CARLOS SEABRA
Carlos Tabosa Saragga Seabra, 52 anos, casado, editor, 3 filhos, 2 netos. Nascido em Lisboa, Portugal, residindo há 38 anos em São Paulo. (Dados de 2005)
Editor e produtor de conteúdos de multimídia e internet, consultor de tecnologia educacional e redes sociais, autor de diversos artigos, softwares educacionais, jogos de entretenimento, sites culturais, educacionais e corporativos.
Os gêneros literários constituem marcos retóricos ou poéticos, legitimados pelas convenções. Cumpre aos poetas segui-los e, depois, ultrapassá-los.
É o que se verifica com os Haicais de Carlos Seabra. Encontram-se mais próximos da forma do que do espírito. É que a alteridade da composição, transplantada ao solo brasileiro, incorpora os sinais da tradição poética local. Tudo em versos mínimos, de rapidez eletrônica.
Carlos Seabra visita vários núcleos temáticos, com um gestual de cirurgião plástico. Ventila os pequenos poemas ora com o sopro romântico, ora com a graça da ironia, que não chega, todavia, à mordacidade. FÁBIO LUCAS
Como disse Massao Ohno, “Se há versos brancos deverão haver "haicais brancos" onde a métrica, acentuação e rimas não precisarão necessariamente ser seguidas à risca. Apenas o espírito, o momento poético deverá existir para que subsista o poema.”...
"Os haikais de Carlos Seabra, que tais, ou não. Ele experimenta, busca novas formas de composição. Às vezes aproxima-se do "kigô", à percepção do tempo e do espaço, do ambiente imediato/transcendente. Sem rimas. Ou, À Guilherme de Almeida, adotas rimas sonoras, que tão ritmo e, como bem percebeu Fábio Cunha, "incorpora os sinais da tradição local". Envereda pela sátira e pelo erotismo... Que tais, haikais. Excelente, fluído, instigante, surpreendente. O livro de Carlos Seabra saiu em 2005 pelo selo editorial (já) mítico de Massao Ohno. Quinhentos exemplares. Recomendáveis e colecionáveis." ANTONIO MIRANDA
Veja mais textos de Carlos Seabra em: http://haicaisequetais.blogspot.com
o vento afaga
o cabelo das velas
que apaga
*
folhas no quintal
dançam ao ventos
com as roupas no varal
*
no despenhadeiro
a sombra da pedra
cai primeiro
*
casa quieta —
cochila o avô e
dorme a neta
*
chora poeta —
musa obesa pensa
só em dieta
*
que delícia
um decote aberto
com malícia
125
GOTAS
pequenos dedos
das gotas de chuva
massageiam a terra
124
FAROL
os raios de sol
iluminam de manhã
o velho farol
123
SAUDADE
travesso gato
com saudade do dono
mija no sapato
122
CUIDADO
olhos felinos
e um corpo de mulher -
cuidado meninos!
121
CONTO
era uma vez
um sapo que beijado
poeta se fez
120
GAIOLA
pássaro preto
tem irmão na gaiola:
pássaro preso
119
PULGA
pinta no nariz -
era uma pulga que
fugiu por um triz
118
FLORESTA
que flor é esta,
que perfuma assim
toda a floresta?
117
ALTAR
ao te adorar
não sei mais se tens
corpo ou altar...
116
FONTE
velha na fonte —
os cântaros se enchem
o sol se esconde
115
MADRUGADA
ave calada —
ninho em silêncio
na madrugada
114
GAIVOTAS
espuma do mar
adensa o voo das
gaivotas no ar
113
LADRÃO
beijo roubado
é o butim do ladrão
apaixonado
112
ONDAS
as ondas beijam
os lábios da praia -
bocas do mar
111
ESPIRAL
espiral de sol -
luz nas frestas da
escada em caracol
110
BRIGA
briga de gatos
na sala de jantar —
vaso em cacos
109
MORTO
caído, um corpo
acabado, um sonho
imóvel, um morto
108
ALICATE
com alicate
abre o maluco
um abacate
Página publicada em julho 2007; ampliada e republicada em dezembro de 2010 depois do encontro com o poeta durante a VI FLIPORTO -- Festa Literária Internacional de Pernambuco, em Olinda.
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