Setas
Asas vacilam no meu quarto insone
onde desamparada
a alma solitária se debate
envolta pelas espirais rarefeitas das zonas de ruptura.
Aonde me esconder que ritos evocar
como escapar do gume desta espada
que algum anjo errante trouxe consigo do espaço?
Deverei lutar ou me entregar?
Contra quem lutarei?
Qual a obscura profecia não sabida
a chave que se perdeu?
Sinto o tremor do anjo
e nada sei.
Quem fala com esta voz tão grave
quem canta ao longe
quem canta?
Alucinação? Iluminação?
Serei eu ou
haverá outro alguém escondido .
na penumbra do meu rosto?
Não sei quem sou..
Talvez apenas um solitário instante.
a sombra de um sonho
que às vezes recebe na fronte o arrepio
de um sopro.
Talvez nem seja.
Meus só estes pulsos quebrados. Este espanto.
M as se não sou
quem o pássaro que me voa?
Foste tu anjo quem plantou - sem explicação -
estas sementes de fósforo que queimam
noite e dia no meu peito?
Sou teu prisioneiro? És anjo de guarda?
Ou sou apenas a máscara que usas
para adivinhar tua rota
os pés que usurpas
para caminhar no barro?
Setas. Setas. Agudas setas.
Entretanto como responder ao insistente eco
eu sou?
Como aplacar este coração insano
que aguarda respostas nesta hora estrangeira? Apagada seta.
Como resistir assim desperto?
Sentinela sentinela responde sentinela alguma luz já se infiltra
pelos ramos exaustos desta noite?
(Transcrito de No giro dos ventos)
Nada
Certa noite recebemos a visita
do Nada. .
Subitamente
sentimos sua garra
pousada sobre o peito.
O espaço se contrai o ar falta
o pulso dispara..
Um vazio penetra
entre as dobras da alma
e a máscara se parte
inútil e falsa.
Toda a arrogância do aparato humano se esvai
enquanto a mão procura sob a coberta
as santas relíquias .
e antigas palavras mágicas brotam
do coração descontrolado.
De manhã
envoltos na irrealidade da luz
nos perguntamos
porque o pânico da madrugada.
Nada apenas
o oblíquo encontro com a morte.
(Transcrito de No giro dos ventos)
Amanhecer
Agora é necessário acreditar
acreditar que a Escuridão e a Ausência potencializam
um novo amanhecer
acreditar na transformação
no reverso do tempo
no retorno natural do arquétipo banido
Agora é necessário acreditar
que gerânios de luz
ainda irão brotar
destes desertos
em forma de coração.
(Transcrito de No giro dos ventos)