BENEVENUTO SANT'ANA
[ NUTO SANT'ANA ]
Benevenuto Silvério de Arruda Sant'Anna nasceu em 5 de setembro de 1889 em Itirapina, São Paulo.
Nuto, como era conhecido, foi escritor, jornalista e historiador. Iniciou sua carreira no jornalismo na cidade de São Carlos no jornal 'O Alfa' e, ainda nesta profissão, mudou-se em 1910 para a capital do Estado, trabalhando então como redator do Correio Paulistano, no setor bibliográfico.
Essa experiência familiarizou-o com a pesquisa e deu-lhe o embasamento para o trabalho como historiador que exerceu em paralelo às suas atividades.
Aos 24 anos publicou sua primeira coletânea de poemas, Versos de Nuto Sant'Anna. Entre suas obras estão Troféus, Miserere, São Paulo histórico, As meninas da Casa Verde e Primeiro amor.
A Biblioteca Nuto Sant'Ana, em sua homenagem, é uma biblioteca pública localizada em Santana, bairro da zona norte de São Paulo.
"Gozei o sentimento, a frescura, a graça do seu lirismo, e também, e principalmente, a correção do seu escrever e o esmêro do seu metrificar" (Olavo Bilac).
CORAÇãO DE GELO
Chego. Beijo-te a mão. E volves-me o teu rosto
Num gesto insultador que me abate e contrista.
Negas-me a tua voz e o teu olhar, composto
De brilhos de tristeza e brilhos de ametista.
E então, no íntimo ardor de um oculto desgosto,
Fico a pensar em ti, que enches a minha vista
E enches meu coração de um sonho de conquista
Que nasce de manhã e que morre ao sol-pôsto.
Alma transcendental! teu orgulho, no entanto,
Hei de ainda domá-lo, hei de ainda vencê-lo,
Ou por bem ou por mal, com beijos ou com pranto...
Hás de chorar ainda, arrependida e em zêlo,
Que eu tanto hei de fazer, hei de adorar-te tanto,
Que um dia hei de aquecer-te o coração de gêlo!
OFERTóRIO
Ó minha doce amada, estuga o passo,
Vem para mim, e senta-te em meus joelhos;
Quero ler-te êstes versos, o que faço
Para ouvir o teu juízo e os teus conselhos.
Vem, meu Amor! reclina-te em meu braço,
Dá-me a beijar os lábios tão vermelhos;
E que meu beijo desça ao teu regaço,
Desça-te aos pés e envolva-te os artelhos.
Depois, ouve os meus beijos, de uma em uma,
A estranha orquestração, áspera ou fina,
Dos versos que são teus, de amor e paz.
Ama-os depois, que se êles são, em suma.
Tuas primeiras glórias de menina,
São meus últimos sonhos de rapaz!
Página publicada em maio de 2107