Home
Sobre Antonio Miranda
Currículo Lattes
Grupo Renovación
Cuatro Tablas
Terra Brasilis
Em Destaque
Textos en Español
Xulio Formoso
Livro de Visitas
Colaboradores
Links Temáticos
Indique esta página
Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Foto: http://unegroriodejaneiro.blogspot.com.br/

CARLOS DE ASSUMPÇÃO

nasceu em 23 de maio de 1927 em Tietê/SP. É Advogado militante na Comarca de Franca/SP. Membro da Academia Francana de Letras, tirou o primeiro lugar no AII Concurso de Poesia Falada@, de Araraquara/ SP, em 1982, com o poema Protesto. Em 1958, por ocasião do 701 aniversário da Abolição, recebeu o título de Personalidade Negra, conferido pela Associação Cultural do Negro, em São Paulo/SP.

 

A RAZÃO DA CHAMA. Antologia de poetas negros brasileiros.  Seleção e organização de Oswaldo de Camargo.  São Paulo, SP: GRD, 1986.  122 p.  11,5x20,5 cm.  “ Oswaldo Camargo “ Ex. bibl. Antonio Miranda

 

PROTESTO

 

Mesmo que voltem as costas

às minhas palavras de fogo

Não pararei de gritar

Não pararei

Não pararei de gritar

 

Senhores

Eu fui enviado ao mundo

Para protestar

Mentiras ouropéis nada

Nada me fará calar

 

Senhores

Atrás do muro da noite

Sem que ninguém o perceba

Muitos dos meus ancestrais

Já mortos há muito tempo

Reúnem-se em minha casa

E nos pomos a conversar

Sobre coisas amargas

Sobre grilhões e correntes

Que no passado eram visíveis

Sobre grilhões e correntes

Que no presente são invisíveis

Invisíveis mas existentes

Nos braços no pensamento

Nos passos nos sonhos na vida

De cada um dos que vivem

Juntos comigo enjeitados da Pátria

 

Senhores

O sangue dos meus avós

Que corre nas minhas veias

São gritos de rebeldia

Um dia talvez alguém perguntará

Comovido ante meu sofrimento

Quem é que está gritando

Quem é que lamenta assim

Quem é?

E eu responderei

Sou eu irmão

Irmão, tu me desconheces?

Sou eu aquele que se tornara

Vítima dos homens

Sou eu aquele que sendo homem

Foi vendido pelos homens

Em leilões em praça pública

Que foi vendido ou trocado

Como instrumento qualquer

Sou eu aquele que plantara

Os canaviais e cafezais

E os regou com suor e sangue

Aquele que sustentou           '

Sobre os ombros negros e fortes

O progresso do país

O que sofrera mil torturas

O que chora inutilmente

O que dera tudo o que tinha

E hoje em dia não tem nada

Mas se hoje grito não é

Pelo que já se passou

O que se passou é passado

Meu coração já perdoou

Hoje grito, meu irmão,

Ë porque depois de tudo

A justiça não chegou

 

Sou eu quem grita sou eu

O enganado no passado

Preterido no presente

Sou eu quem grita sou eu

Sou eu, meu irmão, aquele

Que viveu na prisão

Que trabalhou na prisão

Que sofreu na prisão

Para que fosse construído

O alicerce da nação

 

O alicerce da nação

Tem as pedras dos meus braços

Tem a cal das minhas lágrimas

Por isso a nação é triste

É muito grande mas triste

E entre tanta gente triste

Irmão, sou eu o mais triste

 

A minha história é contada

Com tintas de amargura

 

Um dia sob ovações e rosas de alegria

Jogaram-me de repente

Da prisão em que me achava

Para uma prisão mais ampla.

Foi um cavalo de Tróia

A liberdade que me deram

Havia serpentes futuras

Sob o manto do entusiasmo.

Um dia jogaram-me de repente

Como bagaços de cana

Como palhas de café

Como coisa imprestável

Que não servia mais pra nada.

Um dia jogaram-me de repente

Nas sarjetas da rua do desamparo

Sob ovações e rosas de alegria.

Sempre sonhara com a liberdade

Mas a liberdade que me deram

Foi mais ilusão que liberdade

 

Irmão, sou eu quem grita

Eu tenho fortes razoes

Irmão, sou eu quem grita

Tenho mais necessidade

De gritar que de respirar.

 

Mas, irmão, fica sabendo

Piedade não é o que eu quero

Piedade não me interessa

Os fracos pedem piedade

Eu quero coisa melhor

Eu não quero mais viver

No porão da sociedade

Não quero ser marginal

Quero entrar em toda parte

Quero ser bem recebido

Basta de humilhações

Minha alma já está cansada

Eu quero o sol que é de todos

Ou alcanço tudo o que eu quero

Ou gritarei a noite inteira

Como gritam os vulcões

Como gritam os vendavais

Como grita o mar

E nem a morte terá força

Para me fazer calar!

 

Página publicada em setembro de 2014


 

 

 
 
 
Home Poetas de A a Z Indique este site Sobre A. Miranda Contato
counter create hit
Envie mensagem a webmaster@antoniomiranda.com.br sobre este site da Web.
Copyright © 2004 Antonio Miranda
 
Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Home Contato Página de música Click aqui para pesquisar