erótica, poesia pornográfica, poema pornográfico.
SONETO DOS DESCUIDOS CHULOS (1496)
Palavras são palavras... Se Chicago
é nome de cidade, sem falar
de Boston, Praga, Mérida, não cago
se chamo um nome sério de vulgar...
Se Bulhões de Carvalho eu batizar
a rua dum puteiro,nada vago
será o sentido dado. Esse lugar
do Rio sempre teve o pato pago...
Quem manda haver num nome som sacana?
Um cara de Timor chama Xanana,
não chama? E o mafioso era Buscetta!
Depois querem que eu seja cuidadoso!
Ou não me chamarei Glauco Mattoso,
ou gafes nada impede que eu cometa!
De
CENTOPÉIA
SONETOS NOJENTOS & QUEJANDOS
São Paulo: edições do acidene, 1999
ISBN 85-9000534-4-X
“Glauco satiriza tanto a falta de seriedade quanto a falsa seriedade: aí entram as vanguardas, o homossexualismo, as contribuições alheias, as ideologias, seu próprio trabalho. O poeta mete a língua na vida alheia, na língua alheia, na obra alheia, na dor alheia e na própria dor.
Glauco Mattoso é uma espécie de espírito maligno da poesia brasileira, que veio para avacalhar com a compostura e com a própria avacalhação, e para dar dignidade à dignidade e à sua falta”.
CACASO (1982)
2.10
SONETO NOJENTO
Tem gente que censura o meu fetiche:
lamber pé masculino e o seu calçado.
Mas, só de ver no quê o povo é chegado,
não posso permitir que alguém me piche.
Onde é que já se viu ter sanduíche
de fruta ou vegetal mal temperado?
E pizza de banana? E chá gelado?
Frutos do mar? Rabada? Jiló? Vixe!
Café sem adoçar? Feijão sem sal?
Rã? Cobra? Peixe cru? Lesma gigante?
Farofa de uva passa? Isso é normal?
Quem gosta disso tudo não se espante
com minha preferência sexual:
lamber o pé e o pó do seu pisante.
2.18
SONETO MASOQUISTA
Político só quer nos ver morrendo
na merda, ao deus-dará, sem voz, sem teto.
Divertem-se inventando outro projeto
de imposto que lhes renda um dividendo.
São tão filhos da puta que só vendo,
capazes de criar até decreto
que obrigue o pobre, o cego, o analfabeto
a dar mais do que vinha recebendo.
Se a coisa continua nesse pé,
Acabo transformado no engraxate
Dum senador qualquer, dum zé mané.
Vou ser levado, a menos que me mate,
à torpe obrigação de amar chulé,
lamber feito cachorro que não late
2.46
SONETO HINDU
Na Índia a felação é tão falada
que tem nos “Kama Sutra” um texto inteiro.
Lá diz que um servo, como chupeteiro,
resolve quando a fêmea não quer nada.
Me contam que na mais baixa camada
os cegos são mantidos em puteiro
e, em troca de comida ou por dinheiro,
batalham pra chupar gente abastada.
Queria fazer parte desta casta
e, além de chupar rola, ser forçado
a toda a obrigação dum pederasta:
Após ao superior o cu ter dado,
Ralar a língua vil na sola gasta
E suja (Vou gozar!) de seu calçado.
MATTOSO, Glauco. Desilluminismo. Goiânia, GO: martelo, 2016. 152 p. Projeto gráfico e capa: Lucas Mariano. 152 p.. ISBN 978-85-68693-12-4 Tiragem: 500 exs. numerados. Ex. bibl. Antonio Miranda
GOZO TENEBROSO [5057]
Um cego que se assuma desdictoso
mas versos faça á venda que lhe vende
os olhos, masochista idéa vende,
em livro, a seus leitores, que teem gozo.
Leitores que lerão Glauco Mattoso
tal como, persistente, ser pretende:
vendendo a vil imagem que se estende
por "desilluminismo" luminoso.
A scena que escancara o torpe bardo,
política nãos endo, nem correcta,
dar pode um termo ao cego: infelizardo.
Assim, "deshumanista", a sua meta
é sobrecarregar de foda um fardo
fodido, já, de sobra: o do poeta.
MÍNIMO MÚLTIPLO INCOMMUM [3192]
Que, mesmo os perdedores, com um cego,
são dignos de vencer, isso eu não nego.
Cegueira é impedimento para tudo:
viagens, espectaculos, cinema,
além do acceso a rede, ao "contehudo".
A graça da viagem é o que vemos.
Um show é só barulho sem a scena.
A tela, só com som, fica pequena.
Sem mouse, o transatlancio anda a remos.
Mas, como não é surdo nem é mudo,
o cego, que viaja no poema,
inventa o palco, a tela, o assumpto, o estudo.
Si quanto mais me isolo, mais me aggrego,
provei que, em verso, é imenso um reles ego.
MATTOSO, Glauco. Sonetos de campos. São Paulo: Lumme Editores, 2015. 128 p. 14x15 cm. ISBN 978-85-8234-091-2 “ Glauco Mattoso “ Ex. bibl. Antonio Miranda
CANAL ANAL [4680]
Achei muito engraçado! O narrador
do jogo, cauto, evita o palavrão
a todo custo. Hypocrita, diz: "Não!
Não pode! Que é que o ouvinte vae suppor?"
Mas abre o microphone e, quando for
captar do treinador uma instrucção
mais ríspida, se escuta: "Mais tesão,
caralho! Mais porrada! Mais suor!"
"No rabo! Faz tomar no rabo! Enraba!",
insiste, berra o technico. Ninguém
lhe barra a voz no radio. Elle se gaba:
"Sou toda! Sou fodão! Quem perde tem
mais é que se foder!" Depois vem, braba,
a voz do narrador: "Que feio! Eu, hem?"
MATTOSO, Glauco. Poesia vaginal. Cem sonnettos sacanas. São Paulo: Hedra, 2015. 227 p. Capa Julio Dui. ISBN 978-85-7715-401-2 “ Glauco Mattoso “ Ex. bibl. Antonio Miranda
GLAUCO é um caso perdido, ou um bom achado... depende do que se busca. Um Bocage ainda mais pornô e escatológico que o original. Com estilo e criatividade, flores do mal. Acaba de lançar mais cem poemas “clássicos”, de arrepiar os puritanos. Se não gosta, não se atreva... Antonio Miranda
SONNETTO DA FUTEBOLINA [1529]
Alem da puta simples, sem mania,
da "groupie", da Maria Gazolina,
também se faz menção à tal Maria
Chuteira, que commigo algo combina...
Só fico imaginando o que faria
quem usa dessa alcunha nada fina
a sós com algum craque que sacia
na dieta seus desejos de bolina...
É claro que as chuteiras lhe descalça
a puta, cuja pose não é falsa
na scena em que cafunga na canhota...
Não tenho a menor duvida que o craque,
embora um gol no campo não emplaque,
lhe mette o pé na bocca e o pau na xota...
SONNETTO SOBRE A DUPLA IDENTIDADE
[3021]
Como é que pode? Moça tão formosa
fazer algo tão sujo, que eu nem cito?
Como é que pode? Um cara tão bonito
cagar merda tão fétida e lodosa?
Os dois dão bella dupla, que bem posa
nas photos, o melhor casal descripto
nas notas sociaes, mas, sob o mytho,
percebo que nem tudo é cor-de-rosa.
Flagrei já, na privada, o que o rapaz
deixou sem dar descarga. E da menina?
Também cheirei, no vaso, o que ella faz.
Que horror! Que cagalhões! Que fedentina!
Irónico, hem? São lindos, elles, mas
s:e esquecem do que largam na latrina...
GLAUCO MATTOSO CORDELISTA...
Glauco Mattoso é um virtuoso, capaz de expressar-se em diferentes modalidades de poesia. Sonetos clássicos, canções de escárnio e maldizer, versos eróticos e até escatológicos, sempre com muita verve e criatividade. Agora aparece em duas “ pelejas” com cordelistas... Melhor, impossível, quando a maioria nos impõe textos banais, lugar-comum... Vejam alguns fragmentos... Vale a pena, melhor seria ler o folheto inteiro.
MATTOSO, Glauco; ACOPIARA, Moreira de. Peleja virtual de Glauco Mattoso com Moreira de Acopiara. S.l. : s.d. 2º p. 11x15,5 cm. Capa: Arievaldo Viana.
(fragmento)
GM – Vamos lá, mestre Moreira!
Já que havia me proposto,
topo entrar na brincadeira
e à peleja estou disposto,
mas desde que você queira
pisar mesmo no meu rosto!
MA – Sou um sujeito disposto,
nascido num chão silvestre;
meus versos são de bom gosto,
mas têm formato rupestre,
carrego um riso no rosto,
Mattoso, mas não sou mestre.
GM – Com modéstia não palestre
pro meu lado, que não creio!
Você cavalga; eu pedestre
serei sempre! Com receio
não venha, pois, e me adestre
sem reserva e sem rodeio!
MA – Eu adestra-lo? Não creio
que consiga tal façanha,
pois fui criado no meio
de gente pobre e tacanha,
embora sem fazer feio
no subir dessa montanha.
GM – Você está fazendo é manha!
Justamente porque vem
duma terra onde se apanha
de relho é que um “ mestre” bem
que aproveita e nem estranha
a sova dada em alguém!
MA – No Nordeste a gente tem
que trabalhar redobrado,
ser tolerante também
e caminhar com cuidado.
Lá quem não cuida bem
nuca tem bom resultado.
GM – Quem da vista está privado
com cuidado já caminha!
Mesmo assim eu fui pisado
quando estive na terrinha:
quanto mais eu me degrado,
mais o cabra me espezinha!
(...)
MATTOSO, Glauco. Peleja do ceguinho Glauco com Zezão Pezão. Autor: Glauco Mattoso. Campo Grande, PB: Editora Aboio, 2004. 20 p. 10,5x15,5 cm. Capa: Silas. Prólogo de Barros Toledo.(Literatura de cordel)
(fragmento)
Que se preze, um repentista,
Violeiro ou cantador,
Enfrenta seja quem for
Sem que da luta desista.
Poeta que perde a vista
Tem obrigação dobrada:
Além de encarar a estrada
E se impor na região,
Prova aos que têm olho são
Que aguenta vaia e risada.
No sertão, via de regra,
Forasteiro é valentão.
Vai o cego aonde estão
Seus rivais, e ali se integra
Ao povão, que mais se alegra
Vendo como o cabra arrosta
Qualquer desafio e aposta:
Só pra ter seu nome inscrito
Na lenda de autor maldito,
Bebe mijo e como bosta.
(...)
Página republicada em julho de 2015; ampliada e republicada em setembro de 2015. Ampliada em julho de 2016,
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