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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

CARINA CASTRO

 

 

Carina Castro (SP, 1988) é poeta e pesquisadora na área de Literatura Comparada. Escreve também Literatura Infanto-juvenil, com um conto que recebeu o Prêmio Lusofonia (2012) de Portugal. Estudante de Língua e Literatura Árabe na USP. Assina a coluna Infante Ingente na Revista Ellenismos. Tem poemas publicados em antologias, revistas digitais e suplementos literários. Reminiscências do mar a embalam a estar perto dapoesia, do canto, do sopro, orientar-se pelo que diz o desconhecido.

Caravana é seu livro de estreia, coleciona e escreve algumas coisas em Tudo é Coisa.    http://tudoecoisa.wordpress.com/

 

 

CASTRO, Carina. Caravana.  São Paulo: Patuá, 2013. 96 p.  ( Coleção Patuscada, v. VIII )   Ilustração de capa e interna: Deborah Erê. Projeto gráfico: Leonardo Mathias. Editor Eduardo Lacerda. ISBN 978-85-8297-011-9  Apoio  Prefeitura Municipal de São           Paulo, Secretaria de Cultura.   Col. A.M. 

 

Cartográfica

 

de distâncias traçadas entre sonhos

passos e pousos

redimensiono o interior do meu interior

e a brevidade entre pensamento e pensamento

não acompanha o vagar do corpo

entregue ao manejo da maré

nem o vagar da garrafa ondulando sobre os dias

entre soluços de bêbado e pranto

encontraste a carta, mas não entendeste a letra

e não há legendas, coordenadas, vozes,

mapas para minha memória

dói fundo a longitude de meus garranchos

perdidos no efémero de um idioma

ilegível entre latentes caligrafias, alfabetos

e não vês no céu

a constelação com meu nome

não podes ler minhas mãos

e latejando minhas letras dizem

teu futuro, te dão leme

leem tuas digitais

no leme, no copo, na garrafa

só não traduz a lancinante latitude

do teu entendimento

envias de volta um papel em branco

 

 

Um bolero para Carmen

 

encarnada em todos os tons de vermelho, ambula

do seu cerne o guardanapo só não suga sua boca

impressa

 

algo lhe doía até o osso, estava exposta nos olhos

mas não tinha problemas em ser triste, até achava que

                                                    [combinava consigo

e o querer nela não se extinguia

 

gostava de solos:

um copo, um bolero, dançar ímpar num lugar meia boca

 

          —além do mais, sussurrava o coração

sempre tem as horas de companhia, (e as horas que nos

                                                             [acompanham)

o corpo, o temperamento, e nós nem mesmo o tempo

e pra algo ser nosso se exige é do corpo

 

no mais, não temos nada,

meus sentires são invisíveis

 

as mãos frias, sem luvas, unhas roídas, sonhos corroídos

descompassavam com o seio cálido,

mas não pensava haver sobre ela algum

quebranto

 

não tem um que não a queira,

não tem dinheiro que pague este alumbramento,

ou coisa que o valha querer-se.

 

    — minhas ancas são fartas, mas mais é meu coração,

                                                   [gritava o coração

 

 

Página publicada em janeiro de 2014


 

 

 
 
 
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