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DORA FERREIRA DA SILVA
(1918-2006)
Autora de livros como Andanças, Talhamar, Retratos de Origem, Poemas da Estrangeira e Hídrias. Foi três vezes ganhadora do Prêmio Jabuti. Recebeu também o prêmio Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras, em 2000, por sua obra Poesia Reunida, editado pela Topbooks.
Como tradutora, destacam-se seus trabalhos com autores como Rilke, Saint-John Perse, San Juan de la Cruz, Hörderlin e Jung. Também atuou como editora, fundando a revista Diálogos, juntamente com seu marido, o filósofo Vicente Ferreira da Silva. Depois, criou a revista Cavalo Azul, para difusão da poesia. Atualmente, funcionava em sua casa, um Centro de Estudos de Poesia com o mesmo nome.
TEXTOS EM PORTUGUÊS / TEXTO EN ESPAÑOL
SILVA, Dora Ferreira da. Uma via de ver as coisas. 2ª. Edição. Organização e estabelecimento do texto Inês Ferreira da Silva e Miguel Jubé. Apresentação Enivalda Nunes Freitas e Souza. Prefácio Goiandira de E. Ortiz e Maria Severina Guimarães. Goiânia, GO: Martelo, 2018.
143 p. (Coleção cabeça de poeta, 21) Capa dura. Ex. bibl. Antonio Miranda
CIDADE
Aqui se cava um túnel:
poço sem água, serpente do vazio.
Passos na terra negra.
Homens golpeiam, dorso arqueado,
braços de veia túmidas.
O mundo se aperta, a vida engorda,
muito. A erva insiste nas frestas,
no capim nascem estrelas de ouro.
Dois velhos serram um tronco,
longo trabalho, um de cada lado.
No espaço, a mesma lua, magro perfil.
Gente rente ao chão, tristeza nos farrapos.
Faróis ferem a tarde que se abate.
Iminente a noite e as frias luzes
de tantas possíveis palavras.
Silêncio: muda é a melancolia e sua ronda.
CHUVA
Estendida a mão,
obrigou-te a chuva
a ser quem és:
a do relento,
em vésperas,
pássaro de beira
o pulo no ar
realçando o instante.
A chuva te abrigou,
em concha a palma cheira
de estrias,
marcando a terra
a que pertences.
Sua fome devorou-te
o excesso
e batizou-te: única.
MÚSICA III
Várias espécies de canto:
o outono rompe o fruto,
sementes se constelam.
Trilam oblíquos três pássaros.
Pulsando o coração à sombra:
o passado aflora,
brilha o presente num ímpeto
mais claro.
Tantas bocas cantando
num sol futuro.
No reverso do canto
que vibra, na hora,
mergulha calada um raiz
profunda.
SILVA, Dora Ferreira da. Poemas em Fuga. São Paulo: Massao Ohno Ohno, 1997. 109 p. 14x20, 5 cm “Orelha” do livro por Lêdo Ivo. “ Dora Ferreira da Silva “ Ex. bibl. Antonio Miranda
Poemas Póstumos
I
Poemas póstumos são o post-scriptum da vida proferida
depressa, sem provas de revisão. São os resquícios
de vícios da infância incompleta. Da inocência
escondida num porão. O Menino fez o que pôde
mas havia o mais o muito mais
por dizer do bem feito mal feito poema-destino.
Que desatino o legalismo contra a invenção
de poema e vida. Tua forma completou-se em contraposição
do que se pensava por medo ou estultícia -
desenhada sem malícia ou ânsia de perfeição.
Podemos ver-te agora por inteiro
num céu maior que o de Minas, seus minérios
gemas preciosas. Além de uma rosa
que murchou aquém do teu coração.
Ó Amigo pensativo compassivo, só um tolo
não amará teu retraio de corpo inteiro
alma inteira, tua verdade e completa inocência.
II
O amor cantaste e sem saber ou sabendo/ quem sabe
eras cristão. Todas as religiões levaste contigo
e também a irreligião. Nada esquecido ficou ou preterido -
coisa sem valia. Triste às vezes sempre davas a alegria
de um poço sem fundo. "Mundo mundo grande mundo"
a ele servias tuas finas iguarias teu humor vacilante
teu riso; a angústia escondias por um inteligente
subterfúgio. Davas refúgio às aflições que te feriam.
Não as ignoravas. Tua sutil melancolia logo se tornava
melodia. O amor - todos - foi teu tema principal
e por último, o primeiro. A Carta de guia (?) de amantes.
A interrogação, riso nada ostensivo, pensativo.
Duvidavas de mapas prefixados de conselhos sábios
para quem se arrisca. O número perfeito escolheste
ou ele te escolheu: UM.
Plotino chama pelo nome o Menino antigo.
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CÂNTICOS
I
Tenho-te um amor de mansidões
rebanho lento e branco passeando na alvorada
tenho-te um amor tranqüilo e trêmulo
não se música ou se constelações
tenho-te um amor de eternidades
em vagas renascentes — brando som de flauta
chamando as superfícies distraídas
para a reconcentração definitiva
II
Como um ramo de úmidas rosas
quisera estar na sala em que respiras
o aroma de tuas primaveras
Como um cesto de frutos derramados
quisera ser a oferta abandonada
na mesa simples da tua eternidade
AO SOL
Naufragas na noite
em pompas de luz e imensidade
todo germe palpita na semente
e da nova manhã ressurges
clara divindade
nua a carnação sob o manto escarlate.
NOTURNO II
Nossos olhos nos pertencem —
não o dia.
Amor não nos pertence
nem a morte.
Apenas pousam na pérola mais fina.
Desce o luar
No flanco de rios precipitados
folhas se alongam
caules estremecem.
A noite já desfere
seu punhal de trevas.
MADURO PARA O CANTO
Maduro para o canto
vertes, cântaro,
a água pura
e suas sete cores
unindo lago e lago.
Barco em flor
rio correndo da prece
promessa em silêncio
da messe.
Sem pressa
o agapanto floresce.
Extraído de ANDANÇAS 1948-1970. Rio de Janeiro: Edição da Autora, 1970? 120 p.
Indicado por Wagner Barja. Maio 2007.
CANTO
O pássaro cantou
e os ramos vergaram
sob o peso do fruto
e o fruto cantou
sob o peso do pássaro
e o canto pousou
sobre o fruto
e os ramos cantaram.
NOITE
No declive da altura
poço de lumes.
Entre folhas
perpassa um vôo.
(Noite e alma
toque levíssimo
de palmas.)
Uma estrela cavalga a escuridão.
O FOGO
O fogo acende-se no próprio nome
sete línguas ardem no coração da rosa
e se alastram pelo jardim
voltando depois ao próprio nome.
Se ao fogo perguntas: “É ele? És tu?”
crepitam centelhas. Um Serafim o abraça
e ao coração.
CONVERSA DOM PESSOA
Ai, não ter a vida provas de revisão
para mudar-lhe as vírgulas, acrescentar-lhe
pontos de interrogação
e sobretudo passar a limpo dores e amores
arranjar vasos de flores, ter um gato de
estimação,
ouvir a rolinha a consolar-lhe a aflição...
Ai, não ter a vida provas de revisão
para endireitar-lhe as linhas, trocar palavras
e afinal arrancar as páginas todas do livro
e suprimir-lhe a edição.
Extraído de JARDINS (esconderijos). São Paulo: Edição da Autora, 1979. 125 p.
Indicado por Wagner Barja. Maio 2007.
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SILVA, Dora Ferreira da. O Leque. Rio de Janeiro: Instituto Moreira Sales – IMS, 2007. s.p. folha sanfonada. 12x19,5 cm. Capa dura. Apresentação: Antonio Fernando De Francheschi. Projeto gráfico: Kiko Farkas. Ilustrações: Elisa Cardoso. “ Dora Ferreira da Silva “ Ex. bibl. Antonio Miranda
“(...) as palavras da poeta, recortadas dos dez breves instantes desta suíte, que a um só tempo é dança e melodia, gesto e repouso, enigma e clareza. Ou, direto ao ponto: a sutil, inefável maravilha da grande poesia”.
Antonio Fernando de Franceschi
O LEQUE
(VARIAÇÕES)
Linha oblíqua
oculta desoculta
o instante breve
cores exalta
do negro ao escarlate.
Ela e o leque: a aragem esconde
em poço de sombra
a curva do pescoço
o colo branco.
IV
Sublinham os olhos
o leve movimento
do leque. Como que anunciam
início e algo terminado.
Os dedos: promessa
ao jovem atento
esperando o que não sabe
do iluminado frêmito.
V
O sim-não do leque
rabisca sobre a face
algo que desaparece
com o sorriso.
Iluminura de renda
instrumento sutil
e sua música.
VII
O que eu daria
para ser leque em suas mãos.
O que eu seria — trêmula pérola
junto a um coração.
A aragem me levaria
A Mozart engastado a Mozart
Nessa emoção. O espaço:
Separando sonho e música.
O leque — ladrão sutil —
deixando-me apenas
um vago perfil.
Fragmentos da obra, até então inédita, que a Fundação Moreira Salles publicou em homenagem à grande poeta, e que merece ser apoiada e levada ao grande público.
SILVA, Dora Ferreira da. Apassionata. Rio de Janeiro: Instituto Moreira Sales – IMS, 2008. s.p. 12x19,5 cm. Capa dura. Inclui textos e Inês Ferreira da Silva Bianchi e Ivan Junqueira. Projeto gráfico: Kiko Farkas. “ Dora Ferreira da Silva “ Ex. bibl. Antonio Miranda
Obra póstuma publicada organizada pela filha Inês Ferreira da Silva Bianchi e editada com beleza e qualidade pelo IMS.
“Dora Ferreira da Silva se debruça sobre a coisa em si da palavra e da expressão poética, de modo que sua linguagem está de tal forma aderida à emoção e ao pensamento que nela se torna impossível vislumbrar quaisquer suturas operacionais. Trata-se, por assim dizer, de uma linguagem inconsútil, tamanha é nela a fusão entre a forma e o fundo, o que a torna desde logo imune a qualquer decodificação que tente eviscerá-la como se fosse um animal de laboratório.” Ivan Junqueira, no prefácio da obra.
(...)
Vivos e mortos
perambulam nas estradas
um sorriso nos lábios.
O que dizem
no silêncio
agora pleno
da alma?
Appassionata.
O gesto preserva a
emoção e o brusco
perpassar de folhas mortas.
Gemem pássaros noturnos
fiéis da madrugada
até que o horizonte desperte
em sua luz dourada.
Dedos da memória
afagam e são cruéis:
tudo ressurge e se transfigura
no que poderia ser
se a chuva desabasse.
Só os relâmpagos
ao longe
de raios mudos.
(...)
v
Tudo arrebatas
num vórtice que asa e canto de pássaro
jamais tocaram. Conduzes
quem de si se perde
e em ti se encontra. Murmuras
além de águas, grutas,
calas segredos. Sons estremecem
ou tanges a lira de corpos,
almas? Que alvura em todas as coisas
revelas? Não cessas. Cintilam escalas
mais que estrelas.
(...)
SILVA, Dora Ferreira da. Talhamar. São Paulo: Massao Ohno – Roswitha Kempf Editores, 1972? S.p. 15x22,5 cm Capa: pintural mural grega no Túmulo do Mergulador, Paestum, Grécia. “ Dora Ferreira da Silva “ Ex. bibl. Antonio Miranda
AFRODITE
Disse a deusa a sorrir:
esta manhã o mar deu-me adereços
e vestida de pérolas
fui a um reino distante.
Cânticos despertaram vides
e frutos nasceram, que o sol
cultiva nos pomares.
Coros adolescentes perseguiam Eros
— p coroado de pâmpanos —
pois de meus lábios haviam provado ,
o vinho farto e suave.
Liames atando e desatando,
ele a beleza ocultava nas angras mais profundas,
pois quando emergia — flâmeo! —
o murmúrio do mar as praias inundava
e a embriaguez vizinha da morte
ameaçava os amantes...
SILVA, Dora Ferreira da. Poemas da estrangeira. São Paulo: T. A. Queiroz ed. 1995. 241 p. 14x21 cm. “ Orelhas por José Paulo Paes “ Ex. bibl. Antonio Miranda.
DEVAGAR DIVAGAR
Juntos descemos
a escada rolante dos anos
até o momento exato:
a hora matutina.
Encontros no jardim
num cinema abafado
ou apertados no elevador;
não previmos na rua
o ardil de uma esquina.
De perfil - no teatro -
quando o escuro reinava
e só nós víamos
meia face um do outro.
Na confeitaria - depois -
a sós com sonhos.
Viagem além mar
sem a tua companhia.
Eu olhava mosaicos
e eras tu quem surgia!
Ai, não sei como
ou por quê
mas é sempre de noite
a outra face do dia.
(1973)
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De
HÍDRIAS
POEMAS DE DORA FERREIRA DA SILVA
São Paulo: Odysseus Editora, 2004
ISBN 85-88023-62-8 (capa dura)
85-8802--62-X (brochura)
[capa dura azul revestida de tela com aplique]
APOLO HIPERBÓREO
Ele ama a distância além do inverno,
onde não declinam a luz radiosa e os cantos.
Quando se afasta, pássaros silenciam e a fonte
em Delfos quase se extingue. Lobos uivam.
Imensa é a noite fria em sua ausência.
Mas ouve! O jubiloso peã de novo repercute
nas pedras brilhantes. Corpos e olivais dourados
revivem na dança: o Citaredo retorna coroado de folhas.
NARCISO (1)
Lampeja o olhar que antes a toda a beleza
se esquivara. És tu, Narciso,
teu reflexo nas águas, ou a irmã
de gêmeo rosto e forma?
Não, não te afastas, porque a unidade
em duas se faria e o mundo das sombras ulula
à espera de tal luto. Permaneces inclinado
e adoras, sem saber se és tu, ou quem queres ver
no exasperado amor que as águas refletem.
A Morte veio enfim buscar-te, consternada,
vendo os olhos do estranho amante
fixos na flor nascida de teu sonho.
NARCISO (II)
Folhas incandescentes fizeram da fonte
vale de fulgores. Bebia Narciso sobre a onda
quando uma face viu de tal beleza
que a luz mais viva se tornou.
E Amor - cujas setas jamais puderam alcançar
seu coração esquivo — nele reinou e jamais do jovem
se apartava, que a seu chamado as águas acorria.
Insidiosa veio a Morte para o levar consigo,
deixando numa flor a forma de Narciso.
SILVA, Dora Ferreira da. Retratos da Origem. São Paulo: Roswitha Kempf Editores, 1988. 109 p. 15x22 cm. Capa: retrato da autora por Anna Barros. Tiragem: 700 exs. “ Dora Ferreira da Silva “ Ex. bibl. Antonio Miranda
Ritornello
Sempre sangrarão as cicatrizes?
O sono - irmão caçula da morte
parece um corte vibrado a esmo.
Mendicância-errância se abraçam silenciosamente.
O mito que retorna
encontra-me quase insensível
à dor do recomeço.
Tropeço no antigo móvel
e não o reconheço. Foi o destino
que me levou a uma outra casa?
A poltrona insegura desvia a torrente do tempo
quando alguém sentado lia
farrapos da própria alma em autores prediletos.
Tudo o que foi passado
custa a morrer nos meus guardados.
CANTO IX
Teu nome
de nada é feito
(que matéria poderá servi-lo?)
És o que antecede
o ver
e inaudível
precedes o ouvir
O tato
o sabor
o cheiro
apenas em ti se reconhecem
antes que retornes
ao moldo do vazio
Quando vens
ultrapassas ideias
pensamentos
que pretendem prender
o antes
depois
e ao mesmo tempo
agora
Menino
usas todas as máscaras para brincar
e nos surpreendes!
Poupas nossa fragilidade
com ecos
fragrâncias
(passo no caminho
és tu
e quem caminha)
Coisa não és
mas concedes graça
à curva de um caminho
às folhas aromáticas
a um contato de amor
Se te evolas
não é como quem abandona
mas pelo gosto
de repetir-te
em nós por outras vindas
grandes e pequenas
enquanto houver espaço
para o Amor
Mas este nome — o mais próximo —
também não basta!
De
Dora Ferreira da Silva
UMA VIA DE VER AS COISAS
São Paulo: Livraria Duas Cidades, 1973. 124 p.
AMORES
III
Não traçarei novos caminhos.
Entrelaçados, nascemos de raízes
mais fundas que saber.
És o que virá, se vieres.
E eu espero. Véspera da morte,
agora que o amor é mudo ou canta sem parar.
E o canto um silêncio parece
de tão fundo viver, que a vida já se despe
de si mesma, e avança sem andar:
bem longe
ou perto
aberto dom
de
amar.
IV
Não o que dizíamos
nem o que víamos,
mas o olhar desviado,
taça em demasia. E o que insistia:
os mesmos pórticos, a hora
na torre austera. E tudo fazíamos
para não ouvir, calado,
o passo do passado
e não olhar, à janela cega,
um vulto debruçado
o olhar isento
do amor que não se vê
e, em fuga, se extravia.
SILVA, Dora Ferreira da. Cartografia do Imaginário. São Paulo: T. A. Queiroz Editor, 2003, 146 p. 14x21 cm. ISBN 85-7182-080-5 “ Dora Ferreira da Silva “ Ex. bibl. Antonio Miranda
ASSIM COMO TODA MENINA...
Assim como toda Menina brinca
envolta em chalés de seda
encontrados nos porões...
Assim como toda Menina brinca
rainha do seu sonho
cercada de leões e pavor
mas certa porém e sempre
de um Cavaleiro de Amor,
assim brincava a Menina
desperta no seu torpor
o sonho dando-lhe a música
do silêncio ou do que for...
Assim brincava a Menina
envolta em chalés de seda
e a música mal se ouvia
(tudo então anoitecia)...
A Estrela brilhava no alto.
Ela ouvia extasiada
(o ouvido aberto em flor)
o que a música dizia
seja o que for o que for...
Seu coração palpitava
ouvindo a Estrela da Tarde
em sua luz transportada.
SILVA, Dora Ferreira da. Jardins (esconderijos). São Paulo: 1979. 127 p. 14x21 cm. Impresso nas oficinas gráficas da Editora Cupolo. “ Dora Ferreira da Silva “ Ex. bibl. Antonio Miranda
ROSAMOR
Nem mesmo o Angélico achou tal cor em asa
ou manhã. Nenhum acorde tocou tal cor.
Nas palmas dos recém-nascidos dizem
que pode ser encontrada se a estrela for propícia.
Em pétalas — se a Natureza doar-se amando
à flor dileta. Um Poeta a descobriu na hora mais tardia
e ofertou-a em silêncio à visão derradeira.
Temerária procuro-a interrogo os sentidos
o tacto em pêssegos pousando sem peso
o gosto confuso e obscuro aprofundando
a carne da romã; o olhar demasiado à superfície
das rosas que têm nome — e escapam —
o ouvido ébrio confundindo a música.
Interrogo os sentidos: nenhum responde ao meu chamado.
Despeço o poema à porta — é inútil tentar
dizer tal cor estando viva e incerta
em tantos caminhos por onde começar.
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TEXTO EN ESPAÑOL
Koré
Versión de Consuelo Olvera T.
¿Por qué siempre regresas mendiga
com brazaletes de oro y suplicantes ojos
de violeta?
Tus sandálias te traenn en harapos
de púrpura. Es primavera.
El viento se debate
en los arbustos brillantes.
El jardín te esparce pétalos que reflejan
tu sonrisa
y se ofuscan.
Regresas. Siempre como tú
y me asedias:
vaso antiguo de cítara inspiración,
columna entre el arbolado.
Quieres cantar conmigo en el césped de mañana.
Conozco tus párpados, los rizos de tus cabellos,
la curva de tu cuello. Sin oírte
sé cómo cantas.
Regresaste, es primavera.
El jardín se adorna
con joyas de tu cofre,
perlas trémulas.
Fuerzas amiga demasiado las cuerdas
de mi canto.
Se revela en mí tu fragilidad.
Demora si puedes y con las cuentas de tus collares claros
guarda mi llanto
incluso cuando te vayas
Página ampliada e republicada em novembro de 2008; ampliada e recpublicada em agosto de 2010..
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