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PRISCILA LOPES

PRISCILA LOPES


Priscila Lopes (Brasilia/Florianópolis, 1983) é graduada em Relações Internacionais e cursa MBA em Comércio Exterior. Possui contos, crônicas e poemas publicados

em antologias como as da Câmara Brasileira de Jovens Escritores, da Editora DeLeon, Editora Mar de Idéias, Revista Poité (UFSC). Realizou duas exposições de poesia no espaco cultural da Assembléia Legislativa de Santa Catarina. Selecionada com o conto "O poeta esculpido" no 6° Conto e Poesía do Sinergia. Administra o blog "Cinco Espinhos" e colabora com outros dois: "Sindicato dos Escritores Baratos" e "Miniminimos". Ver http://cincoespinhos.blogspot.com/ 

 

 

The Night Cafe

 

Contemplo as escadas de van Gogh.

 

Consulto o relógio na parede.

A cinco passos está o meu cliente. Nele

me debruço se me vejo. Nele

habita o clima, o verde

 

da mesa de sinuca que me convida a ser

só. Um casal ao longe não cabe em mim.

Um bêbado sentado também sou eu.

Por inúmeros motivos me condeno

a manter-me em pé, entre parênteses.

Creio que haja vida após a morte

e que os olhos são os ouvidos

das minhas paredes. Porém,

me detenho no pensamento

que mede o tamanho do meu taco

— e se confio ou não, é mais embaixo

o buraco que procuram minhas mãos.

 

 

 Carnívora

 

Não me verão torrar

em solo infértil.

— Não me verão! Não me verão!

Chove torrencialmente

e minha raiz é seca como é

meu ventre.

Suponho que estender a mão

implica em oferecer o braço

- depois de morta,

doarei meus órgãos, no máximo!

O sol de dezembro dilata-me

os poros;

o sol que cega exala

a falsa bondade nos intolerantes.

— Sol, que gente mais grávida!

Não que eu não ame

o Amor,

é lindo

como a frase: clichê.

Mas em vez de gerar, basta-me

renascer.  

 

Como as plantas após a poda,

da dor insurgem ramificadas  

 

Mas não serei a mulher leprosa,

a planta suculenta

que dá de si doidamente.

Eu quero a palma da minha palma,

a embriaguez tão humana

do suco do meu ventre.

 

 

Com licença

 

Um dia alguém há de ver poesia

no que os poetas

não enxergam poemas,

e varrer o pó literário.

- Por que não? Varrer.

Qual é o problema

com a ironia?

A falta de decência?

Não.

É só falta de métrica.

Mas, calma lá,

me empresta a régua.

Eu vou contar cada sílaba

para ver se consigo essa tal

licença poética.

 

 

 

 

Extraídos de
XXI POETAS DE HOJE EM DIA(NTE)
organizado por Priscila Lopes e Aline Gallina
Florianópolis: Letras Contemporâneas,2009.  157 p.
ISBN 978-85-7662-044-0

 

Página publicada em junho de 2009
 

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