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GABRIEL MORAIS MEDEIROS
Gabriel Morais Medeiros (1988) é natural de Campinas-SP, é autor do livro de poemas Andrômaca, quarenta semestres (Patuá, 2016). Pela mesma editora, participou da antologia Casa do Desejo (2018) e tem textos diversos publicados em periódicos virtuais, como Mallarmargens, Literatura&Fechadura e Revista Visuais.
Trabalhou como professor de literatura durante 11 anos, em várias cidades do interior paulista.
em trabalhado como professor de literatura em diversas cidades e instituições escolares do interior de São Paulo, desde 2007. Acredita que o ato pedagógico é violento (como diria Rodolfo Walsh) e poético-aurático. Angustiado com a situação atual da República Federativa do Brasil, tem se tratado com textos de Susan Sontag, principalmente.
ANTOLOGIA DO DESEJO / VÁRIOS AUTORES. LITERATURA
QUE DESEJAMOS. PARATY 2018. Editor e organizador; Eduardo
Lacerda. Ilustração e projeto gráfico: Fernando Mathias.
São Paulo: Patuá, 2018. 358 p. 13,5 x 20, 5 cm..
ISBN 978-85-8297-614-2 Ex. bibl. Antonio Miranda
Pornografia: formas do tempo e do cronotopo
Canudo cervical, goma molenga:
tua tuba medular, acolchoada,
vivaz-compactável, néctar visgoso,
Polpudo-fluorescente, como uns ícones
de alguns aplicativos que baixaste —
ouro de telas, de uns ecrãs, do Snapchat
(da moldura ao redor do fantasminha),
desta cor é o que tens dentro dos ossos,
nos microtúneis prenhes dos tutanos.
Sim! Quatro milhões de cápsulas e ovas
no cordão de tua nuca vertebral
pontilham-se: raízes nutridoras,
lençol irrigador de teus cachinhos.
Através de teu crânio, e através
do cocoruto, à carne eclode a mecha,
e o assombro da madeixa bruxuleia,
feito isqueiros digitais, nectarinas.
Semifinal no semáforo, caloura
elimina o cínico jovem empresário
No sinal, encharcaram-na de guache:
é o Trote do Mendigo, e esta bixete
melindrosa, com carinha de boquete,
chega ao vidro, e me pede que o abaixe!
Faz biquinho, implorando-me que eu ache
uma esmolinha, prá livrar de ser joguete
de um veterano mau, com quem se compromete
e arrecadar o dobro que de praxe...
Na carteira, no console encontro um troco,
que lhe taco, brincandinho, na caneca.
Ela sorri, e com faceta de sapeca,
vem questionar: “um real é muito pouco!”
“E se eu fosse uma pedinte, ou um craqueiro,
aceleravas, e não davas dinheiro...”
Página publicada em agosto de 2019
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