AFIZ SADI
1924-2010
São mais de dez as obras de Afiz Sadi. Por ser médico, formado pela federal de Minas, escreveu livros que falam sobre urologia, mas não todos: parte deles enveredou pelo caminho da poesia. (...)
De família libanesa, Afiz nasceu em Jardinópolis (329 km de SP). Filho de um mascate, mudou-se para Minas para fazer faculdade.
Depois de formado, prestou concurso e se transferiu para a Escola Paulista de Medicina, onde se tornou professor titular de urologia.
Como hobby, o médico costumava estudar tapetes persas. Era um profundo conhecedor das texturas e desenhos das peças. Reparava até no número e na qualidade dos fios. Colecionou alguns, mas muitos foram vendidos porque não tinha como guardá-los no apartamento para onde havia se mudado..
Colaborava desde 1983 na seção Tendências/Debates da Folha. (...)
Morreu aos 85 anos, em decorrência de complicações pulmonares surgidas após uma cirurgia. (...)
Afiz foi um apaixonado pela literatura e chegou a ser membro da Academia Cristã de Letras.
Biografia extraída de: https://www1.folha.uol.com.br
REVISTA DE LITERATURA BRASILEIRA – LB 49– São Paulo, SP: 2008. Direção: Aluysio Mendonça Sampaio. Ex. bibl. Antonio Miranda
Outra Vida
Sou de terras longínquas
delas vim em épocas
remotas. Aqui estive.
Conheci outras plagas.
Retornei não sei como,
Não lembro, disseram-me.
Há três quartéis de século
vi novamente o mundo e o sol.
Surgi da mescla sulina
materna da mineiridade;
paulista por titulação
declaratória oficial.
Minha terra de nascitura
é um rincão noroeste paulista
em conjunção na divisória,
norte com triangulação
mineira
e ao sul com as águas
do Rio Grande.
Batizado fui festejado,
usual à época.
Naquelas terras agrestes,
na roça dantes, aprendi
menino ainda a lida com
bovinos, suínos, muares
tropa cavalhada e natação.
Aprendi a escrita e a leitura.
Fui compreendendo e dissecando
grandes escritores da língua
o humanismo e o sociológico.
Sou médico, não "formado em Medicina".
Cheguei oficialmente à Cátedra.
Creio em Deus, respeito o filho do homem.
Sou cristianizado; li o Alcorão,
A Bíblia, o livro dos Mórmons;
conheci o Torá e Buda.
Andei por todos os recantos.
Jamais discuto religião.
Não sou maronita, copta,
islâmico, judeu, budista,
ou defensor de denominações.
Vim para curar enfermos.
Tratei e operei cidadãos
poderosos e desvalidos.
Usei recursos idênticos
aos seres com toda minha alma,
sempre com ética, lisura,
benemerência e humanismo.
Continuo minha faina
é o meu destino.
No crepúsculo quem sabe
irei para outros mundos.
Se mais outra vida eu tiver
volveria aos tempos de médico
e completaria a vida
que sempre falta nesta vida
terrena, tibiamente
vivida.
(SP-24.10-06)
Página publicada em setembro de 2019
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