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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

GERALDO PINTO RODRIGUES

 

 

Poeta, jornalista e ensaísta nascido em Jardinópolis, São Paulo, em 1927.

 

 

 

A CONSTRUÇÃO

 

Aqui,

neste sítio ameno,

edifico o poema

sobre um chão de cardos.

 

E não construo em vão,

que em vão não constrói

quem,

aqui como em qualquer ermo,

pedra a pedra, dia a termo,

acrescenta ao pó da origem

o que  desgasta, fere e dói.

 

Nem guarda monto ao construído,

que nunca sei preciso o canto,

nem de pé ou terminada a obra.

Guardador sou, sim, do que é sentido,

não do canto, íntegro ou fendido:

 

Se por precário arrimo o verso greta,

edifico de novo, aqui ou em Creta.

 

                                      de VEIO E VIA

 

 

A ARANHA

 

 

Operária do invento,

a aranha constrói

sua casa ao relento:

 

Uma casa de rendas,

só de janelas,

vazia por fora,

vazia por dentro,

onde ela só –

aranha –

lavra seu tento.

 

Fio a fio, a prumo, tece

com argamassa de vento

e andaimes de pó.

 

Tece e inventa,

inventa e tece

no fio a prumo,

no prumo da casa

de janelas só.

 

No frio compasso

de quem descobre a vida

e enreda a morte.

 

                                      de VEIO E VIA

 

 

POEMA

 

 

Pássaro perdido em raaresia, te quero,

com teus seios de nêsperas e teu colo de safira.

Assim prenhe de rosas, te quero,

assim estranha e múltipla, não consentida,

assim tranqüila, dispersa em sonho,

fantástica e só.

 

 

E mais que por isso te quero,

ave de asa tonta,

corpo e forma do meu canto.

 

 

Boneca da infância esquecida,

eis que te quero.

 

                   de TEMPO INCONCLUSO

 

 

 

De
Geraldo Pinto Rodrigues

O PUNHAL DO TEMPO
São Paulo: Clube de Poesia de São Paulo,1978.  85 p.

 

 

         “Geraldo possui, como os poetas de prol, o pensamento contemplativo, a inteligência estética; faz-nos pensar, muitas vezes, num geômetra-virtuose que usa, ao mesmo tempo, do instrumento judicatório de uma lógica retilínea e de um sistema intelectivo das representações simbólicas, como no-lo fazem ver as cinco paralelísticas do segundo poema de O PUNHAL DO TEMPO:

 



Faz tempo que aportei aqui
nesta vida gorda, de algibeira rasa.

Peão de sonhos, pastor de auroras,
os reinos conquistados foram meus.

Vesti-me de certezas, de ousadias,
fui peregrino silente entre silêncios.

Meus cantares ecoaram nas planícies,
vibraram meu acenos noutros céus.

Se as tardes floresciam nos vergéis,
luzes ali ardentes se acendiam.

 

 

         Poema esse que nos revela o modus signicandi de Geraldo Pinto Rodrigues, atreito à força atuante de aglutinar os dois níveis: o do imaginário e o da realidade, sem que um predomine sobre o outro.”   CARLOS BURLAMÁQUI KÖPKE

 

 

18.                                                  

 

Contudo, por meus pés, sigo

compassando os intervalos dos meus ais

com os repousos das branduras iniciais,

 

Vou perseguindo rotas de corsários,

engordando arcas de sustos com meus saques,

singrando dias plenos aurorais.

 

Os próprios pés singram orvalhos

nas alvas das manhãs entressonhadas,

e pisam as urzes das noites ultrajadas,

torgas dos naipes negros dos baralhos.

 

Os pés velejam ao ritmo das marolas,

as mesmas vagas que conduzem as naus corsárias

às praias cúmplices, mas de areias onde

flores de esperas assomam das corolas.

 

 

 

19

 

Das cambaios estes simultâneos,

de provisórios víveres, quanto engano,

sob o açoite do tempo e de demônios

esgrimindo punhais, fendendo o ano.

 

Dias lavados, dias sobre-humanos,

levados com asperezas, com tristezas,

nas lavas de janeiros nunca inteiros.

sobrantes de uns meses sempre insanos.

 

Dias atrozes do viver difuso,

persuadindo a morte a ser dezembro,

fecho de tudo, fecho de algozes

 

que lançam fúrias — lanças velozes,

em agostos plúmbeos — o mês intruso,

que rouba os lírios do meu setembro.

 

 

De
Geraldo Pinto Rodrigues
VEIO E VIA
Capa e ilustrações de Rita Rosenmeyer.
São Paulo: Clube de Poesia, 1971.
149 p ilus.

 

Bicho lunar

Modulo
em tela de versos
o bicho lunar:

Emborcada para o mundo
a aracnídea figura
descansa (ou dança?)

No ventre impuro
uma ração de estrelas
digere (ou fere?)

Onde teria a cabeça,
apenas o pesadelo
de duas frontes pós-coroadas.

E as patas?
Que deizem as patas, sobre almofadas?
Ah! As patas esmagam o sonho, mais nada.

Só os heróis,
os convivas desse intento (evento?)
consagram o bicho (capricho?)

 

 

Página publicada em junho de 2010; ´página ampliada e republicada em junho de 2010.; republicado em julho de 2011

 

 

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