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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

ÁLVARO MENDES

(1938-2012)

 

Álvaro Marques (SP, em 1938), poeta, ensaísta e jornalista. É jornalista (trabalhou no Correio da Manhã, O Globo, Jornal do Brasil) e  em editoras (Enciclopédia Barsa, Enciclopédia Delta Larousse). Aposentou-se pela Funarte. Autor de Íris Breve (Editora Sette Letras, Rio, 1996) Prêmio Bienal Nestlê de Literatura 1995. Deixou inédito:  Sardônica (poesia).

Seus poemas foram publicados em Poesia Sempre, Urbana, Belo Belo, 34 Letras e Rio Arte.

 

Em sua obra toda essencial, Álvaro não fez concessões a qualquer "receita de poesia" e a qualquer sentimentalidade, muito embora tenha sido homem de paixões avassaladoras.  
MAURO GAMA (em http://www.mallarmargens.com/2013/03/a-poesia-de-alvaro-mendes-uma-homenagem.html)

 

poema

poemas são fermentações  
falhas de fornicação  
tenebrosas associações  
— devoradoras de  
palavras. 

são  
altas fábricas de prata  
forjas de cal  
rubros!  
— violentos sais verbais. 

cães  
de guerra em ação  
de guarda, 

são  
ações  
açores de guerra em terra  
aviões de caça  
falcões de palavras  
descamisadas em vôo-  
— cego em guerra de  
morcego. 

poemas são  
fabricações violentas.  
de olho em greve morcegam  
infravermelho-ávido: 

têm olho grave  
e são rei. 

contudo não trabalham,  
demarcam  
golfos vermelhos,  
teias de hera em letras  
das pernas às pedras  
com patas de tiralinhas. 

poemas são  
                voos  
formidáveis desvãos  
                em ovo. tapados.  
poemas são  
padrões  poemas são  
formidáveis são  
balústres/formigões  
esquadrões terríveis de  
areia metálica entalada.  
poemas são  
compadres são  
comadres são  
poemas-vãos  
poemas são  
narcisos fofoqueiros,  
circulam no mesmo,  
círculos roxos e cardeais e amarelos e azuis (antônio nobre)  
poemas são  
núncios-capelões  
espirais 

campeões-boxeurs  
capotões de areia e vento  
canhões  
como ramo de oliveira no bico  
poema são  
palácios são  
felácios vítmas  
vícios de ações  
exacerbadas  
arrebatadas cerebrações  
de prata  
- tudo em carmim  
de nada 

poemas são patas de cavalos.  
poemas são poemas. são  
novelos-cios  
de novelo, cíclico  
cantar de nada.  
(palavras são  
palavras-cidra vibram marulhadas  
ao toque do dente.  
violam letras vermelhas,  
regras uivam ais). 

eu-poema dos  
sete mares e deltas,  
voo em asa,  
formidável formigão desencanto  
em estalo de poesia:  
qual é meu estatuto  
se tudo cai e canta 

de nada?  
(caio- caí:  
não me troquem as pernas  
das letras,  
voo ébrio). 

poemas patrulham tudo:  
são tenebrosos espiões facistas  
línguas de pato,  
cartografias sinistras. 

poemas são capoeiras e capoeiras  
de vizinhas,  
são anúncios 
de galinhas,  
se morcegam-cio,  
se matam de seio nos bicos do ódio.  
poemas são pães de morcegos  
em vôo Zaúm. 

fardados são  
condomínio de luz,  
transtorno de aromas,  
desflaque de almas depenadas,  
são lâmpadas de alicate,  
prantos de borracha e lata,  
torso de um  
apolo arcaico de fiacre,  
apelos de casaca fúnebre  
e curto pavio despencante. 

poemas são fagulhas sinistras  
coices brutos no cio.  
pavios. 

poemas cantam  
de nada. 

 

         (Poema extraído de:  http://www.tanto.com.br/alvaro-mendes.htm)

 

 

POESIA SEMPRE.  Revista da Biblioteca Nacional do RJ.   Ano 1 – Número 2 – Julho 1993.  Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional / Ministério da Cultura – Departamento Nacional do Livro.   ISSN 0104-0626m   Ex. bibl. Antonio Miranda

 

 

A névoa absorve árvores

                                        a duna

limo de alarido

clamor de outono os ossos dormem    canas

e o vento despedaçam meu orgulho

                                                          — clamor:

 

marulho de ossos canas

                                        eu (oblíquo)

opala na raiz do castanheiro

faróis vazios de pupila

maceram nuvens sobre o rio.

 

 

 

relâmpago na sala.
arde
safira quebradiça
o fogaréu de vidro.

 

(sob a lâmpada lua
a sombra do carvalho
torna úmida a noite)

 

 

 

 

Página publicada em novembro de 2017

 


 

 

 
 
 
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