ARTURO GAMERO
Arturo Pérez Gamero é filósofo, educador e poeta. Já conferiu uma oficina reflexiva sobre educação e filosofia na 29ª Bienal, em São Paulo. Na Mostra Paralela 2008, realizada no Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo, Gamero apresentou atividades que proporcionaram um primeiro encontro de estagiários com a Arte Contemporânea. No lançamento do “Dossiê Blanchot” (Maurice Blanchot , escritor e teórico da literatura francesa), o filósofo fez uma exposição de desenhos. Ele também foi um dos artistas selecionados para participar do Programa de Exposições do Museu de Arte de Ribeirão Preto (Marp), em 2008. Vincent Van Gogh, por sua vez, pintor pós-impressionista, reconhecido mundialmente é considerado um dos maiores de sua época.
GAMERO, Arturo. Favos. São Paulo: Lumme Editor, 2013. 88 p. 12x18cm. Gravuras de Arturo Gamero. ISBN 978-85-8234-010-3 Ex. bibl. part. Salomão Sousa.
Ao observar meus manuscritos percebo como a mão se arrasta, para, entalha a letra, oscila numa fogueira branca. Penso que deus nos abandona uma devastação que ri, estalos. O sono áspero, a mão rangendo como um pêndulo, dedos e clavícola, ossos sustenidos. Penso se o carvão ainda fulge nas palavras a última torção de brasa, o magma dos sinos espancados. Penso em um pássaro morto, a chuva batendo na terra. O banho de penas estufadas. O corpo azedo, a pálpebra das unhas segurando uma aflição remota e a pequena língua de madeira carregada de formigas, a escura caligrafia dos óbitos incendiados. O hálito febril aflora, pesa o sono esculpido do exagero branco. O bico se desagrega, a carne roda, luz desenterrada quando nada mais se move.
Na escuridão dos favos o magma
da noite dilacera, revela
precipícios sob a
ejaculação
do brilho inerte.
A palavra envolve essa canção
desértica como um bico escavado
é uma escultura
doce
e soa o fio aquoso do ar
no caule da cabeça.
Na chuva perfumada pude ver a plantação
do mar.
Página publicada em março de 2017