CARINA CASTRO
Carina Castro (SP, 1988) é poeta e pesquisadora na área de Literatura Comparada. Escreve também Literatura Infanto-juvenil, com um conto que recebeu o Prêmio Lusofonia (2012) de Portugal. Estudante de Língua e Literatura Árabe na USP. Assina a coluna Infante Ingente na Revista Ellenismos. Tem poemas publicados em antologias, revistas digitais e suplementos literários. Reminiscências do mar a embalam a estar perto dapoesia, do canto, do sopro, orientar-se pelo que diz o desconhecido.
Caravana é seu livro de estreia, coleciona e escreve algumas coisas em Tudo é Coisa. http://tudoecoisa.wordpress.com/
CASTRO, Carina. Caravana. São Paulo: Patuá, 2013. 96 p. ( Coleção Patuscada, v. VIII ) Ilustração de capa e interna: Deborah Erê. Projeto gráfico: Leonardo Mathias. Editor Eduardo Lacerda. ISBN 978-85-8297-011-9 Apoio Prefeitura Municipal de São Paulo, Secretaria de Cultura. Col. A.M.
Cartográfica
de distâncias traçadas entre sonhos
passos e pousos
redimensiono o interior do meu interior
e a brevidade entre pensamento e pensamento
não acompanha o vagar do corpo
entregue ao manejo da maré
nem o vagar da garrafa ondulando sobre os dias
entre soluços de bêbado e pranto
encontraste a carta, mas não entendeste a letra
e não há legendas, coordenadas, vozes,
mapas para minha memória
dói fundo a longitude de meus garranchos
perdidos no efémero de um idioma
ilegível entre latentes caligrafias, alfabetos
e não vês no céu
a constelação com meu nome
não podes ler minhas mãos
e latejando minhas letras dizem
teu futuro, te dão leme
leem tuas digitais
no leme, no copo, na garrafa
só não traduz a lancinante latitude
do teu entendimento
envias de volta um papel em branco
Um bolero para Carmen
encarnada em todos os tons de vermelho, ambula
do seu cerne o guardanapo só não suga sua boca
impressa
algo lhe doía até o osso, estava exposta nos olhos
mas não tinha problemas em ser triste, até achava que
[combinava consigo
e o querer nela não se extinguia
gostava de solos:
um copo, um bolero, dançar ímpar num lugar meia boca
—além do mais, sussurrava o coração
sempre tem as horas de companhia, (e as horas que nos
[acompanham)
o corpo, o temperamento, e nós nem mesmo o tempo
e pra algo ser nosso se exige é do corpo
no mais, não temos nada,
meus sentires são invisíveis
as mãos frias, sem luvas, unhas roídas, sonhos corroídos
descompassavam com o seio cálido,
mas não pensava haver sobre ela algum
quebranto
não tem um que não a queira,
não tem dinheiro que pague este alumbramento,
ou coisa que o valha querer-se.
— minhas ancas são fartas, mas mais é meu coração,
[gritava o coração
Página publicada em janeiro de 2014
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