CHRISTIANE TRICERRI
(São Paulo, 19 de Agosto de 1961) Atriz e diretora formada pela Escola de Comunicações e Artes da USP, integrante do Teatro do Omitorrinco, participou de vários espetáculos como atriz, entre eles, Ubu, de Alrred Jarry, O Doente Imaginário, de Molière, Sonho de uma Noite de Verão e A Comédia dos Erros, de Shakespeare, se apresentando em diversos países como México, Espanha, Alemanha, Estados Unidos, Costa Rica, Colômbia, etc. Este é seu primeiro livro de poesia.
Em 2006, retorna ao Teatro do Ornitorrinco com a montagem de O Marido vai à Caça de Georges Feydeau. Em 2007, filma o curta-metragem A Cauda do Dinossauro, com roteiro seu e de Angeli, sob a direção de Francisco Garcia.
No ano de 2008, ainda com o Teatro do Ornitorrinco, produz e atua no espetáculo A Megera Domada, para comemorar os 30 anos da Companhia. Sob este pretexto, a produção convoca colaboradores dos velhos tempos e sobem ao palco, além de Tricerri e Cacá Rosset nos papéis centrais, Rubens Caribé, Ronaldo Malachias, Guilherme Freitas, Gerson Steves, Paulo Vasconcellos, William Amaral e grande elenco. Ainda em 2008, Tricerri capitaneia o lançamento de um livro comemorativo aos 30 anos do grupo. Em 2013, Christiane integra o elenco da telenovela Amor à Vida, no horário nobre da Rede Globo.
TRICERRI, Christiane. Figos-da-Índia. São Paulo: Arte Pau-Brasil, 1994. 57 p. 13x18 cm. (Coleção ah! Poesia brasileira, v. 3) Ilustração da página de rosto “Figo-da-Índia”, aquarela e grafite Eddy Tricerri. Tiragem: 1000 exs. Col. A.M.
Eu vou escrever para
o resto de meus dias.
Isto é uma certeza,
não uma rima.
Ainda me resta a mim
Eu não caibo mais
em mim.
Eu sou a única pessoa
que ainda me resta
e não me amedronto
com minha alma
perversa.
Alma confusa de mulher
Poeta, de mulher indefesa
que criou coragem e se
embruteceu.
Eu não caibo mais em
mim, senhor!
Dá-me teu amor,
Misericórdia.
Uma alma que voa,
quer ser livre e
quer ser mãe.
Tende piedade nestes
dias tão chuvosos umedecendo
os esqueletos. Senhor!
Protege o menino Vicente
que nem sente a saudade
que deixou.
Não adianta sair daqui
agora.
Chove por toda parte.
Não há saída de emergência.
Imagens de santas me
Acudi, na temperança entre
minha casta maturidade
e minha loucura insolente.
Governa-me uma só vez!
Eu não caibo mais em mim, Senhor!
Dá-me tua mão,
Misericórdia!
As freiras
A madre superiora,
eu não queria!
Mas aquela que me dava
aulas de piano
e me batia nas coxas
todos os dias!
Ah! Aquela, eu não queria!
Mas, por que nas coxas,
todos os dias me batia,
com as mãos que lhe
restavam fora do hábito?
Restava também o rosto.
Então por que não me
beijava? Me batia.
Adentrei a clausura
e me pus a espiar
por entre as pernas
da cama as coxas
de freira.
Deus me ajudou! Nunca
me viram na clausura,
nem embaixo da cama.
Queria despi-las e espiá-las.
Morenas, brancas, cabelos
que não se via.
Aquela que não se vê,
que fantasia!
Não vi só as coxas, mas
oque vi não conto.
Pois antes não tivesse visto.
Quão belo era o corpo!
Quão bom era mostrá-lo!
Figos-da-Índia
São tenros. Mas para colhê-los
e descascá-los, quanto sangrei.
Eu quero os figos-da-Índia,
como eu.
Aos outros, sirvam-lhes
os enlatados.
Página publicada em setembro de 2013
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