ALCKMAR LUIS DOS SANTOS
É natural de Silveiras, SP. Possui graduação em engenharia eletrônica, pela Universidade Estadual de Campinas (1983), mestrado em Teoria e História Literária pela Universidade Estadual de Campinas (1989) e doutorado em Estudos Literários pela Université Paris VII (1993). Atualmente é professor de Literatura Brasileira da Universidade Federal de Santa Catarina e coordenador do Núcleo de Pesquisas em Informática, Literatura e Lingüística (NUPILL, núcleo de pesquisa de excelência do CNPq, desde 2008). Foi pesquisador convidado na Université Paris 3 - Sorbonne Nouvelle (2000-2001) e na Universidad Complutense de Madrid (2009-2010). Tem experiência na área de Letras, com ênfase em Literatura Brasileira e Teoria Literária, atuando principalmente com teoria do texto, literatura e filosofia, hipertexto e texto digital, poesia. É também poeta, romancista e ensaísta. Autor dos livros "Leitura de nós" e "Dos desconcertos da vida filosoficamente considerada" (ensaio e poemas respectivamente; Prêmio Transmídia - Instituto Itaú Cultural), "Rios Imprestáveis" (poemas; Prêmio Redescoberta da Literatura Brasileira da Revista Cult); "Ao que minha vida veio..." (romance; Prêmio de romance Salim Miguel), além de outros. Foi homenageado como pequisador-destaque da UFSC em 2011. Fonte: Curriculo Lattes
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SANTOS, Alckmar Luiz dos. Rios imprestáveis. São Paulo: Lemos Editorial, 2001. 71 p. 16x23cm. (Redescoberta da Literatura Brasileira) Vencedor da Categoria Poesia da Revista CULT. Col. A.M.
O palíndromo
Só por seres, já mar fostes:
Ida e vinda, ainda em cores
Fugidias em que havia
Vir a ser, nunca queria
Dar-se o cabo, sem retorno;
E transtorno, mau assomo,
Vir a ser, definitivo:
Como faz o lenitivo,
Ao curar sem que a saudade
Da doença faça alarde.
E por tanto, vir a ser,
Nunca foi — o que é mister —
O retorno a todo instante
Dessa sede que, bastante,
Saiba ser, e não ser mais
No minuto em que estais,
Para dar-se ao mundo em bando,
Perfazendo no onde e quando,
No plural de outros iguais
O avançar que traz o atrás,
O voltar que deixa a ida,
Que é viagem sem partida,
Onde o ser, fraco e mofino,
Flecha ao léu e sem destino
Junta ao arco, ao seu redondo,
A redoma, em contraponto,
Do que é alvo, e faça a volta:
Outros seres, outras rotas,
Num plural já recursivo
Que pespega ao ser que é mínimo
— Uno, um só, fechado em si —
A legião de seres que
Sabem ir e vir porque
Seres vem de muito ser
Num resgate de um só ente,
Que só sabe florescer
Palindromecariamente.
SANTOS, Alckmar. Circenses. Ilustrações de Rodrigo de Haro. Rio de Janeiro: 7Letras, 2008. 60 p. 13X20 cm. ISBN 978-85-7577-445-8 Prefácio de Paulo Henriques Britto. “Orelha” do livro por Claudio Willer. “ Alckmar Luis dos Santos “ Ex. bibl. Antonio Miranda
Em tudo se intromete o tempo, e o viço
Que em nós já coloria a face, agora
Já dana o corpo e entrega, sem demora,
A carne ao pó, e a alma a todo abismo.
É quase certa a dor, e o sempre olvido
imprime essas suas marcas e atordoa,
Pois que nascemos todos em má hora
— É a vida que vivemos só ruído! —
Se a morte é ela, então, esse espetáculo
Que temos de montar sem mais vontade,
Enquanto o mais das gentes, todos pábulos,
Dão vivas e mais vivas com alarde,
Que seja então um circo em que, bem alto,
Se dê a ouvir a voz de quem evade!
Na plateia toda, só vácuo
De vozes e vivas, que o olhar
Se perdeu em meio aos fátuos
Engenhos que habitam o ar
(Esse um que ainda é sustentáculo).
No que dança, a moto, é capaz
De dar mote à alma, e aos mortos
Até tez e cor. Onde jaz
Seu rastro, é aqui o contraponto:
Quem respira e quem artefaz.
E é sempre seu hausto esse torto
Trovejo engraxado, e sua cisma
De se pôr em acima e, de novo,
Abaixo, propondo uma rima
Entre algum metal e, o mais, corpo.
Página publicada em maio de 2013; página ampliada e republicada em abril de 2015.
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