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Sobre Antonio Miranda
 
 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


www.estadao.com.br/arteelazer/letras/noticias/2006/abr/06/309.htm

 

 

DORA FERREIRA DA SILVA

(1918-2006)

 

 

Autora de livros como Andanças, Talhamar, Retratos de Origem, Poemas da Estrangeira e Hídrias. Foi três vezes ganhadora do Prêmio Jabuti. Recebeu também o prêmio Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras, em 2000, por sua obra Poesia Reunida, editado pela Topbooks.

 

Como tradutora, destacam-se seus trabalhos com autores como Rilke, Saint-John Perse, San Juan de la Cruz, Hörderlin e Jung. Também atuou como editora, fundando a revista Diálogos, juntamente com seu marido, o filósofo Vicente Ferreira da Silva. Depois, criou a revista Cavalo Azul, para difusão da poesia. Atualmente, funcionava em sua casa, um Centro de Estudos de Poesia com o mesmo nome.

 

 

TEXTOS EM PORTUGUÊS / TEXTO EN ESPAÑOL

 

 

 

 

 

SILVA, Dora Ferreira da.  Uma via de ver as coisas. 2ª. Edição.  Organização e estabelecimento do texto Inês Ferreira da Silva e Miguel Jubé. Apresentação Enivalda Nunes Freitas e Souza. Prefácio Goiandira de E. Ortiz e Maria Severina Guimarães.    Goiânia, GO: Martelo, 2018.   


143 p.    (Coleção cabeça de poeta, 21) Capa dura.  Ex. bibl. Antonio Miranda

 

 

         CIDADE

 

        Aqui se cava um túnel:
        poço sem água, serpente do vazio.
        Passos na terra negra.
        Homens golpeiam, dorso arqueado,
        braços de veia túmidas.

        O mundo se aperta, a vida engorda,
        muito. A erva insiste nas frestas,
        no capim nascem estrelas de ouro.
        Dois velhos serram um tronco,
        longo trabalho, um de cada lado.

        No espaço, a mesma lua, magro perfil.
        Gente rente ao chão, tristeza nos farrapos.
        Faróis ferem a tarde que se abate.
        Iminente a noite e as frias luzes
        de tantas possíveis palavras.

        Silêncio: muda é a melancolia e sua ronda.

 

 

 

        CHUVA

 

        Estendida a mão,
        obrigou-te a chuva
        a ser quem és:
        a do relento,
        em vésperas,
        pássaro de beira
        o pulo no ar
        realçando o instante.
        A chuva te abrigou,
        em concha a palma cheira
        de estrias,
        marcando a terra
        a que pertences.
        Sua fome devorou-te
        o excesso
        e batizou-te: única.

 

 

 

        MÚSICA III

 

        Várias espécies de canto:
        o outono rompe o fruto,
        sementes se constelam.
        Trilam oblíquos três pássaros.
        Pulsando o coração à sombra:
        o passado aflora,
        brilha o presente num ímpeto
        mais claro.
        Tantas bocas cantando
        num sol futuro.

        No reverso do canto
        que vibra, na hora,
        mergulha calada um raiz
        profunda.

 

 

 

SILVA, Dora Ferreira da.  Poemas em Fuga.  São Paulo: Massao Ohno Ohno, 1997.  109 p.  14x20, 5 cm  “Orelha” do livro por Lêdo Ivo.  “ Dora Ferreira da Silva “  Ex. bibl. Antonio Miranda

 

Poemas Póstumos

 

 I

 

Poemas póstumos são o post-scriptum da vida  proferida

depressa, sem provas de revisão. São os resquícios

de vícios da infância incompleta. Da inocência

escondida num porão. O Menino fez o que pôde

mas havia o mais o muito mais

por dizer do bem feito mal feito poema-destino.

Que desatino o legalismo contra a invenção

de poema e vida. Tua forma completou-se em contraposição

do que se pensava por medo ou estultícia -

desenhada sem malícia ou ânsia de perfeição.

Podemos ver-te agora por inteiro

num céu maior que o de Minas, seus minérios

gemas preciosas. Além de uma rosa

que murchou aquém do teu coração.

Ó Amigo pensativo compassivo, só um tolo

não amará teu retraio de corpo inteiro

alma inteira, tua verdade e completa inocência.

 

 

           II

 

O amor cantaste e sem saber ou sabendo/ quem sabe

eras cristão. Todas as religiões levaste contigo

e também a irreligião. Nada esquecido ficou ou preterido -

coisa sem valia. Triste às vezes sempre davas a alegria

de um poço sem fundo. "Mundo mundo grande mundo"

a ele servias tuas finas iguarias teu humor vacilante

teu riso; a angústia escondias por um inteligente

subterfúgio. Davas refúgio às aflições que te feriam.

Não as ignoravas. Tua sutil melancolia logo se tornava

melodia. O amor - todos - foi teu tema principal

e por último, o primeiro. A Carta de guia (?) de amantes.

A interrogação, riso nada ostensivo, pensativo.

Duvidavas de mapas prefixados de conselhos sábios

para quem se arrisca. O número perfeito escolheste

ou ele te escolheu: UM.

 

Plotino chama pelo nome o Menino antigo.

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CÂNTICOS

 

I

 

Tenho-te um amor de mansidões

rebanho lento e branco passeando na alvorada

tenho-te um amor tranqüilo e trêmulo

não se música ou se constelações

 

tenho-te um amor de eternidades

em vagas renascentes — brando som de flauta

chamando as superfícies distraídas

para a reconcentração definitiva

 

II

 

Como um ramo de úmidas rosas

quisera estar na sala em que respiras

o aroma de tuas primaveras

Como um cesto de frutos derramados

quisera ser a oferta abandonada

na mesa simples da tua eternidade

 

 

AO SOL

 

Naufragas na noite

em pompas de luz e imensidade

todo germe palpita na semente

e da nova manhã ressurges

clara divindade

nua a carnação sob o manto escarlate.

 

 

NOTURNO II

 

Nossos olhos nos pertencem —

não o dia.

Amor não nos pertence

nem a morte.

Apenas pousam na pérola mais fina.

Desce o luar

No flanco de rios precipitados

folhas se alongam

caules estremecem.

 

A noite já desfere

seu punhal de trevas.

 

 

MADURO PARA O CANTO

 

Maduro para o canto

vertes, cântaro,

a água pura

e suas sete cores

unindo lago e lago.

Barco em flor

rio correndo da prece

promessa em silêncio

da messe.

 

Sem pressa

o agapanto floresce.

 

 

         Extraído de ANDANÇAS 1948-1970.  Rio de Janeiro: Edição da Autora, 1970? 120 p.

 

            Indicado por Wagner Barja. Maio 2007.

 

CANTO

 

O pássaro cantou

e os ramos vergaram

sob o peso do fruto

e o fruto cantou

sob o peso do pássaro

e o canto pousou

sobre o fruto

e os ramos cantaram.

 

 

NOITE

 

No declive da altura

poço de lumes.

 

Entre folhas

perpassa um vôo.

 

(Noite e alma

toque levíssimo

de palmas.)

 

Uma estrela cavalga a escuridão. 

 

 

O FOGO

 

O fogo acende-se no próprio nome

sete línguas ardem no coração da rosa

e se alastram pelo jardim

voltando depois ao próprio nome.

Se ao fogo perguntas: “É ele? És tu?”

crepitam centelhas. Um Serafim o abraça

e ao coração.

 

 

CONVERSA DOM PESSOA

 

Ai, não ter a vida provas de revisão

para mudar-lhe as vírgulas, acrescentar-lhe

                                     pontos de interrogação

e sobretudo passar a limpo dores e amores

arranjar vasos de flores, ter um gato de

                                                         estimação,

ouvir a rolinha a consolar-lhe a aflição...

 

Ai, não ter a vida provas de revisão

para endireitar-lhe as linhas, trocar palavras

e afinal arrancar as páginas todas do livro

e suprimir-lhe a edição.

 

 

            Extraído de JARDINS (esconderijos).  São Paulo: Edição da Autora, 1979.  125 p.

 

            Indicado por Wagner Barja. Maio 2007.

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SILVA, Dora Ferreira daO Leque.  Rio de Janeiro: Instituto Moreira Sales – IMS, 2007.  s.p. folha sanfonada.  12x19,5 cm.  Capa dura.  Apresentação: Antonio Fernando De Francheschi.  Projeto gráfico: Kiko Farkas. Ilustrações: Elisa Cardoso.   “ Dora Ferreira da Silva “ Ex. bibl. Antonio Miranda

 

 

“(...) as palavras da poeta, recortadas dos dez breves instantes desta suíte, que a um só tempo é dança e melodia, gesto e repouso, enigma e clareza. Ou, direto ao ponto: a sutil, inefável maravilha da grande poesia”.

    Antonio Fernando de Franceschi

 

 

O LEQUE

(VARIAÇÕES)

 

Linha oblíqua

oculta desoculta

o instante breve

cores exalta

do negro ao escarlate.

Ela e o leque: a aragem esconde

em poço de sombra

a curva do pescoço

o colo branco.

 

 

IV

 

Sublinham os olhos

o leve movimento

do leque.  Como que anunciam

início e algo terminado.

Os dedos: promessa

ao jovem atento

esperando o que não sabe

do iluminado frêmito.

 

 

V

 

O sim-não do leque

rabisca sobre a face

algo que desaparece

com o sorriso.

Iluminura de renda

instrumento sutil

e sua música.

 

VII

 

O que eu daria

para ser leque em suas mãos.

O que eu seria — trêmula pérola

junto a um coração.

A aragem me levaria

A Mozart engastado a Mozart

Nessa emoção. O espaço:

Separando sonho e música.

O leque — ladrão sutil —

deixando-me apenas

um vago perfil. 

 

 

Fragmentos da obra, até então inédita, que a Fundação Moreira Salles publicou em homenagem à grande poeta, e que merece ser apoiada e levada ao grande público.

 

APPASSIONATA

SILVA, Dora Ferreira daApassionata.  Rio de Janeiro: Instituto Moreira Sales – IMS, 2008.  s.p.  12x19,5 cm.  Capa dura.   Inclui textos e Inês Ferreira da Silva Bianchi e Ivan Junqueira. Projeto gráfico: Kiko Farkas.  “ Dora Ferreira da Silva “ Ex. bibl. Antonio Miranda

 

 

Obra póstuma publicada organizada pela filha Inês Ferreira da Silva Bianchi e editada com beleza e qualidade pelo IMS.

 

“Dora Ferreira da Silva se debruça sobre a coisa em si da palavra e da expressão poética, de modo que sua linguagem está de tal forma aderida à emoção e ao pensamento que nela se torna impossível vislumbrar quaisquer suturas operacionais.  Trata-se, por assim dizer, de uma linguagem inconsútil, tamanha é nela a fusão entre a forma e o fundo, o que a torna desde logo imune a qualquer decodificação que tente eviscerá-la como se fosse um animal de laboratório.”  Ivan Junqueira, no prefácio da obra.

 

 

(...)

Vivos e mortos
perambulam nas estradas
um sorriso nos lábios.
O que dizem
no silêncio
agora pleno
da alma?
Appassionata.


O gesto preserva a
emoção e o brusco
perpassar de folhas mortas.
Gemem pássaros noturnos
fiéis da madrugada
até que o horizonte desperte
em sua luz dourada.

Dedos da memória
afagam e são cruéis:
tudo ressurge e se transfigura
no que poderia ser
se a chuva desabasse.
Só os relâmpagos
ao longe
de raios mudos.

(...)

 

 

v

 

Tudo arrebatas

num vórtice que asa e canto de pássaro

jamais tocaram. Conduzes

quem de si se perde

e em ti se encontra. Murmuras

além de águas, grutas,

calas segredos. Sons estremecem

ou tanges a lira de corpos,

almas? Que alvura em todas as coisas

revelas? Não cessas. Cintilam escalas

mais que estrelas.

 

(...)

 

 

 

SILVA, Dora Ferreira da.  Talhamar.  São Paulo: Massao Ohno – Roswitha Kempf Editores, 1972?  S.p. 15x22,5 cm Capa: pintural mural grega no Túmulo do Mergulador,     Paestum, Grécia.  “ Dora Ferreira da Silva “  Ex. bibl. Antonio Miranda

 



AFRODITE

 

Disse a deusa a sorrir:

esta manhã o mar deu-me adereços

e vestida de pérolas

fui a um reino distante.

Cânticos despertaram vides

e frutos nasceram, que o sol

cultiva nos pomares.

Coros adolescentes perseguiam Eros

— p coroado de pâmpanos —

pois de meus lábios haviam provado ,

o vinho farto e suave.

 

Liames atando e desatando,

ele a beleza ocultava nas angras mais profundas,

pois quando emergia — flâmeo! —

o murmúrio do mar as praias inundava

e a embriaguez vizinha da morte

ameaçava os amantes...

 

 

 

SILVA, Dora Ferreira da.  Poemas da estrangeira.  São Paulo: T. A. Queiroz ed.  1995.     241 p.   14x21 cm.  “ Orelhas por José Paulo Paes “  Ex. bibl. Antonio Miranda.

 

 

DEVAGAR DIVAGAR

 

Juntos descemos

a escada rolante dos anos

até o momento exato:

a hora matutina.

 

Encontros no jardim

num cinema abafado

ou apertados no elevador;

 

não previmos na rua

o ardil de uma esquina.

 

De perfil - no teatro -

quando o escuro reinava

e só nós víamos

meia face um do outro.

Na confeitaria - depois -

a sós com sonhos.

 

Viagem além mar

sem a tua companhia.

Eu olhava mosaicos

e eras tu quem surgia!

 

Ai, não sei como

ou por quê

 

mas é sempre de noite

a outra face do dia.

 

                    (1973)

 

 

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De
HÍDRIAS
POEMAS DE DORA FERREIRA DA SILVA

São Paulo: Odysseus Editora, 2004
ISBN 85-88023-62-8 (capa dura)
85-8802--62-X (brochura)

[capa dura azul revestida de tela com aplique]

 

 

 

APOLO HIPERBÓREO

Ele ama a distância além do inverno,

onde não declinam a luz radiosa e os cantos.

Quando se afasta, pássaros silenciam e a fonte
em Delfos quase se extingue. Lobos uivam.
Imensa é a noite fria em sua ausência.

Mas ouve! O jubiloso peã de novo repercute
nas pedras brilhantes. Corpos e olivais dourados
revivem na dança: o Citaredo retorna coroado de folhas.

 

 

 

NARCISO (1)

 

Lampeja o olhar que antes a toda a beleza

se esquivara. És tu, Narciso,

teu reflexo nas águas, ou a irmã

de gêmeo rosto e forma?

Não, não te afastas, porque a unidade

em duas se faria e o mundo das sombras ulula

à espera de tal luto. Permaneces inclinado

e adoras, sem saber se és tu, ou quem queres ver

no exasperado amor que as águas refletem.

 

A Morte veio enfim buscar-te, consternada,

vendo os olhos do estranho amante

fixos na flor nascida de teu sonho.

 

 

 

NARCISO (II)

 

Folhas incandescentes fizeram da fonte

vale de fulgores. Bebia Narciso sobre a onda

quando uma face viu de tal beleza

que a luz mais viva se tornou.

E Amor - cujas setas jamais puderam alcançar

seu coração esquivo — nele reinou e jamais do jovem

se apartava, que a seu chamado as águas acorria.

Insidiosa veio a Morte para o levar consigo,

deixando numa flor a forma de Narciso.

 

Dora Ferreira da Silva

 

 

SILVA, Dora Ferreira da.  Retratos da Origem.  São Paulo: Roswitha Kempf Editores, 1988.   109 p.  15x22 cm.       Capa: retrato da autora por Anna Barros. Tiragem: 700 exs.  “ Dora Ferreira da Silva “ Ex. bibl. Antonio Miranda

 

Ritornello

 

Sempre sangrarão as cicatrizes?

                         O sono - irmão caçula da morte

parece um corte vibrado a esmo.

Mendicância-errância se abraçam silenciosamente.

 

O mito que retorna

encontra-me quase insensível

                         à dor do recomeço.

Tropeço no antigo móvel

e não o reconheço. Foi o destino

que me levou a uma outra casa?

A poltrona insegura desvia a torrente do tempo

quando alguém sentado lia

farrapos da própria alma em autores prediletos.

 

Tudo o que foi passado

custa a morrer nos meus guardados.

 

CANTO IX

Teu nome
              de nada é feito
(que matéria poderá servi-lo?)
És o que antecede
                           o ver
                                   e inaudível
precedes o ouvir
                            O tato
                           o sabor
                           o cheiro
apenas em ti se reconhecem
antes que retornes
ao moldo do vazio

Quando vens
                   ultrapassas ideias
                                            pensamentos
que pretendem prender
                                  o antes
                                               depois
e ao mesmo tempo
                            agora

Menino
usas todas as máscaras para brincar
                                 e nos surpreendes!

Poupas nossa fragilidade
                                   com ecos
                                                fragrâncias
(passo no caminho
                            és tu
                                    e quem caminha)

Coisa não és
                   mas concedes graça
à curva de um caminho
                   às folhas aromáticas
a um contato de amor
                               Se te evolas
não é como quem abandona
                               mas pelo gosto
de repetir-te
                    em nós por outras vindas
grandes e pequenas
                            enquanto houver espaço
para o Amor
                  Mas este nome — o mais próximo —
também não basta!
                           

 

 

De
Dora Ferreira da Silva
UMA VIA DE VER AS COISAS
São Paulo: Livraria Duas Cidades,  1973.  124 p.

 

AMORES

III
Não traçarei novos caminhos.
Entrelaçados, nascemos de raízes
mais fundas que saber.
És o que virá, se vieres.
E eu espero.  Véspera da morte,
agora que o amor é mudo ou canta sem parar.
E o canto um silêncio parece
de tão fundo viver, que a vida já se despe
de si mesma, e avança sem andar:
bem longe
ou perto
aberto dom
de
amar.

IV
Não o que dizíamos
nem o que víamos,
mas o olhar desviado,
taça em demasia.  E o que insistia:
os mesmos pórticos, a hora
na torre austera.  E tudo fazíamos
para não ouvir, calado,
o passo do passado
e não olhar, à janela cega,
um vulto debruçado
o olhar isento
do amor que não se vê
e, em fuga, se extravia.


 

 

 

SILVA, Dora Ferreira da.  Cartografia do Imaginário.   São Paulo: T. A. Queiroz Editor, 2003,  146 p.   14x21 cm.  ISBN 85-7182-080-5  “ Dora Ferreira da Silva “  Ex. bibl. Antonio Miranda

 

ASSIM COMO TODA MENINA...

 

Assim como toda Menina brinca

envolta em chalés de seda

encontrados nos porões...

Assim como toda Menina brinca

rainha do seu sonho

cercada de leões e pavor

mas certa porém e sempre

de um Cavaleiro de Amor,

assim brincava a Menina

desperta no seu torpor

o sonho dando-lhe a música

do silêncio ou do que for...

 

Assim brincava a Menina

envolta em chalés de seda

e a música mal se ouvia

(tudo então anoitecia)...

A Estrela brilhava no alto.

 

Ela ouvia extasiada

(o ouvido aberto em flor)

o que a música dizia

seja o que for o que for...

Seu coração palpitava

ouvindo a Estrela da Tarde

em sua luz transportada.

 

 

SILVA, Dora Ferreira da.  Jardins  (esconderijos).  São Paulo: 1979.  127 p.  14x21 cm.   Impresso nas oficinas gráficas da Editora Cupolo.  “ Dora Ferreira da Silva “  Ex. bibl. Antonio Miranda

 

ROSAMOR

 

Nem mesmo o Angélico achou tal cor em asa

ou manhã. Nenhum acorde tocou tal cor.

Nas palmas dos recém-nascidos dizem

que pode ser encontrada se a estrela for propícia.

Em pétalas — se a Natureza doar-se amando

à flor dileta. Um Poeta a descobriu na hora mais tardia

e ofertou-a em silêncio à visão derradeira.

 

Temerária procuro-a interrogo os sentidos

o tacto em pêssegos pousando sem peso

o gosto confuso e obscuro aprofundando

a carne da romã; o olhar demasiado à superfície

das rosas que têm nome — e escapam —

o ouvido ébrio confundindo a música.

Interrogo os sentidos: nenhum responde ao meu chamado.

Despeço o poema à porta — é inútil tentar

dizer tal cor estando viva e incerta

em tantos caminhos por onde começar.

 

 

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TEXTO EN ESPAÑOL

 

Koré

 

         Versión de Consuelo Olvera T.


¿Por qué siempre regresas mendiga
com brazaletes de oro y suplicantes ojos
de violeta?
Tus sandálias te traenn en harapos
de púrpura.  Es primavera.
El viento se debate
en los arbustos brillantes.
El jardín te esparce pétalos que reflejan
tu sonrisa
y se ofuscan.

Regresas. Siempre como tú
y me asedias:
vaso antiguo de cítara inspiración,
columna entre el arbolado.
Quieres cantar conmigo en el césped de mañana.
Conozco tus párpados, los rizos de tus cabellos,
la curva de tu cuello. Sin oírte
sé cómo cantas.

Regresaste, es primavera.
El jardín se adorna
con joyas de tu cofre,
perlas trémulas.

Fuerzas amiga demasiado las cuerdas
de mi canto.
Se revela en mí tu fragilidad.
Demora si puedes y con las cuentas de tus collares claros
guarda mi llanto
incluso cuando te vayas

 

 

Página ampliada e republicada em novembro de 2008; ampliada e recpublicada em agosto de 2010..

 

 

 

 



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