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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 



ALFREDO ROSSETTI

 

Mora em Ribeirão Preto, SP. Aposentado, trabalha como voluntário na Biblioteca Padre Euclides, entidade com 103 anos de existência. Dedicado à poesia há 40 anos, por absoluta necessidade de expressão. Publicações:  - Em busca do verso ( a elegia do olhar);- Dia de Chuva.   Página na Internet desde setembro de 2005, onde apresenta um trabalho com versos livres, poemas visuais, haicais e algumas incursões pela poesia concreta.

 

www.alfredorossetti.com


A POESIA

 

A poesia não entra dentro da vala.

A poesia resvala.

 

A poesia não preenche a ausência.

A poesia é tangência.

 

A poesia não aporta na lua.

A poesia cultua

à distância porque é ânsia.

 

A poesia não vence a aporia

que é a própria poesia.

 

A poesia não ultrapassa o muro.

A poesia é pequena chama

no escuro

que clareia o instante,

arrima o norte, mas daí em diante

 tem no seu destino de sombra,

a própria morte.

 

 

TEMPO DE DESVÃO

 

Mornado o renque de estames que conduziu como vagões

minha vida desde o instante que sem pré-consulta vim

aviltar as horas de fados recíprocos e dissonantes,

tenho a sensação de  concrescer em linha rumo ao termo;

 

 ao que denoda a passividade que esperei como refúgio

nesta fase anteoutonal cujos medos pulverizam-se em ex-lutas

ao se ter a mescla do não retorno, da fila que impele,

da entrega maciça de perimir , da constatação do ciclo.

 

É quando a caverna da alma abre o recôndito  à mente

e se busca o peremptório lugar no mundo outro

tanto prometido, que por tempos escarnecidos,

surge, chave de um corte inesperado, que se espera

 

remando em águas furtivas, em posses e desejos

que a cada passo nestes dias, manifestam-se inócuos e frios,

agora com o discernimento a tolher um passado

sonhado, aunado em tentativas da inexistência do amanhã.

 

É quando temos o tempo fora das nossas amarras,

flutuando em torno, como sombras, desvaneando

amanheceres longe do que denominamos chão.  

 

 

A MÚSICA

 

P/ Chet Baker

  

A harmonia lenta e sofisticada acolhe as notas,

no cúmplice afago desse encontro,

e redunda em parto fluido de paz.

 

Em muito mais que ouvir, tecer mistério:

ultradimensão do instante capaz

de se imaginar ideogramas

ou apenas um ponto

no absoluto garimpo do  silêncio,

que a melodia, paradoxalmente,

me traz.

 

O momento que não contém verdades.

Que apenas dissipa a sensação da lógica mundana

e promove  total isenção do que sondo imperceptível

num último raio de alguma busca insana.

 

Neste momento simplesmente morro

para qualquer tragédia.

Seja a dos mitos,

seja humana.

 
 

DIA DE CHUVA

 

Tomei minha velha mala

e coloquei objetos.

 

Os que mais gosto lá foram: o pente

(de osso de javali),

um brigue em miniatura,

um vaso com limpa-viola,

um poema da Francisca Julia,

o mar de chapéu na foto de Tina Modotti,

uma folha de papel-de-seda

com uma lista de vacilos,

que remontam aos tempos do Old Parr.

Um sem número dessas coisas.

 

Antes de fechar a tampa,

não evitei que minha alma se enveredasse junto.

 

São ações nesses dias que,

quando acordamos,

sentimos que o destino,

inapelável, insatisfaz.

 

 

COLHEITA DOS VENTOS

 

Não permita que sua existência se molde

como janelas do Vaticano,

nem dê somente frestas

à cota sagrada de sol.

 

Mantenha além dos sentidos

a atenção a um niama maior

e beba a água de todos os mares

mesmo as últimas gotas de orvalho.

 

Não queira apenas os figos maduros,

amanhados em jardins redolentes;

há galhos secos

em que a sabedoria viceja.

 

Enleie a si os desejos do mundo,

coloridos e triunfantes,

mas convide o indevido ao redor,

e dance na noite difusa.

 

Seja para o sempre um castelo

onde o vento sibila fremente

com toda sua liberdade

doada aos seus poros.

 

Somente assim, o espírito, já nascido sapiente,

colhe suas flores, e sorri nesta ditosa passagem

por esse minúsculo jardim do universo:

a Vida.


De

COLHEITA DOS VENTOS

Ribeirão Preto, SP:  Legis Summa, 2007.

 

“Um lírico impulsivo, mas reflexivo, inquieto, respondendo perguntas não formuladas; ritmado, pulsando até a reiteração da metapoesia.. Acompanho o amadurecimentos do poeta com renovado interesse.”  Antonio Miranda

 

 

HAIKAI

 

Um cacho de uva

retém e faz sua refém

a gota de chuva.

 

 

CONSEQÜENTE

 

Não sei de onde vim

e para onde vou me inquieta.

Vivo entre a lógica e a loucura.

Daí, poeta.

 

 

ENDEREÇO

 

Não escrevo sobre a criança

que fui. Nem o alguém que tenho

estado. Não busco os dias claros

nem o tempo obscuro.

Escrevo somente para mim,

que é a quem procuro.

 

 

SEM ATRITO

 

Estar em lugar nenhum.

Alavanca suspensa

Do furor que não se faz.

À medida do estar aflito,

Magoado sem saber, e

desleixado; no desbrio

de existir como marufle

ao mundo. Construtor

de minutos tão iguais,

observados em tiras

de horas e fundos

de arremates amarelos.

Pegar o morto sobre

o pano da ambiversão.

Poemas e ardis

De leitmotiv. Do jogo

para um sem-querer

de outras pequenas ciladas.

Amorfas, costumeiras.

Resolutamente imutáveis.

 

                  

                   FOTOGRAFIA 3

 

                   O que foi presente em contínuo renascimento.

                   A fuga obstada pelo papel. Dorian Gray

                   sem mácula. Posto foi, posto fica.

                   Rutilante, sonho burlesco

                   de ser sempre o sempre.

                   Fora da mente,

                   na gaveta, no arquivo, como afresco.

Todo agora será o antes.

 

 

                   PSICO-NEOLOGIA

 

                   Olhar para dentro de nós,

sem nos arranhar,

quem lá vive florescer

como um novo verbo:

intrar.

 

 

 

ROSSETTI, Alfredo.  Luz de alpendre.  Ribeirão Preto, SP: Editora Coruja, 2013.  108 p.  11x21 cm.  ISBN 978-85-63053-37-0   Col. A.M. 

 

DEFINITIVO

 

Não escrevo versos

porque me inspiro.

 

Eu escrevo versos

porque respiro.

 

 

LUZ DO ALPENDRE

 

Debaixo da luz do alpendre

meu pai declamava os versos íntimos.

Com voz de barítono, desfilava a mão

que afaga pela noite festiva

e me confundia quando dizia

que colosso este augusto dos anjos.

Me confundia porque meu entendimento

de poesia era que a palavra poeta

era um sinónimo único para castro alves.

Mas um dia vi umas dentaduras duplas

de um tal drummond

e passei a bater palmas ao meu pai

e dizer baixinho que colosso

são todos estes poetas

e suas palavras entalhadas.

 

 

O DENTE

 

O vazio deixado pelo dente

(caiu sem força)

dói como um nascimento.

 

Sem ele, outra vida explana

no vértice do tempo.

Chaga de calendário.

Dia inaugural do vandalismo

ao corpo que se esquece

de que tudo precede o movimento

de se escorrer finitamente.

 

O vazio morde e subverte o espelho

como um suicídio.

 

 

 

CESARIANO

 

Nasci pelo risco,

à maneira do desvio e do corte.

Com um olhar arisco,

escoei serelepe,

acoitado pela sorte.

 

 

 

 

 

ROSSETTI, Alfredo.  Voz.  Ribeirão Preto, SP: Editora Legis Summa, 2017.  70 p.  26,5x21 cm.  ISBN 978-85-8460-027-4   Ex. bibl. Antonio Miranda

 

 

RITOS E PASSAGENS

 

         "No meio do caminho tinha uma pedra" DRUMMOND

 

salta do papel
como um esquisito corner

atroa ao vento
a palavra-imagem
na lucidez do poema
que luz na aporia

tenta portas e cancelas de dúvidas
nas ultrapassagens

 

 

 

DO AMARGO PASSEIO

 

crimes e mordaça habitam
placas de ruas/avenidas/praças
onde a pompa de nomes
desvia o caminho da história

escorrem noite e dia
sangue de Serra Leoa
e vísceras da Sardenha

a verdade nos fundos dos mares
                rubiáceos

heróis canalhas
indicam endereço e engodo

 

 

 

FUNDAS

 

sejamos pacientes
     com os mistérios da vida
da poesia
     do que não há claridade

deixemos os rios se levarem se lavarem

 

os ventos silvarem
                       solverem
indagações desnecessárias

sejamos leves
     antes que a vida
num instante
             nos mostre
o quanto é breve

fendas
fundas podem abrir
         aquilo que perde o belo
            se a escuridão
finda

e se definir,
morre

 

 

 

 

RIMA APÁTICA 

 

a utopia dorme e espera o tempo de ousadia 

 

MUSA CONFUSA 

 

a morte só sai de dentro de nós quando chega

 

RIMA SEM SOLUÇÃO 

 

o futuro mora no escuro

 

 POETOCA 

 

busco-me rebusco-me e nada mais

 

ROSSETTI, Alfredo.  Boca de cena. Guaratinguetá, SP: Penalux, 2020.  120 p. 21 cm. ISBN 978-85-86139-58- 7  
Ex. bibl. Antonio Miranda

"O que há de inexaurível no poeta é fruto de sua capacidade de buscar em si e no outro, via discurso poé­tico, os ritmos variados que compõe a pauta de um estilo concertado, entre certo prosaísmo e decantado lirismo. 0 poeta sente que de certa forma está vencido pela vida, mas aceita o fato de que ela o capacitou para lidar com os eventos da afetividade." OSVALDO FELIX

 

 

FUGA

 

E se o meu verso fugir?
Na pantomima do portão aberto,
Depois da prisão dentro da estrofe
Sem graça, cheia de imagética e forma,
Sair ao respiro da oralidade, no colo
Da moça que o quer na rádio na noite,
Antes dos Sucessos de Sempre.

 

Correr nos becos em brumas; achar
Seus pares, de pés e ombros forjados
Nas ilusões de copos e meios-fios.
Pedir a benção aos viventes do breu,
Beijar a boca da madrugada única,
Com suas ternuras no seio da canção
Que, desde o Renascimento, a embala.

Sorrir com o sorriso do novo dia
Que traz, não no ventre, posto ser
O próprio ventre, mas nas mãos,
Com cheiro de café e paladar de pão.
Repleta de luminosidade, a aurora
Irá devorar a escuridão que já
Terá ficado presa na história,
Nas sombras e nos cantos de Safo.

Brindar com o Sol que revigora.
Rir farto dos poetas concretos,
Que o disseram findo e vago,
De forma sisuda; dogmas de fé.
(E ele continuou a pular carniça)
Troçar com homens e controles,
Algoritmos e lixos que reinam;
Atletas em busca da medalha
Da ansiedade, e nada de poesia.
A que ele carrega com a alegria
Da língua e olhar de um cãozinho,
Desses que não estão nestas ruas
Nem nas mochilas carregadas
De tudo que é cinzento e plano,
Feitos horizontais, água escorrida.

Mas, sabedor de sua curta duração
E de seu enorme servir, não ousa
Tentar mudar o mundo, apenas
Fazê-lo respirar a quem, com olhos
E falso tino ao chão, chora o espanto
Do ressaibo do terceiro milênio.

 

Meu verso já sabe que está na hora.
Mas antes dará uma passada em Ítaca,
Fazendo votos de que o caminho seja longo.
Só então, abastecido da Beleza, me chegará.

 

 

CHAMAS

 

Dois amigos amam a lua. Outros dois
São solares. Vários se avermelham
Com a face no azul. Enquanto eles diferem,
Eu me tranco num baú.

Meus anos de vida pesam
E se espalham em mim. Atravesso
Cordilheiras com a mochila abarrotada.

Na memória, um campo pós queimada.
Chamas insistem em não me permitir
Escuridões ou esquecimentos. Dói-me
Constatar que meu tempo é sempre.

 

 

DIA DE VIDA

 

 

        para Konstantinos Kaváfis,

 

Atende tua porta ao chegarem
Os desejos; inclina para o lado
Do corpo que foi atingido.
Não esqueças de acolher bem
Ao que pode ser a tua Ressurreição.
Espalha ramos no teu tapete
Onde teus sentidos pisam.
Sê o humano da superfície
Da pele que te retrata.
Não Represes tuas fantasias
Por nenhum pensamento

Em todos teus poros, risos,
E em lembranças marcadas,
Como a dança dos colmos
Dos trigais que um dia viste.
Não te resguardes da canção
Primeira que veio a ti pela manhã
E que te envolveu como hera
E te acompanhou até o ocaso,

Que julgavas exausto, mas que
Ao se declinar, retratou no céu
Em sorriso lascivo, com o olhar
Da imaginação, uma rosa tímida.
E quando o sono que te aguarda,
Ruborescer ante teu dia completo,
Entrega-te como criança: abre
Teus braços e corre ao âmago
E júbilo das atividades vitais.
Nesta hora, toda tua substância
Precisará de descanso, diferente
Da tua alma que, assim que iniciares
0 teu fingimento de morte, te velará.

 

 

 

 

 

Página ampliada e republicada em novembro de 2017 ;

Página ampliada em novembro de 2020

 






 


 

 

 


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