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                   Nasceu em 1975. Publicou os  livros de poesia: MCMXCVIII (Badaró,  1998), Descort (Hedra, 2003) e Icterofagia (Hedra, 2008). Traduziu  & anotou o livro de poemas de Ezra Pound, Lustra (2011). Publicou ensaios, traduções & otras cositas  neste Brasil, no México, nos EUA, no País de Gales, em Portugal & na  Argentina. Blog que publica no esquema otium  cum dignitate: http://odemonioamarelo.blogspot.com.br/. 
                    
                    
                  
                  VILLA, Dirceu.  O Demônio amarelo: desenhos, fotografías,  manuscitos, gravura & escultura de Dirceu Villa.  São Paulo: 2014.  22 p. ilus. col. 16x23 cm.  Design gráfico:  Rafael Machado.  Design gráfico:  Rafael Machado. Foto de capa: Valéria Garcia. Foto da quarta capa: Fabiana  Faleiros, com um agradecimento a Marcus Siqueira pela permissão de uso de  trechos da partitura de Signo Sopro 12.  
                    
                  
                    
                    
                    
                  
                  VILLA, Dirceu.  Transformador: poemas 1998-2013.  São Paulo: V. de Moura Mendonça – Livros,  2014. 308 p (Selo Demonio Negro) 16x23,3 cm.   ISBN 978-85-66423-15-0   Capa dura  revestida de tecido.   
                  Inclui poemas dos livros: MCMXCVII + inéditos (1998); Poemas de Descort (2002); Poemas de  Icterofagia + inédito (2008); Poemas de Couraça (2013); Poemas não-coligidos  (2008-2013)  e traduções de textos dos  poetas Horácio, Ovídio, Lorenzo de Medici, Samuel Daniel,  Voltaire, Paul Verlaine, James Joyce, Jean  Cocteau, Basil Bunting, John Berryman,  Joan  Brossa e Thom Yorke e bibliografía de Dirceu Villa. “ Dirceu Villa “ Tiragem:  100  exs. Ex. n. 030 na bibl. Antonio  Miranda. 
  
                  TO KAAON 
                    
                  We see to KaÀóv  
                  Decreed in the  market place.  
                  Ezra Pound 
                    
                  Queria fazer escolhas trágicas,  
                  mas sua vida era um casuísmo; 
                  pôs de molho as barbas  
                  e foi morar entre os suínos. 
                    
                  Seus versos, perdidos, perdidos  
                  totalmente, no tiroteio de  "ismos",  
                  faziam caretas, não  "máscaras".  
                  Não no corpo nem na cara, mas ferido 
                    
                  ele andava: "não me  entendem", 
                  e a fala clara enrolava em seu  umbigo, 
                  incomodava, "uma sujeira",  disse o amigo: 
                  "Tente escrever coisas que  vendem". 
                    
                  Dinheiro para comida e livros  baratos,  
                  mulheres nunca, apenas ratos  
                  lhe faziam companhia; 
                  trocava a noite pelo dia 
                    
                  vendendo suas brochuras,  
                  "Vocês gostam de poesia?"  
                  seus versos: Apenas, somente...  
                  ou,  Oh, incerteza da vida! 
                    
                  Suas estrelas, sentimentais,  
                  seu coração, alguém perfura.  
                  Era um mascate deprimente,  
                  mas a poesia, dizia,  "pura". 
                    
                  Envoi 
                    
                  Morrerá, mesmo indeciso; 
                  viveu só, e de improviso. 
                    
                    
                  LACRE  & TIMBRE 
                    
                  Enfim perfeitos,  
                  Lacre e timbre  
                  Eu ajeito. 
                    
                  Por sobre rios e montanhas 
                  Bosques velhos e planícies 
                  Eu autorizo que viagem 
                  Vejam gente, encontrem olhos, sejam  lidos. 
                    
                    
                  Façam qualquer coisa que reprima o  tédio  
                  Mas evitem os idiotas que malqueiram  versos. 
                    
                  E além dos prédios e fronteiras 
                  Boas conversas ou asneiras 
                  Imponham-se, 
                  Que o mundo hoje é só de ecos. 
                    
                    
                  A  FORJA 
                    
                  neu quid igne laederet  
                  Pervigilium Veneris 
                    
                  Líquida e metálica, com olhos de  mercúrio 
                  na correção inexplicável de passos e  roupas e ar que a compõe, 
                  o mais belo e triste animal, 
                            vazio  de sentido. 
                    
                  Algo em meu peito ferve mais do que  o aço na forja  
                  e quer, derretido, fluir pelo molde  de vazio e tristeza  
                  do mais belo animal, 
                            que  flutua sobre o asfalto. 
                    
                    
                  O  PARLAMENTO DAS ARVORES 
                    
                  A  primeira árvore  
                  apresenta  seu motivo de tristeza 
                    
                  Eu procurei no cansaço 
                  intentei 
                  a morte no outono 
                  minhas folhas caíram 
                  amarelo-roídas 
                  frágeis raízes no chão 
                  já podres 
                  não sustentam meu peso 
                    
                  II 
                    
                  A  segunda árvore diz como lidou com essa tristeza 
                    
                  Minhas raízes 
                  plantei-as no ar 
                  as folhas crescem na água 
                  crescem 
                  em qualquer lugar 
                  olhos brancos do inverno 
                  me vieram buscar 
                  eu não estava 
                    
                    
                  EU  ADORO 
                    
                  Todos  gravitam à sua volta. 
                  Gravitam, essa é a palavra, e você no centro  do sistema.  
                  Sob sua pele sedosa, o coração, e há  um segredo nele.  
                  A essência primordial de suas  fibras, onde surge todo calor: 
                  O que o manteria para sempre, e a  luz que você projeta?  
                  Não sabemos, e esse é o significado  de adorar. 
                    
                    
                    
                  BICICLETAS 
                    
                  E claro que você desconfia da  simplicidade  
                  tudo o que você teve sempre foi  muito difícil 
                    
                  Mas eu proponho o seguinte: 
                    
                  Dê uma olhada no sujeito que começa a  andar de bicicleta e depois dê uma olhada 
                  no garoto que sempre andou de  bicicleta 
                   
                    
                    
                  aula  magna na escola  
                  superior  de política 
                    
                  siglas ordinárias ternos tamanho  único  
                  barrigas inflam o perfil magro dos  candidatos  
                  barrigas que mal cabem no conceito  de camisa e vazam  
                  como a fétida gordura dos tanques  nos curtumes 
                    
                  ajudaria saber ao menos 
                    que obedecem a uma fatalidade estilística 
                  flatulência mental 
                  e asininos como lúcio apuleio 
                  num milagre orelhas longas patas  cauda surgiriam 
                    
                  discutem ninharias fingindo  convicção  
                  pavorosos bonecos de ventríloquo  
                  falam com línguas de pano puído  
                  atrás do palanque uma enorme  
                  mão enfiada fundo em seus traseiros 
                    
                  move mesmo a ponta de seus dedos  
                  tripas de embutidos de papel moeda  
                  da república cega com louros líricos  na testa  
                  já ouvi falar em ideologia e vomitei 
                    
                  mas qual era mesmo a sua dúvida  sobre isso? 
                    
                    
                    
                  desfaz de dentro 
                    
                  o cimento da ternura não compõe  
                  com a vida, com a fluida essência  
                  de sua forma. 
                             matéria dura,  ternura, impõe  
                  sua aposta impiedosa, a duração: sua presença  
                  inescapável, sem contorno,  
                  nos deforma. 
                             que se nos dá mais do  que dor 
                             ainda nos desfaz de  dentro, tormento,  
                  gota a gota,  
                  de permanência, onde tudo o mais 
                             se esgota. 
                    
                  
                   
                    Os poetas Antonio Miranda e Dirceu Villa
                  no Hussardos Clube Literario, em São Paulo 18/08/2014 
                    
                  
                  O PRISMA DE MUITAS CORES. Poesia de Amor portuguesa e  brasileira.    Organização Victor  Oliveira Mateus. Prefácio  Antônio Carlos  Cortes.  Capa Julio Cunha.  Fafe:  Amarante:  Labirinto, 2010  207 p.      Ex.  bibl. Antonio Miranda 
                    
                    
                    
                  Lyra aragonesa: refram de Abril 
                    
                                        Pero mi fez e faz Amor  mal 
                  Martim Moya 
                    
                  Não amor não pode  
                    mal fazer  
                    nenhum;  
                    ou torna o senhor escravo,  
                    escolhe em mil a mais 
                  gentil  
                    e colhe a dor do cravo no amargo  
                    mês de Abril? 
                    
                  [Se então tal mal me vem  
                    eu, sábio,  
                    o torno logo em bem:  
                    tolice é ter em sol tão certo  
                    deserto só  
  & desolação;  
                    e se esse é o preço 
                  que pago, 
                    bem pouco parece:  
                    um pequeno estrago 
                  no brio  
                    que bem o merece.] 
                    
                  Pois tal fervor demove o frio,  
                    e traz ardor à alma;  
                    e então a flecha  
                    erra acalma 
                    e põe o peito em guerra: 
                    torna o senhor 
                    escravo, 
                    o gentil prazer des 
                    terra. 
                    o estio já desfalece, 
                    é um pássaro sem 
                    pio 
                    no amargo mês 
                    de abril. 
                    
                    
                    
                  VEJA  e LEIA outros poetas de SÃO PAULO em nosso Portal: 
                    
                  http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/sao_paulo/sao_paulo.html 
                    
                    
Página  publicada em agosto de 2014;  
Página  publicada em janeiro de 2021 
 
                
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