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POESIA CATARINENSE – POETAS DE SANTA CATARINA
Colaboração de Marco Vasques

RYANA GABECH

RYANA GABECH

 

 

Ryana Gabech nasceu em Campinas (SP), em 29 de maio de 1985, morou em Itajaí e vive em Florianópolis.
Artista visual, atualmente é aluna do curso de Artes Plásticas da Udesc, onde desenvolve trabalhos em poéticas sonora e visual.
Livros publicados:  Mar e Avelãs, A data invisível do poema e Trêmulo.
 

 

 

Aviso


Não sou
esta perna manchada
de sensualidade

Não sou essa mulher
que quer pegar você

Não sou a mulher que
quer ser consumida
por ninguém

eu não disse que
um dia seria

Não sou a bandida
que quer roubar aquilo
que veio com você
justamente com você
de outrem

Não sou essa mulher
de batom vermelho
e seios
e nádegas a mostra

Não quero nada que
eu não queira
com o meu corpo

Não quero que ninguém
me queira por nada
por me comprar
por me pagar,
não sou essa mulher

não sei se sou mulher
não sei se escolhi
estar na vitrine
não quero ser  amostra


Não sou esta que
coloca o zíper na garganta
pra alguém
vir abrir

se eu quero

eu abro


Não sou essa mulher
que quer a mais do que quer
eu apenas ponho
os pontos nos " is"
é você quem não leu
direito
meu último
contexto

é você que não
entendeu nada
porque não quis entender,
é você quem não viu
porque eu estava presente.


E eu lá posso ser julgada
se eu escolhi
bem aquele
caminho
que você jamais traçaria,
sem culpa?

eu não sou isto
eu sou aquilo que você
acha que não pode acreditar
que sou

e eu falei muitas vezes,
e eu assinei muitas vezes
o contrato da verdade

quando errei
eu também confessei

e eu lá tenho culpa
que você tem medo

de eu

 

ser

 

eu? 

 

 

Banana

 

Foram três dias

Longas as águas bebidas
as águas que arderam a garganta

foram três dias se enchendo de algo
para sobressair a si,
muitas palavras gritadas
muitas coisas vomitadas
na cara de quem passava

trinta garrafas

trinta mil goles

a boca pareceu engolir
você

a boca engoliu toda história
pairante nesta sala

O estômago implorou
ao quarto dia
na tontura segurada na mesa

uma

           ba

      na

           na


compromissos adiados
releitura de sonetos
novos telefonemas

uma banana salvou a semana
 

 

Dos olhos

Seus dois olhos diante de meus dois dor-olhos. No seu, havia duas lanternas verdes. No meu, dois últimos túmulos, duas margaridas murchas e uma nesga de fé. Que de encontro ao seu mar-olho ficou com vergonha e chorou 

 

 

Bolinho de Açúcar

 

Era um bolinho de açúcar em cima da pia. Gritava um líquido sua doçura. O açúcar queimando a doçura. O açúcar passado do ponto. A mesa pedia uma bebida doce. O açúcar montinho se afastava da jarra cheia. O açúcar montinho brilhava a espera esperançosa do líquido ideal

 

 

Página publicada em novembro de 2008




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