DANIEL PERRONI RATTO
Daniel Perroni Ratto é poeta, jornalista, pós-graduado em Mídia, Informação e Cultura pela ECA/USP. Autor dos livros Urbanas Poesias (Fiúza Editores, 2000), Marte mora em São Paulo (A Girafa, 2012) e Marmotas, amores e dois drinks flamejantes (Patuá, 2014), Daniel também foi letrista e vocalista das bandas Loco Sapiens, Criolo Branco e Luz de Caroline. Colabora como cronista do UOL Música, do jornal Diário do Nordeste e portal culture-se.com. Tem poesias publicas em diversas revistas, tais como: Revista Gente de Palavra (RS), Mallarmargens revista de poesia & arte contemporânea (PR) e Revista Quincas (SP), entre outras. Em 2015, foi um dos poetas selecionados para participar da Exposição Poesia Agora, no Museu da Língua Portuguesa.
|
RATTO, Daniel Perroni. Marmotas, amores e dois drinks flamejantes. São Paulo: Patuá, 2014. 14x21 cm. capa dura. Editor: Eduardo Lacerda. Projeto Gráfico e Capa: Leonardo Mathias. Apresentação: Tatá Aeroplano. Prefácio: Roberto Bicelli. Posfácio: Natércia Pontes. ISBN: 9788582971277.
A fada-madrinha
Iara é a porra-louquice
A transgressão
Iara é a louca junkisse
A subversão
Iara é a bela crendice
A inspiração
É a liberdade sangrando
Na tua cara!
É o desejo pedindo
A tua tara!
Ela é a noiva
Da Rua Augusta
Amante de Bukowski.
Três dias virados
Iara entre putas, beats
Conhaque e whisky
A sarjeta é meramente
Ilustrativa
As mesas de sinuca
Pretextos
A vida pede pressa
A noite está com sede
Iara não se importa
O caos é seu deleite
Acabaram os cigarros
A garrafa tem um dedo
Em busca de outros maços
Pelas ruas vai sem medo
Rua Augusta
Óculos, cervejas e mantas flamejantes
Nos arcos belos da boemia
Encontros, festas e desejos flutuantes.
República das Bananas
No Brasil é assim mesmo,
banana dá em rama,
jerimum dá em pé de jaca,
uva dá em pé de manga,
caju dá em terra arada,
o povo é todo dando
e em Brasília,
tudo dá em qualquer lugar...
Águas de Marrecas (Gereraú)
Existe um lugar
Onde a magia existe
Esta é coisa simples
A natureza vai contar
Pássaros voam livres
Flores colorem o verde
É muito verde!
Frutas vivem
No céu o gavião sobrevoa
Imponente
Aqui a lagoa destoa
Intermitente
“Soinhos” pulam da mangueira
Anuns pretos nos cajueiros
A família de raposas, caça
E a coruja espreita
Nas casas de taipa
O fogão à lenha queima sabiá
Para alimentar o caboclo
É madeira que faz estaca
As redes no alpendre
O vento nas folhas
A vida no ventre
A esperança nas chuvas
Como é bom!
Comer caju no pé
Ou chupar manga coité
Colher o milho plantado
e vê-lo feito assado
Tem cururu do tamanho de sapato
De fato, o mel é das africanas
No pé, sandálias havaianas
E o menino leva o recado
As estradas ainda são de piçarra
O povo é daqueles que faz pirraça
Carroças e charretes
insistem em andar
levando vida
daqui para acolá
Esse lugar começou
Com a família Ferreira
Gente guerreira
Bem que se queira
Juntou-se à família Siqueira
Fazendo estória verdadeira
Esse lugar
das Águas de Marrecas
Pelos índios,
chamado Jererahú
Perpetua a magia
das estórias
que aparecem
nos sonhos do Uirapuru.
RATTO, Daniel Perroni. Marte mora em São Paulo. São Paulo: Selo A Girafa – Grupo Editorial Escrituras, 2012. Orelha: José Carlos Capinan. Apresentação: Joana Rodrigues. Prefácio: Francis Vale. Foto de Capa: Bruno Netto. ISBN: 8563610104
Espaço
Alugar um espaço vazio
Universo paralelo na sala de estar
Veículo poderoso O Navio
Naufrágio pode começar.
Nas paredes do tempo
Cataclisma redunda
A bunda do cismo
Ceticismo resmunga.
Grades empregam a ilusão
Do dia livre um dia
A ver a sorte na televisão
Orgasmo na pia.
Direções opcionais
Casuais do acaso
Fim do caso e tudo o mais
Sacanagem no mato.
Então mata a gula
Concreto armado calculado
Vidros refletem a crua
Cena cotidiana ao lado.
Correria saturada na esquina
Vermelhos sinais nos olhos
O povo que sai e vai à luta
Vento na face e o tapa nos ossos.
Gravatas solitárias nordestinas
Edificaram a cidade deserta
De almas perdidas
No sistema e tecnologia alerta.
Ruas embevecidas de sangue
Do estranho atalho suicida
Caranguejos escondem no mangue
A virtual realidade Pesticida.
Acato o tato
Mãos delicadas da encantadora
Dona do meu espaço
Sigo os tiros da metralhadora.
Sozinho novamente cresce
A paixão do sabor
Declamo a prece
De não saber de onde vem a dor.
Acredito nas prepotências
Adquiridas no Caos
De suas preferências
Vividas nas florestas do Laos.
Pratos na cozinha de madeira
Dizem os defeitos da gazela
Tolerância na boca do Leão
Acredito nas cores do camaleão.
Pegue-me! E faça a lição
Da carne crua e quente!
Movimentar águas do Tubarão
Sinta Use Tente!
Fuselagem prateada
Cadeado intacto decepcionado
Pernas sedutoras mapeadas
Por Desejos automatizados.
Palaciano entre médicos
Querubim acompanha o caminho
Trilhado por aquele garoto
Que passou dura vida
No destino de uma pipa.
O sucesso enfim apareceu
Seu primeiro sinal impresso
Agradou e surpreendeu
O cético que dizia impropério.
Alguém disse alguma coisa
Nem Liguei!
Ninguém falou da poita
Nem Liguei!
Vai ter briga no ar
Fato cotidiano entre prédios
Vai ter festa no mar
Casto palaciano entre médicos.
Premonição
Fiz como todos que estão
em busca do Elo Perdido
O mundo procura a evolução
As mais variadas classes do esgoto
Música envolvente. A minha canção.
Presentes de fases no submundo
atuante da marginalidade periférica
[e ovalada.
Calamidade social doentia contagia a trama.
Sociedade autodestrutiva, amor!
A jornada se estende por entres farrapos
[humanos
vistos na rua deserta de pavor.
Nas ruas somente os mortos-vivos
sem-terra sem-teto sem-nada
Visão apocalíptica do passado pouco remoto
onde flores apareciam nas janelas.
Perseguido pela polícia cai da moto
Fazia conexão nas favelas.
Veja você em que letargia
do movimento fast me encontro.
Casos do Neoliberalismo Fascista
Pós-Moderno
E viva o modelo social vigente!
Culturalmente proibido
para menores de três anos!
Ritmo da pistola potente
Faz rir as balas dos canos.
Viagens paraformais daqueles
Neo-Hippies Yuppies Junkies Espíritas
A real verdade inspira os espertos
de mente aberta ao desespero
das fugas populacionais
com medo do fracasso
a frustração do lado da TV
com a latinha de cerveja na mão.
Corrida contra o tempo!
Veneno aberto
Isso é a evolução, baby!
Vamos à revolução!
Essa é minha causa!
A busca do nada!
Que não o centro! O cetro!
Coral de virgens na igreja
a cantar o fim do mundo
Da Evolução!
Persevera a Vera valente
carente da teta que tinha maneta!
Prisões falidas
Meu jazigo encontrarei velho sem dó
que esperará a passagem
do profeta das palavras!
Loucura inevitável
Esclerose do dia a dia
realidade crua! Nua! Depravada!
O erotismo não é mais o mesmo!
O cibernético implante biônico
o chip de contrabando implantado
o sexo virtual inflável
E mapas infravermelhos fazem
a leitura da verdade nos sonhos!
Como saber da estória do amanhã?
O planeta Terra acaba de ser vendido
para a Multiuniversal Marciana.
RATTO, Daniel Perroni. Urbanas Poesias. São Paulo: Fiúza Editores, 2000. Capa: Maurício Dias. Prefácio: Willis Santiago Guerra Filho
VIDA E MORTE
Vida e morte frequente,
Sujeito indiferente.
Vírus eficiente
Relação poente.
Vida e morte ausente,
Sujeito carente,
Vacina perene
Relação nascente.
Paixão doente,
Amor, finalmente.
Virulento
Vida e morte Serpente.
Romance, o semblante.
Rosto permanente.
Em movimento circular
Sempre irradiante.
Controle de sentimentos
Por demais eloquente,
De máquinas de pensamentos
Morte e vida Cadente.
VERSO DE PALHA
Maré de um sol sem santo
O menino anuncia a maleita
Deveras, um brejo canto.
Clarividência aparente a Terra
De um mundo susto e branco.
Cigarro de palha e verso e falha,
O novo Lampião e seu destino cão
À emboscada sua gente escapa,
O novo ermitão e seu destino vão.
Mecenas de uma nação
Trejeito, sem jeito, manuseio,
Armas de uma população.
Na Caatinga cansada e castigada,
Um plantio sem solução.
Bravo!... O Mar,
Bravo!... O Céu,
Bravo! ... A Terra.
Valente o homem clemente
De luta e crença semente
O novo Lampião vai sobrevivendo
Na terra seca do Sertão Nordeste.
PARCHE VENENO
Munição desvairada,
Transmutação genética da alma
Mugango, densidade de passos sutis.
Brisa aparente e presente
O anunciar do pantim.
Patologia, esquizofrenia
Da promissória pessoal.
Movimento mecânico esférico
Da música canavial.
A Sub-Luta do lutador
Trabalhador Sub-humanizador
Inocência inocentada
Pelo indexador comum.
Coisa de qualquer outra cousa,
De um fato desqualificado
De um abraço sem outro traço
Coisa de qualquer lavoura.
Qualidade, vivacidade, antologia
Manutenção de uma cidade, criminologia
Aspiração, ensejo e tensão
Submundo da divulgação.
Enfim, sem fim, Serafim
Meia-idade, meio tempo, sagacidade
Sol, Ré, Mim, decerto até o fim.
Humildade, ilusão e maternidade.
Página publicada em setembro de 2015
|