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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Fonte: www.revista.agulha.nom.br/

ALBERTO BEUTTEN-MÜLLER

 

 

 Poeta, jornalista de crítico de arte nascido em São Paulo em 1935..

 

 

 

Sino assassino

 

o sino rompe

as prateleiras da manhã

o sino sofre

sonoridades sinuosas

a manhã encostou-se

em rezas rasantes

 

o sino dobrou a sina

         rodou

         rolou

         rodo piou

 matando o louva-deus

 

o sino em nova sina

 resta enforcado

 nas cordas santas

 da velha igreja

 

sino assassino

 assim seja.

 

 

 

Tradição

 

as famílias discutem

         na sala

 qual a mais tradicional

 

os namorados

         lá fora

fazem amor

 desabotoando a vida

 

o mar é fundo musical

 o vento é vendaval

a música respira fundo

 

o amor é infinito

          e muito leve.

 

 

De  ANTOLOGIA POÉTICA DA GERAÇÃO 60.  ÁLVARO ALVES DE FARIA; CARLOS FELIPE MOISÉS, organizadores. São Paulo: Nankin Editorial/ Instituto Moreira Salles, 2000. 

 

Alteridade 

Quem é esse ser que me habita

Que por mim fala e em mim cala

Quem é este estranho ser

Que vive em mim entre ter e haver

Que em mim se esconde

Que por mim responde

Que se perfaz em devaneios

Sempre aqui, acolá ou de permeio.

Que mais existe quanto mais anseio

Que sofre em mim quando amo

Que se alegra quando sofro

Que procura tecer sua trama

Nesse drama em que sou chama

Quem é este ser que me habita

Que me desdiz sem me dizer

Que se desfaz no meu fazer

Que grita em minha garganta

Que quanto menor mais se agiganta

Quem este poema escreve?

Sou eu mesmo ou um outro ser em mim?

 

 St. Louis Blue Street  

Rua São Luís

Rua mistificada

Mon Montparnasse

God save Saint Louis

Elevadores com dores baixas

Prédios e prédios sem remédios

Tédios-ódios-solidão

Fumaça saindo das carnes

Sensualidade sem sexo

Sexomaníacos de escritório

Faróis-anzóis-caracóis

Mãos-de-mãos-contra-mãos

Calmaria de agitação

Ação-contração-inação

Rua São Luís

Rua sem santos

Mon montparnasse

Quatro quadras

De riso e solidão

Um pouco de todos nós

Saindo de dentro de todos.

 

 

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“Nós somos um diálogo, escreveu Hölderlin. Talvez seja esta a única certeza, ao mesmo tempo ética e estética, do poeta Beutten-Müeller, que pisa, conosco, “um chão pegajoso/ de religões mortas...’’”  BENEDITO NUNES

 

 

 

BEUTTEN-MÜLLER, Alberto.   Katatruz e outros poemas.  São Paulo: Massao Ohno / Roswitha Kempf editores/ Feira de Poesia, s.d  Apresentação de Benedito Nunes (assinada em dezembro de 1973. Posfácio de Mario Chamie. Capa: Glauco Pinto de Moraes. Foto do autor por José Carlos Brasil.  Exemplar autografado pelo autor em 1991.   Col. A.M. (EA)

 

 

 

NO CAOS

 

no caos

me sou

no caos

me faço

 

o ritmo nasce da arritmia

ca otica mente

 

me despeço

do sistema binário

de pensar sem estar

na coisa já pensada

 

o mundo é talvez

nem sim nem não

no caos

me sou

no caos

refaço

a mente está vazia

vaga mente

pobre mente

simples mente

 

no caos

me sou

no caos

repasso

símbolos

 

do grande viajante

sem viagem

sem passagem

sem paisagem

é muito prematura

qualquer solução

 

sem sol

sou viajante por dentro

nada sei que já soubesse

a realidade é ficção

 

o que existe

não precisa de definição

a vaidade só fica

 

enquanto

a idade não vai

no caos

me sou

no caos

me basto

no caos

o rasto

 

sono lenta mente

clan destina mente

amor rosa mente

 

o mundo é um grande ab cesso

nessa sucessão caótica de sucessos

 

 

 

MECÂNICA CELESTE

amor

tece

dores

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Página publicada em setembro de 3009, amplidada em março de 2012

 

 

 

 

 

 

 


 

 

 
 
 
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