PROVÉRBIOS DA LAMA. Antologia poética. Organização Rodrigo Starling. Belo Horizonte: Starling, 2020. 204 p. ISBN 978-85-990511-3-5 Ex. bibl. Antonio Miranda
MINHA NATUREZA
A natureza de que sou composto,
Em dores de morte está sentida,
Todos os elementos da composição
Dos interesses do criminoso bruto pagão,
Atacam sem pena o suporte da vida.
Eu sinto o rosnar de sua ganância,
A baba de suas presas ao decretar a sentença,
O bafo podre de seu grito de guerra,
As vísceras que suas garras arrancam da terra,
O facho na mão e os gritos por clemência.
A natureza passiva, corajosa,
Não foge e aguarda o massacre,
Que vem em óleo cru, machadadas, braseirais,...
Venenos em culturas, rios, igarapés e manguezais,...
Consumismo e lixo, sob o lodo de um coração acre.
O animal, severo humano,
Não sente a morte, a agonia, na casca de seu egoísmo,
O abominável repousa na riqueza sustentada,
Pela pobre natureza submissa, devastada,
Em suspiros de cinzas, doenças, e cataclismo.
INCOMPREENSÍVEL
Escondido pela máscara do desenvolvimento
O homem sempre esteve com suas garras cravadas,
Nos lombos da natureza dominada
Sangrando seus recursos, em sua escalada,
Dono das leis e das injustiças praticadas.
É assassino compulsivo da natureza viva,
Seus interesses por trás da chamada ciência,
Esconde o irresponsável que mutila o ambiente,
Entre Chernobyl, Fukushima... e Brumadinho, recentemente,
Habita sua impunidade, insanidade, vaidade, inconsciência...
Apesar de seu espírito devastador e ganancioso
É loucura imaginar o imenso amor que a natureza nutre
Pela sedenta raça de seu algoz,
E sua reação às maldades desse feroz,
É de reconstituição, carinho..., e alimento pro seu abutre;
Apesar de tantos maus tratos, é benigna, Pacífica, humilde, perseverante, servil, amorosa... Enche de mimos os caminhos de seu dominador, E talvez por não termos aprendido o que é o amor. Tratamos nossa cuidadora de maneira tão desonrosa.
Página pubicada em setembro de 2020