CRISTINE BARTCHEWSKY
(São Paulo, 1983), andarilha de Sampa, futura jornalista, poetisa e insone. Principais atividades: ciceronear a loucura, flertar com o medo, rabiscar uns papéis imundos. Adora blues, Mário Quintana e maçã. Tem rinite, gastrite e pavor de lesma. Sente uma palpitação constante no peito. Participou da segunda edição do Vocabulário no b_arco. Suas poesias estão no http://paridoscomsanguepapel.blogspot.com.
Abri o armário
Olhei indecisa
Não sabia
O que vestiria
Felicidade
Ou alegria;
Mas como a moda
É misturar...
***
Ter uma cama
Para os desolados
Um amor
Uma dor
Ter mais que lembranças
Pra pregar nas paredes
Ter um colo
Consolo
Para as noites quentes
Sem esperar
O fim chegar.
***
Impressoras, telefones
E outros aparelhos eletrônicos
Em colapso
Gritando sons ininteligíveis
Neste cubículo enfadonho -
Prisão deste frigorífico humano;
minha boca abre qual a boca d'um peixe
A palavra muda se debate
Em convulsão, a pobre.
Enrolada na língua,
Presa entre os dentes...
Estrambótico ser
Desesperado e latente
Ansiando por um roto pedaço de papel
Fugindo de ouvidos entupidos pela cera dos mass media.
***
É sempre assim
Você pensa ser fácil,
Tipo café expresso,
Mas o copo vira na mesa
E começa a briga.
Primeiro round: Ele me odeia;
Segundo round: Eu odeio ele;
Intermináveis questionamentos
Desejo turvo, porém certeiro
Entre uma e outra que salta
Do palavrório
Me vejo com papel e caneta
E um poema capenga entre os dedos.
***
Está feito.
Os sons debaixo d'água
Parecem lentos e languidos
Ou o cérebro dopado
Por dor ou comprimido qualquer
Vertiginoso, adormece
O dia segue e o corpo
Impelido pela inércia
Fica num outro canto;
Mas não está lá, na frente
Da tela.
Página publicada em outubro de 2008.
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