POÉTICA
1
então é isso
quando achamos que vivemos estranhas experiências
a vida como um filme passando
ou faíscas saltando de um núcleo
não propriamente a experiência amorosa
porém aquilo que a precede
e que é ar
concretude carregada de tudo:
a cidade refletindo para sua hora noturna e todos indo para casa ou então
marcando encontros improváveis e absurdos, burburinho da multidão circulando
pelo centro e pelos bairros enquanto as lojas fecham mas ainda estão iluminadas,
os loucos discursando pelas esquinas, a umidade da chuva que ainda não passou,
até mesmo a lembrança da noite anterior no quarto revolvendo-nos em carícias e
expondo as sucessivas camadas do que tem a ver – onde a proximidade dos
corpos confunde tudo, palavra e beijo, gesto e carícia
TUDO GRAVADO NO AR
e não o fazemos por vontade própria
mas por atavismo
2
a sensação de estar aí mesmo
harmonia não necessariamente cósmica
plenitude muito pouco mística
porém simples proximidade
da aberrante experiência de viver
algo como o calor
sentido ao lado de uma forja
(talvez devesse viajar, ou melhor, ser levado pela viagem, carregar tudo junto,
deixar-se conduzir consigo mesmo)
ao penetrar no opalino aquário
(isso tem a ver com estarmos juntos)
e sentir o mundo na temperatura do corpo
enquanto lá fora (longe, muito longe) tudo é outra coisa
então
o poema é despreocupação
Após uma manifestação em defesa da reserva florestal
de Caucáia do Alto
por mim teria ficado por lá mesmo
no altiplano
onde tudo começou
bem acima
destes bolsões de pânico
bem longe
deste mundo coagulado
na devida distância
desta fantasia sulfurosa
na qual moramos
teria ficado por lá mesmo
mergulhado na lagoa de reencontro
escavada na superfície do planeta
em sua primitiva forma
ficar por lá mesmo
encontrar o mais puro rastro vegetal
entre samambaias sem memória
cipós de sabedoria
e círculos de névoa
ficar lá mesmo
buscar o segredo do arenito
a linguagem da pedra
percorrer o avesso da consciência
ficar por lá mesmo
nunca mais sair
deste planeta
frio e luminoso
e sempre celebrar
a redescoberta do corpo
pela planta dos pés
À tarde
olhar com o olhar espantado
o vôo do primeiro pássaro noturno
e saber que em breve
haverá algum tipo de confronto
de alucinação coletiva, uivo geral
saber
que por trás do olho
guardamos uma planície de risadas
dobrada em algum desvão da alma
- a sensação lisérgica de estar aí
e perceber
a fumaça dos últimos acampamentos
a casa na encosta do morro
o albatroz que arrepia sua trajetória
os mosquitos que zumbem e que zumbem e que zumbem
nesta tarde
em que três petroleiros se encaram
e trocam sinais ao largo
e uma memória nos persegue
de rios, cataratas e pororocas
nesta praia
que é fim e começo
de qualquer coisa já sabida e possuída
e oculta
no oco da última fibra nervosa
Extraídos de Estranhas Experiências . Rio de Janeiro: Lamparina editora, 2004.
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De
jardins da provocação
São Paulo: Massao Ohno; Roswitha Kempf, 1981.
“Sua visão da poesia como caminho para a libertação dos corpos e das mentes como única forma de restituir aos signos a sua verdadeira significação. Para Willer, como para Rimbaud, a festa sígnica é uma representação e um paralelo da orgia dos corpos e uma pré-figuração da sociedade na qual desejamos viver, pautada exclusivamente pelos ditames do Princípio do Prazer, pela livre manifetação de todos os desejos e paixõe. A irreverência e o deboche expressam-se, nesta obra sob forma de uma torrente de fulgurantes imagens surrealistas.” Marcos Faerman
MAIS UMA VEZ
mergulho no amor
com a cega convicção dos suicidas
penetro passo a passo
nesta região misteriosa
turva
opaca
aberta pelo encontro dos corpos
e sinto outra familiaridade nas coisas
esta calma permanência dos objetos
agora formas de lembrar-se
o mundo
que se reduz a traços da presença
a realidade
que fala ao transformar-se em memória
tudo é conivência e signo
o espaço uma extensão do gesto
as coisas
matéria de evocação
qualquer coisa treme dentro da noite
como se fosse um som de flauta
e a cidade se contorce e se retrai
MAIS UMA VEZ
ao abrir-se para este turbulento silêncio
de olhar frente ao olhar
pele contra pele
sexo sobre sexo
À TARDE
olhar com o olhar espantado
o vôo do primeiro pássaro noturno
e saber que em breve
haverá algum tipo de confronto
de alucinação coletiva, uivo geral
saber
que por trás do olho
guardamos uma planície de risadas
dobrada em algum desvão da alma
— a sensação lisérgica de estar aí
e perceber
a fumaça dos últimos acampamentos
a casa na encosta do morro
o albatroz que arrepia sua trajetória
os mosquitos que zumbem e que zumbem e que zumbem
nesta tarde
em que três petroleiros encaram-se
e trocam sinais ao largo
e uma memória nos persegue
de rios, cataratas e pororocas
nesta praia
que é fim e começo
de qualquer coisa já sabida e possuída
e oculta
no oco da última fibra nervosa
WILLER, Cláudio. Dias circulares. São Paulo: Massao Ohno Editor, 1976. 119 p. 18x21 cm. Inclui: Postfácio— Manifesto II 1976; Poemas Verticais 1973/75; Dias circulares – Poesis 1966/69; Anotações para um Apocalipse 1964; Fronteiras e dimensões do grito – Manifesto 1964. “ Cláudio Willer “ Ex. bibl. Antonio Miranda
OS JARDINS SULCADOS DE ASSOCIAÇÕES — LIVRES
Cada experiência de aniquilação traz as vibrações dos mesmos ecos.
É inútil ficar repetindo o nome, nada é capaz de ativar os eletrodos
da magia negra, nada pode colocar em seus lugares estas sombras
sulcadas, nada é capaz de
FRAGMENTOS 1968/70
E as árvores, o que dizer delas, subirão sempre pelo dorso do viajante
cobrindo o horizonte de
folhas magnéticas e bonecos de ventríloquo despedaçados, formando
um tapete, um véu, uma névoa
até onde a rosa passe
a ser uma representação do abismo e o vácuo tome conta
com uma sobra metálica por detrás
do olhar retorcido pela virtude
TEXTO EN ESPAÑOL
POÉTICA
Traducción de Adolfo Ruiseñor
1
entonces es
cuando descubrimos que vivimos extrañas experiencias
la vida como una película pasando
como chispas saltando de un núcleo
no propiamente la experiencia amorosa
sino todo aquello que la precede
y que es apariencia
concreción cargada de todo:
la ciudad fluyendo para las horas nocturnas y todos
yendo para casa o señalando entonces encuentros
improbables y absurdos, barullo de la multitud
circulando por el centro y por los barrios mientras
los comercios cerrados todavía están iluminados, los locos
perorando por las esquinas, la humedad de la lluvia
que aún no termina de caer, hasta el mismo recuerdo
de la noche anterior en el cuarto revolviéndonos en caricias
y más de nuestro encuentro en la tempIada oscuridad de um
bar — la hora confesional, mostrando las sucesivas
secuencias de lo que tenía para observar — donde la cercanía
de los cuerpos confunde todo, palabra en beso, gesto em
caricia
TODO GRABADO EN APARIENCIA
y no hecho por voluntad propia
sino por atavismo
2
la sensación de estar ahí mismo
en armonía no necesariamente cósmica
en plenitud escasamente mística
con todo mera proximidad
la aberrante experiencia de vivir
algo como el calor
sentido no a gran distancia de una fragua
(tal vez debiese viajar, o, mejor, todavía, ser llevado
por el viaje, cargar todo junto, dejarse conducir
consigo mismo)
al internamos en el opalino acuario
(y eso tiene que ver con que estemos juntos)
y sintamos el mundo en la temperatura del cuerpo
en cuanto allá afuera (lejos, muy lejos) es todo otra cosa
entonces
el poema es despreocupación
Poemas extraídos de ALFORJA- REVISTA DE POESÍA, México, n. XIX invierno 2001.
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ANOTACIONES PARA UN APOCALÍPSIS
Traducción de Leo Lobos*
http://triplov.com/cyber_art/Leo-Lobos/2007/Claudio-Willer/index.htm
(publicado en Anotações para um Apocalipse – Anotaciones para un apocalipsis, 1964)
La Fiera volverá, con su rostro de trenzas de plata, desnuda sobre el mundo. La Fiera volverá, metálica en la convulsión de las tempestades, musgosa como la noche de los jarrones de sangre, fría como el pánico de las arenas menstruadas y la ceguera fija contra un reloj antiguo. Un sueño asírio, es nuestra dimensión. Un cráneo amargo, velando con la inconstancia del sarcasmo en medio de emboscadas de insectos, un cráneo azul y surcado, a la ventana en los momentos de espera, un cráneo negro y fijo, separado de las manos que lo amparan por tubos y esfumando los bronquios de la memoria – así se solidificaran las vertiginosas jugadas sobre el barro divino. El incesto es una tempestad de lunas gelatinosas y la más bella aspiración de los miembros disociados. En cada órbita una avalancha de campanas fértiles y de arcángeles terrestres por la sombra. El incesto es el sueño de una matriz convulsiva y la más profunda ansia de las cigarras. Vulvas de cemento armado y urnas ensangrentadas, vaginas impasibles contra un cielo de veludo, guardianes de océanos imposibles. Millones de láminas sirven de puente para los deseos obscuros – la más afilada traba a nuestra Verdad.
VISIÓN PARÍS 1968 AÚN INVIERNO
- fragmento –
Traducción de Leo Lobos*
http://triplov.com/cyber_art/Leo-Lobos/2007/Claudio-Willer/index.htm
(publicado en Dias Circulares – Días Circulares, 1976)
los árboles son tentáculos fijados al suelo por el invierno
los perros de las madames se localizan en el instante
las palomas son querubines confusos en su materialización
el cielo un cobertor eléctrico
atrayendo todos los fragmentos del hielo
el margen del río un punto de interrogación
los barqueros una mirada delante del aullido del abismo
los pasantes armaduras atónitas
la multitud es el grito que traspasa el corazón del javali
a cada momento el sentido de la vertical se torna más agudo
hasta rodearnos, impulsionar, dominar
en un mismo flujo alucinado
correria de personas sin saberes de fin a comienzo
con miedo de correr el riesgo de encontrarse
en las paredes eléctricas
de las casas esverdeadas
voraces en su ambiguedad
peligrosas en sus desvaneos
cada canto oculta un paraguas en riste
y no sabemos si es encima o en bajo
contraida por los tentáculos del metro
o grudada en el cielo detentor del frío
que se esconde en la mujer
responsable por las súplicas microcósmicas
imperceptíbles para quien no posee el sentido eléctrico de las cosas
*Leo Lobos, poeta chileno, há traducido poetas brasileños , es colaborador de várias publicaciones continentales y de Brasil, y de nuestro Portal de Poesía Iberoamericana.
Extraído de:
MARTINS, Floriano. Un nuevo continente. Antología del surrealismo en la poesía de nuestra América. Selección, proyecto editorial, estudio introductorio y notas Floriano Martins. Caracas, Venezuela. Ex. bibl. Antonio Miranda.
Una frontera para el grito
Inseguro entre el cielo y la estepa, suspenso en un fluir de rueda gigante, embebido en mi nostalgia de centauros, yo devoro pedazos de musgo y raíces de plátano, extendido en jardines interminables donde se modelan arcángeles. Habría sido mucho más fácil escribir cartas de amor, para que fueran extendidas a lo largo de los caminos y las paredes de los tribunales —son inútiles para la vida, sin embargo, estos poços instintos que lentamente se devoran unos a los otros— nos queda apenas una memoria de fugas de amantes, la grandeza del gesto de un epiléptico, la soledad profunda de los grandes seductores. Hay sueños, pero que nos acometen con una simetria de zampoñas; hay también la necesidad de escribir testamentos, siempre oscuros, insultando a los jardineros de las plazas públicas, y aquellos que comen hostias con una regularidad de araña y almacenan restos de cigarrillos en arcas de acero, temerosos de la posteridad. Es absolutamente necesario, también, que conclamemos por la unión de los hambrientos de santidad, los guardianes de serpientes y domadores de circo, los exploradores de los subterráneos, de los puentes y viaductos, los exiliados voluntarios, para partir juntos a la búsqueda de la inviolable libertad de los caminos seguidos al acaso, y de la verdad contenida en las escalinatas, pórticos paredones que se derrumban.
(de Anotações para um apocalipse, 1964)
El serpentario y sus ramificaciones
La ciudad y su esqueleto múltiple e inevitable, sus animales incendiados y torbellinos de hambres sin fin. Dentro de ella, el gran estómago absorbiendo todas las contemplaciones. Vitrales pulverizados envuelven a los grandes predios, la magia se coloca al alcance de todos como un pasamanos que apunta a la muerte de la perspectiva. Fueron setenta vidas, tal vez más, contenidas en el espacio de algunos días, límpidos, convergentes, inevitables, surcados por la proximidad de los ciclones, vivencia del gran seno plástico que abriga los deseos del alma, de las cuerdas tensas del violín; setenta vidas y después de eso la sobrevivencia. Todavía el esqueleto más deshidratado que antes, la cavidad de los ojos, el cráneo abandonado en la selva sin metamorfosis. Es preciso adornar los pasillos con láminas a cada nueva aproximación del ser amado, construir veredas de sangre definitiva, único homenaje posible, antena, precipitación, anatema, presencia, rastro fijo. La ciudad, sus diversas carnadas y esqueletos, su pulsación inquietante; sobre ella, la lluvia de horóscopos que se precipitan a cada nuevo encuentro. Se hace necesario escoger las palabras encantadas, abriendo nuevos espacios de magia (¿penetración, vértebra, succión?). Todo, sin embargo, no pasa de una incorporación más. Prosigo en la ruta
sabática. Busco los claros dejados en el bosque por el cerimonial
Máscaras de alabastro con lenguas de hielo se precipitan aún en
el cuarto, a partir de determinados puntos, lentas y solemnes como si estuviesen infladas de hidrógene.
(De Días circulares, 1976)
Los poetas apenas transcriben lo que otros poetas ya dijeron
A los amantes otra vida es concedida
HOLDERLIN
Despertemos en este domingo de tentáculos solares que amenazan con apoderarse del resto de la semana; con la persiana baja, el cuarto es penumbra doada, atardecer constante, sea cual fuera la hora del día. Via-jeros inmóviles miramos el hilo de humo del cigarrillo plantado en el centro del cuarto, su movimiento pausado a la manera de los sargazos, aguapes, laberintos y demás símbolos de la memoria. Como plantas acuáticas a la deriva, vinimos a parar aquí, fugitivos del excesivo mundo, prisioneros voluntarios de este mínimo espacio. A cada nueva caricia, cada pérdida de manos en los meandros del cuerpo de otro, nos transformamos en personajes del mismo sueño: el mundo finalmente reducido a la dimensión de la colcha tirada sobre la cama, a la geometría armoniosa de las sábanas y almohadas náufragas. Nuestra desnudez es un desafío al tiempo: todas las horas formas de siempre, multiplicadas por el mismo gesto de acariciarse. Poseídos de la misma calma de los ríos que desaguan en su pantano, y van reconociendo poco a poco sus nuevas márgenes de contornos imprecisos, sus raíces y troncos sumergidos, hablamos poco, pues todo tiene significado, incluso los gestos más sencillos, encender un cigarillo, tomar café. El despertar es reconocimiento y retorno a los mismos gestos rituales, manos construyendo nuevos laberintos de sensación de lo suave y lo áspero de la piel, navegación de uno para el otro para después volver a hundirse en las sábanas tibias. No insistimos en ser mucho más que esto, un archipélago de superficies del cuerpo y sensaciones de la piel. Y esta umedad que sólo el amor logra crear, impregnando el aire y recubriendo la pared. Y los olores del cuerpo, qué decir de ellos, de esta aura de sudor, esperma, perfume, hálito, secreción y misterio, que cargamos con nosotros que nos da la certeza de existir y de estar vivos. Identidad con el mar, conocimiento de las voces del atardecer, memoria de los pasos recibidos por la arena de la playa. Somos signos de la tierra, nos acompaña algo de tierra apenas revuelta, pequeños lagos con sus plantas, selvas que aún existen. Como todo, esto es difrrente del resto y nos vuelve irreversibles. Todos los poemas el mismo poema. Nos libertamos, dejamos de ser prisioneros del horóscopo. Reponemos el mundo en su debido lugar, después de tomar una poción mágica. Complicidad de samuráis que se preparan para la lucha en un juego vertiginoso de espadas, sabiduría de quienes saben moverse en la oscuridad. La percepción destrabada en esta planicie de penumbra dorada de ardecer que se refleja en la piel. No importa donde usted esté ahora, y a qué distancia. No existen saudades, sino soles que circulan en nuestras venas. Ninguna sensación de pérdida o de vacío, sino de crecimiento, algo que ganamos en este complicado errar por el planeta en la búsqueda de nuestra identidad. Y también esta niebla familiar que se posa a mi lado en la semilucidez de la vigilia, hecha de sensaciones de cuerpos, presencias, toques de la piel, pulsaciones, calentura, este confuso ovillo de memorias, de voces y de olores, que poco a poco se desata y se transforma en poema.
(de Jardins da provocação, 1981)
TEXT EN FRANÇAIS
Extraído de
POESIA SEMPRE – Revista Semestral de Poesia – Ano 2 Número 4 – Rio de Janeiro - Agosto 1994 - Fundação Biblioteca Nacional. ISSN 0104-0626 Ex. bibl. Antonio Miranda
Une Fois de Plus
("Mais uma vez")
Je sombre dans l'amour
avec une conviction aveugle et suicidaire
pas à pas je m'enfonce
dans cette région mystérieuse
trouble
opaque
ouverte sous la rencontre des corps
et je sens une harmonie nouvelle dans les choses
cette placide permanence des objets
devenus porteurs de souvenances
le monde devenu souvenir de présence
le réel qui bavarde en devenant mémoire
tout est signe et connivence
l'espace une extension du geste
les choses
matière d'évocation
quelque chose frémit au coeur de la nuit
tel une flûte en mélodie
et la ville se tord et se retire
Une Fois de Plus
en s'ouvrant
à ce turbulent silence
oeil contre oeil
peau contre peau
sexe sur sexe
Traduction de Rafaël Lucas
Visiteurs
("Visitantes")
In otre espace
est l'espace du terrible
marécages
balayés par la tiédeur brûlante des vents
traversant le chant des roseaux
et la nuit définitive et le cri pétrifié
pénétrons lentement
dans ce jardin de refus
où le mot cherche l'espace
il n'y a plus grand signe de vie
sur la face de cette planète
peut-être y a-t-il un lieu
où l'on entend encore le souffle du vent dans les arbres
des voix lointaines emplissant les vallées
des aboiements sur un versant perdu de montagne
devenons plante
racine
ou mineral brut
pour qu'il nous soit possible de parler
Nous Survivrons
Traduction de Rafaël Lucas
Página ampliada e republicada em dezembro de2017
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