BARIANI ORTÊNCIO
Poeta e Compositor
Waldomiro Bariani Ortêncio (Igarapava, São Paulo, 24 de julho de 1923) é escritor, folclorista e compositor brasileiro. Natural do Estado de São Paulo, mora, desde os quinze anos, em Goiânia, Goiás. Sua obra é conhecida por tratar de aspectos da cultura goiana.
Em 1938, mudou-se com a família para Goiânia, capital do Estado de Goiás, em cujo liceu se matriculou e cursou o ginasial e o científico. Em 1941, entrou para o Tiro de Guerra. Em 1948, ingressou na Faculdade de Odontologia, mas não concluiu o curso.
[Biografia completa em https://pt.wikipedia.org/
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“Muitos de seus poemas nascem musicados, depois são valorados por cantores e músicos reconhecidos nacionalmente. Guimarães Rosa o visitou em Goiânia. Intelectual múltiplo, Guimarães teceu elogios aos poemas de Bariani em interessante bilhete, que o poeta guarda com raro zelo. Poeta notável. Nos seus poemas há uma alquimia que se esconde no silêncio que existe dentro das palavras. Seu poema nos lê. Poemas de sua lavra trazem emoções autênticas, senso elevado de justiça, prazer estético.
Bariani, realmente, é dono de poemas com poesia amadurecida e viva. Exemplo, os poemas NUDEZ, e PÁSSAROS, A BRISA DO MAR, AVE MARIA, os dois últimos nasceram musicados. Bariani, um escritor sem par na literatura brasileira. Uma escrita que tem muita força. Frente às decisões da vida, coerente a si mesmo. Todas as sensações de um homem feito. Um escritor que se liberta pela palavra. Prosa forte, inovadora. Obra bastante diversificada. Capacidade de trabalhar, com a mesma competência, em distintas áreas da cultura. É essa coragem intelectual que o torna um dos mais brilhantes narradores brasileiros. Leitura fácil e prazerosa.
Recebeu o título “Doutor honoris causa”, concedido no dia 12 de abril de 2019, no auditório da Faculdade de Educação da UFG, em reconhecimento à sua alta autonomia intelectual e ao conjunto da obra.”
[Texto de ALICE SPINDOLA]
CHUVA
O seu corpo molhado
O vestido pregado
Que bem a chuva me fez
O meu sangue agitado
Os meus olhos pregados
Nas curvas da sua nudez
ARAGUAIA
Araguaia,
Rio praia,
A luz cheia
Na branca areia
Rio, águas mansas,
Rio vida, rio mar
Rio estrada que anda
Ampliando o luar
Araguaia, garças brancas
Araras, tracajás
Matrinchãs, piratingas
Berocan dos carajás
Eu-sou-jaó
Eu sou jaó
Cantam pássaros na mata
Hum...hum...hum...
Geme o mutum na madrugada
Gaivotas rasantes
Jaburus pensativos
Setembro, tartarugas
Noites de santa paz
Rio, águas mansas
Rio vida, rio mar
Rio, estrada que anda
Ampliando o luar
Ai quem me dera viver
Em meio a
tanta beleza
Com o peixe e sua água
Comungar com a natureza
Araguaia
Rio praia
A lua cheia
Na branca areia
CD Josaphat Nascimento interpreta Bariani Ortencio. Também LP 25180 “Muralhas da solidão” [05/04/1983]Gravadora Copacabana / Lindomar Castilho
Araguaia, rio praia...
PONTA NEGRA
Ponta Negra
Ponta Negra, Rainha do Mar
A onda que vem e que vai
A onda que vai e que vem
A onda que quebra na praia
Fica à espera do meu bem
Onda de renda branca
Vem cá na praia me ver
Vem nas asas do vento
Que eu quero ir com você
Ponta Negra...
Vem beijar o meu rosto
Os meus cabelos molhar
Branca espuma das águas
Vem minha onda do mar
Fico sentado na areia
Esperando quem vem me amar
Com o encanto-do-canto, sereia
Me leva pro fundo do mar
A onda que vem e que vai...
Pescador para o barco e solta as redes
Faça sua profissão de fé
Mande as ondas das águas verdes
Para a espuma rendar-se aos meus pés
Ponta Negra...
Vocal 3 [Goiandi, Zé Passos e Luiz Péricles]. [29.11.93] CD - Avulsos de Bariani Ortencio n. 1
Também CD-1 – Lindomar Castilho interpreta Bariani Ortencio
Ponta Negra...
Autor da música que se tornou hino de Brasilia, em sua inauguração em 1960:
BRASÍLIA – 21 de abril
[dobrado] – W. Bariani Ortencio
Faixa 1 – mensagem do Presidente juscelino kubitschek de Oliveira
Faixa 2 – cantado – “O Titulares do Ritmo” com a orquestra RGE
Faixa 3 – Arranjo e Banda – Luizinho Mugstones
Brasília
hoje é o seu grande dia
salve 21 de abril
grande data do Brasil
no Planalto Central
brilha a nova Capital
Fez esta obra gigante
cujo nome é um hino
grande homem do presente
moderno Bandeirante
o democrata Juscelino
o maior dos Presidentes
Hoje na inauguração
agradeçamos no passado
que não vai muito distante
ao herói Bernardo Sayão,
aos candangos esforçados
e ao Núcleo Bandeirante.
BRITO, Elizabeth Caldeira, org. Sublimes linguagens. Goiânia, GO: Kelps, 2015. 244 p. 21,5x32 cm. Capa e sobrecapa. Projeto gráfico e capa: Victor Marques. ISBN 978-85-400-1248-6 BRITO, Elizabeth Caldeira, org. Sublimes linguagens. Goiânia, GO: Kelps, 2015. 244 p. 21,5x32 cm. Capa e sobrecapa. Projeto gráfico e capa: Victor Marques. ISBN 978-85-400-1248-6
Ex. bibl. Antonio Miranda
Bariani Ortencio - Presidente do Instituto Cultural e Educacional Bariani Ortencio
"Desprenda-se dos braços
abra os olhos, solta os braços
grita a boca, fecha os ouvidos
que a vida terá ... sentido...
ARAGUAIA
Araguaia,
rio praia
A lua cheia
Na branca areia
Rio, águas mansas,
Rio vida, rio mar
Rio estrada que anda
Ampliando o luar
Araguaia, garças brancas
Araras, tracajás
Matrinchãs, piratingas
Beerocan dos Carajás...
PÁSSAROS
Tenho no corpo pouso de pássaros
O pensamento em seus voos
Nos ouvidos, os cantos
No coração, batidas repetidas de bicos
Ritmados nos alimentos
Saem de mim par os voos altos
E voltam ao fim de cada tarde
Ah, se eu fosse um deles
Eu teria um só pássaro
E o soltaria par o voo amplo
E mesmo que jamais voltasse
O esperaria ao fim de cada tarde!
CONSUMATUM EST
A notícia
O velório
Os pêsames
O enterro
a missa de sétimo dia
o inventário
a discórdia...
o esquecimento...
CHUVA
O seu corpo molhado
O vestido pregado
Que bem a chuva me faz
O meu sangue agitado
Os meus olhos pregados
Nas curvas de sua nudez.
ALTIVEZ
Suga-me o sangue
Leva-me a vida
Galgue o cume da montanha
Tu, por quem és
Para que possas me ver
E de lá, bem do alto
Nivelará a tua fronte
Com a sola dos meus pés.
QUADRINHAS
Você é o meu passa-tempo
Você é a minha doce ilusão.
Não me sai do pensamento
Me repleta o coração.
Quero dizer-te adeus.
Está chegada a hora.
Beijar os lábios teus,
Chorar e ir embora!
Como é lindo o amor;
Como é gostoso amar.
Enche a barriga sem comer,
Mata a sede sem beber.
Não sou um rico jogral.
Apenas um pobre segrel.
Minha cama é de jornal,
A coberta é de papel.
Às vezes atiramos fora,
O que possuímos na mão.
E o pegamos noutra hora,
por ser outra aquisição.
Pensas por ti próprio,
Faças por ti mesmo.
O que é alheio é ópio,
Que tudo faz a esmo.
Não sabes o que tens?
Que não saiba ninguém.
Assim verás teus bens
Não serem de outros também.
Do corpo são os braços,
A parte de maior força.
Mas a cabeça faz traços,
Que não há braço que torça.
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Página publicada em junho de 2021
Página publicada em maio de 2020
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