DANTE GATTO
Natural de São Paulo-SP, professor aposentado da UNEMAT, colaborador do Programa de Pós-graduação de Estudos Literários.
Escreveu e acompanhou a montagem de seis peças de teatro: Os vencidos (1985); A noite dentro da noite (1986); A Criação literária (1988); Amar, verbo intransitivo - adaptação (1995); Retorno ao futuro: a semana de 22 (1996) e A voz do povo: 500 anos de história (2000). A peça A noite dentro da noite, em 1990, recebeu o Prêmio “Textos inéditos do interior. Ano 90” do Projeto “Oswald de Andrade de Dramaturgia”, promovido pela Secretaria do Estado da Cultura de São Paulo.
Publicou três livros de poemas: Poesias (1980); Unimultiplicidade poética (2005) e A Ferida e outros poemas (2015). Publicou vários prefácios e poemas premiados em diversos concursos literários.
Extraído de
REVISTA PIXÉ - Cuiabá - Mato Grosso
EDIÇÃO NO. 5 – ANO 1 – AGOSTO/2019
P I N T U R A
Com os olhos cansados
Eu a vi pela primeira vez,
O sol pobre me ferindo a retina
Eu a vi, indistinta como um quadro impressionista.
Confundida na paisagem,
Ela foi chegando...
Não sei se chorava, mas estava triste,
Vulto exangue no cinza da cidade.
E quando já podia ouvir o ruído dos seus passos
A sua presença encobriu o sol
E por um suave momento
Bebi a doçura do seu olhar.
Ficou-me, então, a luz da sua presença
E distingui, primeiro, discretos tons de azul
Colorindo o cinza
Até as demais cores tomarem seu lugar
Entre o pastel e o verde
E a terna agressão do vermelho.
Quando ela me abraçou
Ficou-me,
No conforto do calor do seu corpo,
A paisagem sobre seus ombros:
As casinhas encarapitadas no morro da favela
Pareciam sorrir uma tristeza esperançosa
E as chaminés das fábricas
Não conseguiam abater o céu que ainda lutava
Pela linha do horizonte.
Ela se foi,
Mas a pintura ficou.
O J A R D I M
(à Rosineide Machado)
Quando um “não” a ameaçava
Ela, então, voltava atrás,
Mas a flor nunca secava
Nesse seu jardim de paz.
Os “nãos”, ela ali guardava
Como os “sins” e tudo mais.
Ambos ela cultivava,
Pensando nos roseirais.
Quando caia a chuva fria
Ela sem pensar abria
As asas de serafim
E ao “não” que não sorria,
Ela emprestava alegria
E lhe devolvia um “sim”!
Página publicada em agosto de 2019
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