FRANCISCO MARQUES ( CHICO DOS BONECOS )
Chico dos Bonecos é um artista. Poeta também, é óbvio. Quem o apresenta é o meu amigo Edmir Perrotti: “É, acho que o Francisco Marques está aprontado mais uma das suas!” Certo: é o segundo livro do professor, contista e contador de histórias, animador cultural. O Perrotti até que tentou descobrir o que é Galeio, que dá título ao livro do Marques. “Bem, fui ao dicionário e não sei se adiantou muito, não! Achei ali definições, mas asseguro que este Galeio, do Chico-Francisco-dos-Bonecos-Marques, é o que está lá, mas também é outra coisa. Tal qual ele próprio: Chico, como todos os Francisco; dos Bonecos, como só o Marques.” Entendeu? Eu, não... Só mesmo lendo os poemas!!!! Antonio Miranda
De
Galeio: Antologia Poética
Ilustrações de Tina Vieira
São Paulo: Peirópolis, 2004
(Col. Henriqueta Lisboa)
ISBN 85-7596-029-6
A Prosa e a Poesia
- Então sinto uma coceira na língua,
um tremelique na idéia,
um sapituca,
e desando a falar, falar e falar.
Dessas coisas que qualquer um sente,
Entende?
Isso é poesia também,
não é mesmo?
Você está me ouvindo?
Pelo visto,
você é de pouca prosa.
- É que a minha vontade de falar
sai de um jeito diferente.
Vira desejo de cantar
dançar
brincar
Dessas coisas que qualquer um sente,
entende?
Por exemplo:
do seu nome
nasce a rosa.
Percebeu?
Sou uma poesia
muito prosa
A Especula– de- Rodinha e o
Ajudante – Marca - Barbante
- Por que o mundo está assim?
- Assim como?
- Tão espandongado.
- Espan o quê?
- Es-pan-don-ga-do!
- Como assim?
- De um lado,
tem um tiquitinho de gente
que tem tanta coisa
que nem sabe o que tem.
do outro lado,
tem um tãrantantão de gente
que de tanto não ter nada
nem sabe que nada tem.
- Como é que é?
Cochichos e Conchinhas
A menina tem o mar
(e não quer mais ninguém para brincar).
O menino tem a areia
(e não quer mais ninguém na brincadeira).
Os dois estão de mal:
Juraram infinito desprezo
e eterna vingança.
As ondas e a praia,
Entendidas em eternidade,
Cochicham conchinhas
de várias curvas e cortes
de vários brilhos e barulhos.
A menin e o menino,
Entendidos em cochichos,
Vão colecionar conchinhas
E trocar histórias da areia e do mar.
VIRA-vira
A nuvem vira-lata
Vira-casaca.
A nuvem viravolta
Vira-e-mexe.
A nuvem vira saúva
Brejaúva.
De tanto vira-vira,
a nuvem vira chuva.
Escondido
- Marina, o que é cidadania?
- Cidade de quem?
- Ci-da-da-ni-a.
- Já sei!
Quer dizer: sei, mas não sei falar.
Entendeu?
- Entendi.
É isso mesmo.
- Isso mesmo, o quê?
- Cidadania é tanta coisa
que a gente acaba não sabendo falar.
- E agora é a minha vez de perguntar:
Tio Joanico, o que é cidadania?
- Você vai me ajudar a responder.
Quer ver?
Observe alguma coisa
Que está ao seu redor.
- Hum...
Um toquinho de lápis.
- Cidadania é isso!
- Lápis?!
- O lápis
e o que está escondido no lápis.
- Escondido?
- Cidadania
é o direito de ter um lápis
e descobrir
os desenhos que ele pode fazer
ou as palavras que ele pode escrever.
- Ou as histórias que ele pode inventar.
- Eu sabia que você sabia,
Marina Gudina de Gurrunfina
de Maracutina Xiringabutina!
- E eu sabia
Que você sabia que eu sabia,
tio Joanico Gudico de Gurrunfico
de Maracutico Xiringabutico!
Cidadania
é o direito de descobrir as coisas
dentro das coisas que a gente vai descobrindo.
Poemas selecionados por Eloiza Garcia, em maio de 2009,
recomendando a leitura do livro todo in natura....
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