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AMADOR RIBEIRO NETO
Nasceu em Caconde (SP), em 1953. Autor de uma dissertação e uma tese de doutorado sobre a criação lítero-musical de Caetano Veloso, recebendo os títulos de mestre em Teoria Literária pela USP e doutor em Semiótica pela PUC/SP. Está incluído na antologia Na Virada do Século, organizada por Claudio Daniel e Frederico Barbosa. Atualmente vive em João Pessoa, onde leciona na UFPb. É um autor da chamada poesia de invenção, e neobarroca, daí o título de sua obra, de onde extraímos os poemas a seguir: - Barrocidade (Landy Editora, 2003). Por certo, barroco tem mesmo a ver com invenção, experimentalismo, hibridismo...
Amador Ribeiro Neto faz parte de uma geração de poetas que são também críticos e pesquisadores na academia, caractarística da cena poética mais avançada da atualidade, embora muitos deles — como acontece com Amador (e acontecia com Oswald de Andrade) pesquisam também a poesia popular. Certamente que a sua imersão no mundo nordestino, no eixo João Pessoa – Recife, deve ter marcado profundamente sua formação estética e poética, em seu proveito. Seus poemas fazem tanto referência aos irmãos Campos quanto ao João Cabral de Melo Neto, vai do coloquial ao armorial, que tem muito a ver... Nosso querido Glauco Mattoso dá a clave: “Amador desconstrói nos sugere que a poeticidade ainda pode ser encontrada nas menores partículas (...)” Isso mesmo. A. M.
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nogueira na missa do galo
será
tem de ser assim
um fazendo não
outro fazendo sim
será
outro fazendo não
um fazendo sim será
o Benedito
conceição
urbanidade
metrópole judaica bom retiro
bicho carne suína de pé do quarto crescente imundo
vida ordinária estendida no curtume
são nova paulo Iorque de cada internet
que vou te contar ô meu
falta água e falta
falta água e falta
água tens e não tens
os surfista de são miguel paulista quebram ondas
nos tetos dos trens
caconde
caconde não rima com onde
não rima com bonde ao rima com conde
não rima com esconde não rima com porra nenhuma
caconde é lá
atrás muito além daquela serra que ainda azula no horizonte
lá
Judas perdeu onde
prefeito não instalou bonde
nunca viveu um conde
só saudade
per
turba
alceu valença
recife de repente baixou
madrugada
cavalinhos de flechas
bandeira bandeira bandeiras
um modo treno
um terno concreto
um
um a um
todos
voz
performáticos palavras & tambores & silêncios
máscaras animais
arnaldo antunes
páscoa periquito siamês cachorro banho tosado pêlo xuxado
tudo chocolate-pagode-axé
mesa posta
família em volta
tá na hora
da foto
& eu & eu & eu & eu & eu & eu & eu
mutantes
ah como era sampa aquele som de garagem na Pompéia
baby
augusto de campos
então é assim
é
ah
é
depois de falar tudo
de contar tudo
de relembrar tudo
pós-tudo
sobra
o teclado da internet
mudo
david byrne
as mãos da cigana tocam dedos no teclado da internet
um saco de soja na esquina
gatinhos
leblonzeados
no primeiro de janeiro
mininos na tevê
em apa epa ipa opa upa
neguinho
da porteira
da música brasileira
azaro geral mermâoxinho olha o sinal
SEMPRE Número 27 – Ano 14 – 2007 Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, 2007. Editor Marco Lucchesi. Ex. bibl. Antonio Miranda
sertão paraibano
a abdução areenta
sertanejo punhais
] fogo na massa [
mormaço catolé
cajazeiras
rocha
pedras de fogo
pisa
repisa
calculado
seco
quebra catulé quebra catulé quebr
bafo foto no fundo da rede
balanço de quentura
a tarde um pão assando
assando assando
com a porta do forno arreganhada
abdução
areenta
chupa o pau do pé do santo
devota
reza
implora
mistérios
crente gozosa nas águas de um dezenove de março
acende velas de um de sete dias tamanhos
chuvas de través
banho molhado
os suores o seu o homem
aquele
santo
em pé
Página publicada em fevereiro de 2009. Ampliada em janeiro de 2019
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