D E S C A R T A D O
Eu já fui motivo
Hoje sou causa
Esquecido numa caixa d Playstation
Perdido num sonho embolorado.
Eu já fui sorriso
Sou lágrimas sem luzes
Lágrimas empoeiradas
Espremidas na escuridão sem fim.
Meu sorriso
Arremessado longe
Vai além dos traços amarelinhas
Sou um brinquedo descartável.
Já não escuto a voz dos teus olhos
Durante o dia o teu sorriso
Num cartão de memória se resguarda
Já não sou abrigo ao teu sorrir.
Eu já fui criança
Sou só-riso descartado
Abandonados retalhos de sonhos
Entre as frestas dum armário.
Sou brinquedo esquecido
Sou cantiga mau lembrada
Sou as coares aquebrantadas
Diante dum rosto retalhado.
G Ê N E S I S
Minha alma são fragmentos
Caleidoscópios de cunho ancestrais
O luso sangue que me cobre
Os sentimentos que elevam além mar.
Outrora origens maternas
Que rumam silenciosamente
Sertão a dentro
A desaguar nas brancas praias de Alagoas.
Sou os edifícios acinzentados
O asfalto sem vida
Os encharcos das chuvas
A nuvem que cobre o rosto de São Paulo.
Sou aquele que nasce da terra úmida
Nos galhos e ervas destes matos
As folhas secas dispersas
As vozes roucas das tribos Xucurus.
Eu sou fragmentos mouros
Hispânicos afrescos, poesia
Um esquecido colono holandês
O Cristo, o Buda e Iansã.
Minha alma são vitrais
Olhos escurecidos meio ao tempo
Arabescos cintilantes
Palavras e versos renitentes.