ALAYDE S. BLUMENSCHEIN
São Paulo 1882 - Rio Grande do Sul 1963.
Extraído de
SONETOS v. 3. Jaboatão, PE: Editora Guararapes EGM, s.d. 303- 458 p.
11 x 16 cm Inclui 57 brasileiros e portugueses, em língua portugusesa.a Editor: Edson Guedes de Morais. Edição artesanal, tiragem limitada.
Ex. bibl. Antonio Miranda
CARNE
Exiges. És ciumento e egoísta. Não admites
qualquer rivalidade, ou que algo te suplante.
És forte e audaz no teu domínio sem limites...
capaz de transformar a vida num instante.
És mísero e bruto! Mas, nada obsta que agites
e açambarques o mundo, e que essa alucinante
e estranha sensação que aos humanos transmites,
tenha, como nenhuma, um halo deslumbrante.
Oh, carne que possuis no teu imo maldito
mais lodo que contém num charco pantanoso,
mais esplendor, também, que os astros do infinito.
Rugindo de volúpia e de sensualidade,
espalhando na terra apoteoses de gozo,
ó carne, serás tu a única verdade?
EU
Sou só e sou eu mesmo. O que pensem e digam
os demais, nada importo: eu tenho minha lei.
Que outros a multidão, covardemente, sigam,
pelo caminho oposto, altiva, eu seguirei.
Que, sem brio e vergonha, outros tudo consigam
e que zombem de mim porque nada alcancei;
quanto mais, com seu ódio, o meu nome persigam,
tanto mais orgulhosa em trazê-lo, serei.
Ás pedradas não fujo e os tormentos aceito;
mas a espinha não em prol de algum proveito,
minha atitude sempre a mesma se revela;
A mim mesma fiel, a minha fé não traio;
e, se um dia fatal ferida pelo raio,
tombar minha bandeira, eu tombarei com ela!
Página publicada em maio de 2019
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