ANTONIO MANUEL DOS SANTOS SILVA
Nasceu em Pitangueiras (SP), em 1941, onde passou a primeira infância. Sua formação educacional deu-se em espaços distintos: o primário, na cidade onde nasceu; o ginasial, em Jaboticabal; o curso colegial, em São Roque. Sua formação académica também se diversificou, seja no espaço, seja na especialidade: cursou Filosofia em Mariana, Minas Gerais, e é nesse e desse período sua formação básica, essencialmente humanística: Língua e Literatura Clássicas (grego e latim); Línguas Modernas (inglês e francês). Cursou Letras Neolatinas, primeiro na PUCAMP e, depois, na Universidade Federal do Paraná, onde se formou em 1965. Seguiu carreira académica e é professor de Ensino Superior, desde 1967, tendo já ensinado Linguística, Teoria da Literatura, Literatura Espanhola e Hispano-Americana. Ensaísta e crítico literário, é autor de quatro livros sobre literatura, dois dos quais em coautoria. Antonio Manoel é atualmente professor titular em Literatura Brasileira da UNESP.
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ANTOLOGIA POÉTICA BRASIL-COLÔMBIA (PARA CONHECERNOS MEJOR). Organizadores Aguinaldo José Gonçalves (Brasil) – Juan Manuel Roca (Colômbia). São Paulo: Editora UNESP – Universidade Estadual Paulista; Asociación de Editoriales de Colombia – Asesuc – Universidad de Antioquia, 1996. 217 p. 14x21 cm. Ex. bibl. Antonio Miranda
Curiosamente, não é uma edição bilíngue: os brasileiros em Português e os colombianos em Castelhano.
Alguns poemas de Antonio Manoel já foram publicados em revistas especializadas brasileiras e, outros, em jornais literários de Portugal. Os escolhidos para a presente coletânea foram escritos entre 1980 e 1994 e se caracterizam por certo rigor de economia e por uma natureza anfíbia delineada pela intersecção entre o signo reflexivo da realidade referencial e pelo signo refratário do discurso poético. Seus poemas resultam em contenções que instauram contensões. Os aspectos tensivos advêm de um conflito (muito salutar para a poesia lírica) entre o som definido pela profusão de assonâncias, aliterações, paronomásias e rimas internas e a imagem definida por um procedimento iconográfico que emerge da plasmação dos significantes. Os semi-símbolos em sintonia profunda com os signos resgatam nesta forma de poesia a materialidade do signo poético. Dir-se-ia que a poesia de Antonio Manoel é vertebrada e os sentidos bailam na dimensão do provável, isto é, naquele intervalo - referido por Valéry - entre o som e o sentido. Dentre outros aspectos que conferem aos olhos e aos ouvidos do leitor uma forma "enviezada" de percepção, destaca-se a cromaticidade, seja ela determinada pela marca lexical, seja pela plas-mação sonora. Em qualquer das circunstâncias, sempre convergentes para o caráter lúdico que talvez seja o ponto alto de sua poesia.
FÁBULAS
Nada cai por acaso.
Exceções: a maçã de Newton,
e seus teoremas e
a tarde
indivisa; e a uva
salva aos olhos da raposa,
e esta, dos corvos a esperá-la.
Regra:
a mesma noite a todos come.
OVOS DE FERRO
Um balão
numa branca página
pesa.
Como a paixão
em branca ânima
vira uma bola
de ferro.
E danadamente pesa.
ABSOLUTO
Não — a palavra —
noite precipitada
no abismo
nuamente escuro.
N a d a.
Arde a latejante
e diligente via
imersa em negro azul.
(maio de 1993)
VARIAÇÕES DE CEGUEIRA
Brilha o ar. E os
olhos cegos
buscam nuvens escuras.
Brilha o ar além e acima
E os olhos,
cegos pela escura nuvem,
cismam.
Página publicada em abril de 2018
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