RUBENS DA CUNHA
Rubens da Cunha nasceu em Joinville, às margens da Baía da Babitonga, em quando de quando de 1971, onde vive.
Coordena o Grupo de Poetas Zaragata e colabora com o site literário “Blocos On-Line”.
Ministra oficinas literárias e assina coluna de crônicas no caderno “Anexo” do jornal “A Notícia”.
1
anus e poetas são perturbações mínimas
nos fios de alta voltagem
fragilidades que se esmiuçam enquanto voam
são pedras abstraías
que tratam a questão como se fosse penugem de dor
o peito abstraindo-se
cozinhando remorso em areia
campeiam seus músculos, ossos, nervos
na busca de algo que lhes faça voo
não esse voo que todos conhecem
outro
mais capaz de acelerar a concretude
de fazer os gritos necessários
um voo totem de carne
sem o caos habitual que definha o futuro
um voo desnudo
desmascarado
só
2
nesse meu todo corpo
sei dos alfinetes que deliram nos parques
sei das luzes baixas que acompanham bocas
sei dos vermífugos dados pela mãe
tá com bicha esse menino
se ela soubesse que a ordem ora pró nobis era outra
era outro o deus nas alturas
as hosanas nas alturas
sei ainda dó escuro discurso das éguas baias
da baixa água que circula o ventre
nada contém o destino
a mão fêmea e taciturna resvala-se reto adentro
curva-se intestina e adormece solitária
imune a vermífugos, imune a coincidências e esperanças maternas
a mão fécula e fácil do destino não sonha:
insonha-se: acre e álacre
3
no corpo de minhas mulheres
um oco baixo me acontece
há milhares de anos e léguas
minhas mulheres são medusas
talvez até fossem éguas se me permitissem a rima
minhas mulheres são grã-finas
suas orelhas permanecem virgens a insultos
se lhes digo putas ouvem dálias
se lhes digo cadelas ouvem mar
e olham-me com carinho, como se de carinho fossem feitas
minhas mulheres rarefeitas em miséria, em virilhas
novilhas cruciadas
camadas para meu prazer de homem
tenho remorso por comer minhas mulheres
sem lhes temperar
sem dizer que tudo não será abandono
que o dia seguinte é um útero
um vórtice de carne e travesseiro
e que talvez suas orelhas virgens possam entender, atender a ligação
4
não direi que a pressa
é uma pedra
não sou Sísifo
embora pareça
a pressa me acontece
mais como a montanha:
subir e descer
a pressa é um disfarce
um silêncio em máscaras
que carrego feliz
a pressa me acontece
no lugar da perda
Poemas extraídos do
SUPLEMENTO CULTURAL DE SANTA CATARINA 76
Primeiro trimestre de 2012
(exemplar gentilmente enviado pelos editores)
|