ANDRÉ CARNEIRO
Fez seus estudos iniciais em Atibaia e em São Paulo, onde foi interno no Colégio Marista. Voltando à cidade natal organiza reuniões artísticas e culturais e cria, com César Mêmolo, a primeira Biblioteca Pública de Atibaia, repassada posteriormente à Prefeitura Municipal. Funda também o Clube de Cinema e promove, em consórcio com Ruth Diem e Dulce Carneiro, sua irmã, exposições e encontros culturais, levando à Atibaia artistas como Aldemir Martins, Anita Malfatti, Oswald de Andrade e Di Cavalcante. Ainda com César Mêmolo Jr. e em companhia de Dulce Carneiro, cria o jornal literário Tentativa (1949)[1], que contribui para sua projeção como escritor. Nesse período, atua em O Atibaiense, escreve o primeiro livro – Ângulo e face (1949) – e trava contato com Sérgio Milliet, Cassiano Ricardo, Murilo Mendes, Graciliano Ramos, Carlos Drummond de Andrade e Stephen Spender.
Nos anos seguintes, faz literatura, fotografia e cinema, tendo sido premiado nas três áreas, no Brasil, França, Holanda, Itália e Inglaterra. Na literatura, ramo ao qual mais se dedicou, tem obras publicadas na Espanha, Argentina, França, Suíça, Alemanha, Bélgica, Inglaterra, Itália, Bulgária, Suécia, Rússia, Japão e Estados Unidos, tendo recebido, entre outros, os seguintes prêmios: Machado de Assis, Alphonsus de Guimaraens, Pen Club internacional e Nestlé. Membro de sociedades artísticas e científicas integra a Parapsychological Association, a Science Fiction and Fantasy Writers of America, e a Academie Ansaldi, de Paris. A partir 1970 ministra cursos e palestras em universidades e centros culturais no Brasil, Argentina, Cuba, México, Estados Unidos e França.
Dono de uma obra densa e variada publicou, entre outros, Piscina Livre e Amorquia (romance), Ângulo e face, Espaçopleno, e Pássaros florescem (poesia), Diário da nave perdida e O homem que adivinhava (contos) e Introdução ao estudo da Science-fiction, Manual de hipnose e O mundo misterioso do hipnotismo, no gênero ensaio. Sua obra tem sido objeto de estudos importantes, entre os quais, destacam-se as teses O estilo de André Carneiro, de Osvaldo Duarte (Unesp) e Unique motives in Brazilian Science Fiction, de David Lincon Dumbar, da University of Arizona. (Fragmento da biografia em wikipedia)
“Um dos mais espontâneos e lúcidos líricos da geração nova. “ Menotti Del Picchia.
“Poesia extremamente rítmica, onde predominam as notas claras e as harmoniosas diurnas, sem aspereza e sem soturnidade. A presença da amargura se faz sentir através de um anseio de realização e de comunicação, e a tristeza do poeta vem da angústia da revelação difícil, do desejo de varar as trevas exteriores com a escassa palavra expressa.”
“Entre as estreias destes últimos quinze anos na poesia brasileira, a sua me parece das mais significativas.” Murilo Mendes.
POÈMES EN FRANÇAIS
CARNEIRO, André. Espaçopleno. Poemas de André Carneiro 1958-1963. São Paulo: Edição “Clube de Poesia”, 1966. Fólios soltos aconcionados em caixa de papelão. 15,5x23 cm. Contém 27 poemas ilustrados com xilogravuras. Prefácio de Domingos Carvalho da Silva. Planejamento gráfico e xilogravuras de Luis Dias. Col. A.M. (LA)
antigamente e hoje
Toca-se um botão,
nasce a tartaruga
exata, cibernética.
Euforia vai à fonte
de meprobamato.
Propaganda subliminar,
põe-se gravata
de polietileno,
dentes na clorofila.
Agora é fácil,
a morte vem
da estratosfera
nas estrelas a j ato.
O medo criou asas,
alçou voo,
cobriu o sói.
O cogumelo derrama
a sombra radiante
sobre o mar.
Peixes morrem calados.
Homens resolvem
explosões,
inocentei
e secretas.
sonho oceano
CAMINHAREI COM ANFÍBIOS
EM BUSCA DO OCEANO
LIVRES CAMINHOS
PORTAS ABERTAS.
BUSCAREI CORAIS,
PLANTAS, CABELOS
EM DANÇA LENTA,
CAVALOS-MARINHOS.
NA CIDADE SUBMERSA
FUTURO É LIQUIDO,
PALAVRAS FLUTUAM
ENTRE BÚZIOS E LIQUENS.
NO CÉU, NUVENS SÃO
CASCOS DE NAVIOS.
TUAS PERNAS ÁGEIS,
BRAÇOS DE TERNURA,
FAZEM UM LEITO
DE ESPONJA.
SONHO NETUNO, SEREIAS,
AFOGAR DE ESPERANÇA
NO MUNDO DIVERSO,
ESQUECER ESTE PLANO
AMOR
DE OXIGÉNIO TERRENO.
sangue
Vermelho itinerante
circulando na selva
em leito azul.
O impuro se derrete
na torrente,
o pulsar se aquece.
Gota documento,
rio sem descanço,
palpitas no fio
dos bisturis.
Juram sobre ti,
brilhas nas lâminas,
marcas as mulheres
teu sinal agudo.
Agulhas te perfuram
e se descanças,
solidificas,
morta lembrança,
calor vermelho
de lábios
que foi beijo,
agora é pó.
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POÈMES EN FRANÇAIS
DES ENFANTS ENVAHISSENT LE MONDE
Des camions citernes municipaux
lâchent des jets d´eau dans les caniveaux.
De la solitude, naissent des hommesm nouveaux.
Des dents de lait grincent dans les berceaux.
Les cinemas ont déjà fermé leur entrée.
Et le rapport du dictateur est presque prêt.
Des avions chauffeente leurs tuyères.
Et le fils du vaste univers
nous préparent pour l´avenir
des miracles et des navires.
Au commissariat, on attend
sur un banc dur que le jour naisse.
Des speakers couvrent doucement
les micros d´une étoffe épaisse.
Souliers les bras
noyés, au ras
gadoue du corps
et boue corps mort,
oublie !
Nouveau-nés
étonnés
au seuil obscur
de láventure.
Des enfants par milliers
Envaihissent le monde:
journaux, stades, casernes.
Les épitaphes anciennes
tombent toutes aux fosses profondes
des oubliettes d´hier.
Trad. de LORRAINE, Bernard. Poèmes du Brésil choisis, traduits et présentés par Bernard Lorraine. Paris: Les Editions Ouvrières Dessain et Tolra, 1985.187 p. (Enfance Hereuse des paus du monde) 13x21,5 cm. Ex. Bibl. Nacional de Brasília.
TEXTO EN INGLÊS
From
REVISTA DE POESIA E CRÍTICA. Ano XIV no 15 Brasília, 1990. Diretor responsável: José Jézer de Oliveira.
ELEGY FOR THE CENTURY
Progressive disillusionment
in material things.
Radio strides ahead in megacycles,l
metal rails and elastic glass.
You move among
bakelite emotions.
In your permed hair,
with erstz perfume, live
reconditioned camelias.
I am attached by the grey graphite
of the cog-wheels.
The angle is a knife
cutting the blue of the sky.
Drops of tenderness in celophane,
nails of acetone and blood.
I kiss your lips:
sunflower reaction.
Eficiency, method,
Old age abolished in tubes.
Vitamins in the alphabet.
When shall I be a naked body
alone in a virgin forest?
(Translated by Leonards S. Downes)
POESIA – Revista do Clube de Poesia de São Paulo. – No. 2 São Paulo: junho de 1978. Diretor Geraldo Pinto Rodrigues. 95 p
Ex. bibl. Antonio Miranda
BRAILLE
Espelho no espelho
sonho dentro do sonho.
Olfato de cão
no rastro dos perfumes.
Do colo ao braço
da cintura ao abraço,
olhos fechados
tateando poemas
em Braille
correndo caminho
das veias, dedos
tentáculos
pesquisando ternura
seios, calor, saliva
corpo na vibração
de voo, respiro, morro
e ressuscito
e tudo se transforma
em memória,
versos inúteis
e perdidos.
Página publicada em maio de 2012; ampliada em agosto de 2016; ampliada em junho de 2017
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