PEDRO GARCIA
Pedro Garcia nasceu em 9 'de setembro de 1938 em Porto Alegre (RGS). Quando tinha dois anos de idade sua família transferiu-se para São Luís do Maranhão e, cinco anos após, para Florianópolis (SC), onde o autor residiu até novembro de 1959, quando foi para o Rio de Janeiro.
Por afinidade considera-se, e é considerado, um poeta da ilha de Santa Catarina, onde editou a maioria de seus livros de poesia.
É formado em Filosofia (UFRJ), tem mestrado em Educação (PUC/RJ) e está terminando doutoramento em Antropologia (ÜPRJ). Durante anos lecionou em instituições de nível superior. Atualmente trabalha
na área da educação popular. Publicou vários livros e artigos em Educação. Em poesia:
Viagem Norte (1959); Ilha Submersa (1964); Paisagem Móvel (1973); Trapézio & Trapezista (1977); Sobre a carne do poema (1984); Múltiplos heróis (1985); Frutos do mar (1986).
Índice de Percurso obteve o Prémio Luís Delfino no "Concurso Literário 1985", promovido pela Fundação Catarinense de Cultura.
GARCIA, Pedro. Índice de percurso. São Paulo: Massao Ohno Editor; Fundação Catarinense de Cultura, 1986. S.p. 15x22 cm. (Coleção Jubileu, v. 2) Tiragem: 1000 exs. Col. A.M. (EA)
ASTRÁGALO
goma adraganta
gosma rascante
draga garganta
estrondoso fosso
onde gnomo
esconde osso duro
estrela
galo
bicos
penas
pontas
incandescentes: a.
DUPLO
espelho
eco
aquele de quem digo sou
aquela onde me perco
o sonho onde estou
o pai do 'meu pai do meu pai do meu pai eu pai
o cavalo que se reconhece nos demais
Adão o paraíso a perda
e as mesmas maçãs
JOGADOR
tudo navega no mesmo barco
o desejo suspenso no ar
a batalha ganha às avessas
ei-la que me olha do outro lado da mesa
e parece perceber
a aranha louca
mas nenhuma imagem contém
a resposta mágica
o mapa da mina
o roteiro desastrado
o jogo interrompe o dia
na madrugada rota
rota
estamos todos descendo —
mais uma vez
divididas dívidas dúvidas
os rumos envelheceram
na cadeia do improvável
mas, ainda assim, jogador, arriscas
na aranha louca
no puro azar
FESTA
tules
gazes
adornos
sobrevinham
pululavam seios gordos reluziam
flertavam
deitavam estranhas beberagens
junto ao aniversariante —
maçãs envenenadas & mapas do tesouro
sobre a cama jaziam
Maria Joana espreitava a porta do banheiro
curiosa
GARCIA, Pedro. Frutos do mar. Florianópolis: FCC, 1986. 172 p (Série Literatura) 10,5x21 cm. Apresentação (“orelha”) por Mauro Gama. Capa: pintura de Paul Klee. Publicação da Fundação Catarinense de Cultura. Impressão da Thesaurus (DF). Col. Bibl. Antonio Miranda.
Clima
seio escultura
lábio pintura
perna metálica
ranger porta
planta (verde clorofila)
amada deitada (relva)
amante (tronco)
sorriso
festa dança
ranger porta
(uma clareira verde sobre o jornal)
crença sol
avental(branco)
espalmar agarrar
eu longe rosto
longilíneo
próximo não meu
tua perna
longilínea
(não minha)
tua voz
(não minha)
e o mar
invade tua fronte
suor da minha
GARCIA, Pedro. Múltiplos heróis. Florianópolis: Edições SANFONA, 1989 [folha dobrada em quatro páginas] São 14 folhetos em uma caixa de plástico) Tiragem 200 exemplares.
Ex. bibl. Antonio Miranda
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GIRASSÓIS GOGH
I
Amarelos Gogh procuro
luzir girassóis frente a frente
amarelos Gogh anseio
outro lado outro reino
leme sereno ao barco que me leva
II
há lâmpadas sobre o girassol
lâmpadas de pequenos sóis como satélites
que penetram silenciosamente em teus olhos (fascinados)
até a cegueira
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REFLEXÕES DE NARCISO
bate o relógio ao sol do meio-dia novembro
e não sei ao certo
as tramas que encerra
sinto não ter a férrea saúde dos girassóis
para combatê-los em tão calcáreo terreno
espero a noite dos lençóis e das bebidas ácidas
e das conversas insípidas para sentir-me forte e potente
no elemento ao qual me pertenço
um deus só existe na noite e só a noite cria
enquanto o dia — principalmente em seu meio —
só constrói vida
porém vida eu conheço luto e subsisto:
prefiro enfrentar o obscuro (o envolto)
para saber se as significações além existem
(um marfim salta numa fotografia e o invejo
invejo a força grácil dos aventureiros
a pele morena dos desertos)
resido na casca do ovo (na sua parte interior)
e dentro dela não quero ser perturbado
nas colorações que faço do meu mundo
levanto minha espada e mais uma vez heroico
de fome e de sede me considero belos nas minhas
proposições e insuficiências
(claro-escuro que faz minha existência total)
se nasci para ser queimado Júpiter e Saturno sabem
a conjunção em que me geraram
e não irei dissuadi-los que me geraram mal
*
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Página publicada em outubro de 2021
Página publicada em agosto de 2012, apliada em abril de 2014.
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