FÁBIO ARISTIMUNHO
Nasceu em Ponta Porã, Mato Grosso do Sul, Brasil, em 1977. Advogado, poeta e tradutor. Formado em Direito pela USP. Autor do livro Medianeira (Quinze & Trinta, 2005). Foi presidente da Academia de Letras da FDUsp (1999-2000). É um dos organizadores do Tordesilhas – Festival Ibero-Americano de Poesia de Poesia Contemporânea. Mantém o blog Meidaneiro (HTTP://medianeiro.blogspot.com) Mora em São Paulo.
Os poemas a seguir foram extraídos da obra ANTOLOGIA VACAMARELA : português, español, english. São Paulo: Edição dos autores, 2007. ISBN 978-85-905633-2-7, lançada em novembro de 2007 durante o Tordesilhas – Festival Iberoamericano de Poesia Contemporânea, realizado pelo Centro Cultural Caixa.
O CACTO
São mesquinhos os cactos.
Aptos ante o inóspito,
optam o fluxo (não ínfimo)
reter no oco. Aptos, mas
míseros são os cactos
— com espinho abstêm-se os céticos.
Cético: ser como o cacto:
signo ereto de acúleos.
Ressentir do silêncio
das folhas, conformar-se
à demência dos galhos.
Ser convicto sem fruto.
NOTÍCIAS DO VÁCUO
Hoje os astrônomos decidiram que Plutão não é mais um planeta.
Dizem que Plutão é muito menor que a Terra e até mesmo menor que a lua.
Bobagem.
Muitas vezes já me disse que o mês é bem maior que o meu salário,
mas não deixei de constelar contar e cadastros
e nem por isso os astros deixaram de ser astros.
Nostalgia do que vai ser.
saudade mais tarde
do que não terá sido.
O futuro a Deus pertence,
só o que mata é o suspense.
16.11.2014
A última parcela vence hoje
e eu mesmo ainda não venci.
07.12.2017
A minha lira dos quarenta anos.
Fantasio luma festa à fantasia:
eu de Ali Babá
e os quarenta que me roubaram.
02.05.2027
Ninguém pise minha sombra,
por favor.
Com ela arrasto as minhas obras
mais sombrias
desses anos todos caminhados
ao acaso
e dela se projeta, sobre mim,
a insobriedade
de una alternância catatônica
de postes.
Só eu nela piso com o mesmo
desassombro
com que se pisa em quem se ama e
que nos segue.
Ninguém pise em minha sombra,
por favor.
21.11.2042
Meu filho tem hoje a metade dos
meus anos.
Em sua idade nosso corpo
apenas insinua o peso dos excessos
e recém descobrimos
que já não somos todos imortais.
Eu não cheguei à metade
do meu pai quando
ele vivo.
Entre o meu pai e o meu filho,
que não se conheceram,
eu sou o medianeiro, o meio ponto,
o bordado que se desfaz no fio
das gerações.
15.03. 2048
Cadê a vida que imaginei pra
mim?
Não sei onde estou nem o que faço,
não sei quem me acompanha
aonde vou.
Se tenho planos, quais? Amigos,
ainda os tenho?
E a mim, alguém me tem?
18.06.2059
Agora cabelos negros,
mais tarde cabelos brancos.
ROSALÍA DE CASTRO
No meu espelho
sou eu mais velho.
Ajeito as lentes
e conto os dentes.
Cabelos brancos,
se os tenho, arranco-os?
Penso na morte
só por esporte.
----------------------------------------------------------------------------------
TEXTOS EN ESPAÑOL
Traducción: Julia Lima
EL CACTO
Son mezquinos los cactos.
Aptos ante lo inhóspito,
optan el flujo (no ínfimo)
retener en su hueco. Aptos,
pero míseros son los cactos
— con aguijón se abstienen los escépticos.
Escépticos: ser como el cacto:
signo erecto de acúleos.
Resentir del silencio
de las hojas, conformarse
a la demência de las ramas.
Ser convicto sin fruto.
NOTICIAS DEL VACUO
Hoy los astrônomos han decidido que Plutón no es más un planeta.
Dicen que Plutón es muy menor que la Tierra y mismo menor que la luna.
Tonterías.
Muchas veces me he dicho que el mes es muy más grande que mi salario,
pero nunca dejé de constelar cuentas y catastros
y no por eso los astros dejaron de ser astros.
24.8.06
POÉTICAS DE LA MUERTE. MEMORIAS DEL XV ENCUENTRO INTERNACIONAL DE ESCRITORES. Monterrey, México: Consejo para la Cultuara ly las Artes de Nuevo León, 2011. 203 p. 16x23 cm. Coordinación editorial: Alejandro Rodriguez. ISBN 978-607-7903-48-2 Inclui o capítulo: Tres visiones de la muerte en la literatura brasileña: Gonçalves Dias, Augusto dos Anjos y João Cabral de Melo Neto, por Fábio Aristimunho. Ex. bibl. Antonio Miranda
Nostalgia de lo que va a ser,
sentimiento tardio
de lo que no habrá sido.
El futuro pertenece a Dios,
pero nos mata el suspenso.
16.11.2014
Vence hoy la cuota postrera
y todvaía no he vencido yo.
07.12.2017
Mi lira de los cuarenta años.
Fantaseo una fiesta de fantasia:
yo de Alí Babá
y los cuarenta que me robaron.
02.05.2027
Que nadie pise en mi sombra,
por favor.
Con ella arastro mis obras más
sombrias
de estos años caminhados
al ocaso
y desde ella se proyecta,
sobre mí, la desmesura
de una alternancia catatónica
de postes de luz.
Solo yo la piso con el mismo
poco assombro
con que se pisa a alguien que se
ama y que nos sigue.
Que nadie pise mi sombra,
por favor.
21.11.2042
Mi hijo tiene hoy la mitad de
mis años.
En su edad nuestro cuerpo
tan solo insinua el peso de los excesos
y apenas descubrimos
que ya no somos todos inmortales.
Ya no alcance a la mitad
de la edad de mi padre cuando
él vivía.
Entre mi padre y mi hijo,
que no se han conocido,
yo soy el medianeiro, el punto mediano,
el bordado que se deshace en el
hilo de las generaciones.
12.03.2048
¿Dónde está la vida que
imagine para mí?
No sé donde estoy ni qué hago
no sé quién me acompanha o a
donde voy.
Si tengo planes, ¿caules? Amigos,
¿todavia los tengo?
Y a mí, ¿me tiene alguien alguien?
18.06.2059
Ahora cabellos negros,
más tarde cabellos blancos.
ROSALÍA DE CASTRO
En mi espejo
soy yo más viejo.
Pongo las lentes
y cuento los dientes.
Cabellos blancos,
si los tengo, ¿los arranco?
Pienso en la muerte
solo por deporte.
Página publicada em novembro de 2007; página ampliada em julho de 2016. |