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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 
 

 

 

RUBENS DA CUNHA

 

Rubens da Cunha nasceu em Joinville, às margens da Baía da Babitonga, em quando de quando de 1971, onde vive.

 

Coordena o Grupo de Poetas Zaragata e colabora com o site literário “Blocos On-Line”.

 

Ministra oficinas literárias e assina coluna de crônicas no caderno “Anexo” do jornal “A Notícia”.

 

 

1

 

anus e poetas são perturbações mínimas

nos fios de alta voltagem

 

fragilidades que se esmiuçam enquanto voam

 

são pedras abstraías

que tratam a questão como se fosse penugem de dor

 

o peito abstraindo-se

cozinhando remorso em areia

campeiam seus músculos, ossos, nervos

na busca de algo que lhes faça voo

 

 não esse voo que todos conhecem

 

outro

mais capaz de acelerar a concretude

de fazer os gritos necessários

 

um voo totem de carne

sem o caos habitual que definha o futuro

 

um voo desnudo

desmascarado

 

 

2

 

nesse meu todo corpo

 

sei dos alfinetes que deliram nos parques

sei das luzes baixas que acompanham bocas

sei dos vermífugos dados pela mãe

 

tá com bicha esse menino   

 

se ela soubesse que a ordem ora pró nobis era outra

era outro o deus nas alturas

as hosanas nas alturas

 

sei ainda dó escuro discurso das éguas baias

da baixa água que circula o ventre

 

nada contém o destino                   

a mão fêmea e taciturna resvala-se reto adentro

curva-se intestina e adormece solitária

imune a vermífugos, imune a coincidências e esperanças maternas

 

a mão fécula e fácil do destino não sonha:

insonha-se: acre e álacre

 

 

3

 

no corpo de minhas mulheres

um oco baixo me acontece

há milhares de anos e léguas

 

minhas mulheres são medusas

talvez até fossem éguas se me permitissem a rima

 

minhas mulheres são grã-finas

suas orelhas permanecem virgens a insultos

 

se lhes digo putas ouvem dálias

se lhes digo cadelas ouvem mar

e olham-me com carinho, como se de carinho fossem feitas

 

minhas mulheres rarefeitas em miséria, em virilhas

novilhas cruciadas

camadas para meu prazer de homem

 

tenho remorso por comer minhas mulheres

sem lhes temperar            

sem dizer que tudo não será abandono

 

que o dia seguinte é um útero

um vórtice de carne e travesseiro

 

e que talvez suas orelhas virgens possam entender, atender a ligação

 

 

4

 

não direi que a pressa

é uma pedra

 

não sou Sísifo

embora pareça

 

a pressa me acontece

mais como a montanha:

subir e descer

 

a pressa é um disfarce

um silêncio em máscaras

 

que carrego feliz

 

a pressa me acontece

no lugar da perda

 

 

 

Poemas extraídos do

SUPLEMENTO CULTURAL DE SANTA CATARINA  76
Primeiro trimestre de 2012

(exemplar gentilmente enviado pelos editores)

 

 



 

 

 
 
 
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