0SMAR PISANI 
                  
                Nasceu em Gaspar,  Santa Catarina, em 1936, bacharel em Direito  e também em Letras, pela UFSC, pos-graduado em Historia da Arte.  É poeta, com os seguintes volumes publicados:   O  Delta e o Sonho (Florianópolis:   Roteiro, 1964), As Raízes do Vento (Florianópolis: IOESC, 1976), As Paredes do Mundo (Florianópolis:  Fundação Catarinense de Cultura, 1982- 2ª Ed. Letras Contemporâneas, 2001), Vens Volátil como a Paisagem de Delvaux (Florianópolis: Letras Contemporâneas, 1976), Variações Lírico-Poéticas sobre o Boi-de-Mamão (Florianópolis:  Fundação Aníbal Nunes Pires, 2003), além de uma obra teatral sobre o pintor  Victor Meireles. 
                  
                DE 
                RAÍZES  D´ALÉM-MAR 
                Cores e Versos na  Ilha de Santa Catarina 
                Pinturas de Semy  Braga e Vera Sabino 
                ROOTS FROM OVERSEAS 
                Colours and Verse of Santa Catarina 
                Florianópolis:  Fundação Cultural de Florianópolis, 2004 
                  
                
                  
                Ilustração de Vera  Sabino 
                  
                I 
                  
                O Pescador é um  sonhador 
                O peixe escasso  mede a 
                graça da rede no  espaço 
                arfa a tarrafa no  ombro 
                apoiada e o barco  um peixe-arco 
                limita a matéria da  rede 
                dissolve seus  calcanhares 
                O peixe no fundo é  na 
                superfície uma  sombra distante 
                  
                  
                II 
                  
                Pressente o  pescador e anuncia 
                na leitura da maré 
                cardume imenso no  mar 
                sente o peixe na  areia 
                e a euforia de  tempos 
                  
                estilo na madrugada 
                amanhecem gaivotas 
                passam ruídos  salinos 
                o barco mareia o  peixe 
                  
                forma o corpo e o  peixe, 
                salitre que aperta 
                aquática saliva 
                na boca da mesa  parca 
                  
                  
                III 
                  
                repartem a manta  abstrata 
                ondas se ajoelham 
                o barco-aço 
                penteia o mar em  anéis 
                engole o mar  matinal 
                multiplica reclusão 
                o pescador voa 
                asas abertas se  aprofunda 
                desafia vagas  pertinentes 
                e ele colhe peixes  na garganta do sal do vento 
                  
                  
                IV 
                  
                o peixe consente: 
                o espanto o prazo a  nostalgia 
                o pescador é um  sonhador 
                renova a força dos  pés 
                subvoa 
                a água no mastaréu 
                nem sente 
                na face-prata 
                o pano da vela  esgarça  
                  
                  
                  
                NR: recebemos um  exemplar deste belíssimo livro publicado com os auspícios da Prefeitura  Municipal de Florianópolis e  apoio  financeiro de entidades locais, pedindo a publicação, afirmando que o autor  ficaria muito honrado com a iniciativa. As regras, no entanto, mesmo em versão  eletrônica, ainda que não devidamente regulamentada, permite apenas a  reprodução de trechos desde que citando a  fonte. No caso presente, deveríamos publicar o poema inteiro, com dez partes.  Optamos por antecipar as quatro primeiras enquanto tentamos uma autorização  definitiva para estampar o poema na íntegra. Trata-se de uma bela criação  poética, além da preciosidade das ilustrações. 
                  
                  
                ===================================== 
                  
                TEXTOS EN ESPAÑOL 
                  
                  
                
                  
                  
                ILHÍADA.  UMA TREZENA LÍRICA.  Tradução – traducción Pedro Port e Arturo  Terrizzano.  Florianópolis: Editora  Athanor, 1994.  127 p.   Capa e projeto gráfico: Idésio Leal e Fábio  Brüggemann.  Apoio cultura da Fundação  Franklin Cascaes= Prefeitura Municipal de Florianópolis.  Col. A.M. (EA) 
                  
                  
                ESTE É O DOM DO MITO QUE PROCURAS  
                  
                Tua medida devora calendários 
                como máscaras na passagem do equinócio 
                e no silêncio imolado 
                instalas a permanente existência da raiz 
                como o sol capaz de comover-se 
                em sua inteira rota de mistérios. 
                Cresce a árvore de sonhos, 
                mas vagaroso é o rumor 
                da seta nesta manhã de sibila. 
                  
                  
                  
                ESTE ES EL DON DEL MITO QUE PROCURAS 
                  
                Tu medida devora calendarios 
                como máscaras en el pasaje dei equinoccio 
                y en el silencio inmolado, 
                instalas la permanente existencia, de la raíz 
                como el sol capaz de conmoverse 
                en su entera ruta de misterios. 
                Crece el arbol de tos sueños, 
                pero errante es el rumor 
                de las setas en el alba de sibila. 
                  
                  
                  
                ASAS BROTAM DE MEUS DEDOS ALAS BROTAN DE MIS DEDOS 
                  
                Aqui, asas brotam de meus dedos 
                e se elevam como um sopro 
                na branca paisagem de teus sonhos. 
                  
                Vês as figuras transformadas em papel? 
                  
                Outros seres passam em procissão  
                e a ideia é um lago somente,  
                súbita estrela se apoia em tua mão. 
                  
                Tua sombra se ajusta à órbita da noite  
                e cobre o abismo dos homens sem 
                                                                      memória 
                  
                  
                ALAS BROTAN DE MIS DEDOS 
                  
                Aqui, alas brotan de mis dedos 
                y se elevan como un soplo 
                en el blanco paisaje de tus sueños. 
                  
                ¿Ves las figuras transformadas en papel? 
                  
                Otros seres pasan en procesión  
                y la ídea es un lago solamente,  
                súbita estrella se apoya en tu mano. 
                  
                Tu sombra se ajusta a la órbita de la noche 
                y cubro el abismo de los hombres sin memoria. 
                  
                  
                  
                
                PISANI,  Osmar.  As raízes do vento.  Apresentação e ilustrações  por Rodrigo de Haro.  Florianópolis: Programa de Apoio Editorial.  Coleção Cultura Catarinense.  Série Literatura  (Poesia). No. 10 901 
                  Exemplar doado pelo livreiro BRITO, de Brasil,  
                  exemplar na biblioteca de Antonio Miranda,  
                  
                        VOO E POUSO 
          
         o amor afirma tua  densa busca 
         entre o silêncio de pedra 
         e a relva germinando 
   
         o lance de repente ultrapassa 
   
                                                    o mesmo sol 
                                                    o mesmo vento 
                                                    a mesma tarde 
   
        e  a leve curvatura desta garra. 
        agarra a guerra já sem pouso 
        ah! Solange, o adágio, somos deuses 
   
   
        POEMA PARA CECÍLIA MEIRELES 
   
        tu foges a toda  definição 
        neste dia sem nexo 
        e vives em antigo navio 
        de puro sonho e silêncio 
   
        navegas de aberto coração 
        e mais alto o pensamento 
        sabias teu ofício 
        como súbita flama  
        e votivo fragmento. 
   
        tu vives Cecília 
        teu retrato ali está 
        entre música abstrata 
        e livros suspensos 
   
   
       DESVELEJADA  GAIVOTA 
   
       Antes o murmúrio branco 
       e a memória permanente 
                               da vigília 
   
       brota, agora, clara geometria 
       nesta primavera de pássaros em fuga 
        
       nos sonhos do poeta, 
       a janela, desvelejada gaivota, 
   
                                                   gira no ar 
   
       soprando globo-lembrança 
                 
                  * 
                  Página ampliada e  republicada em agosto de 2025. 
        
                  
                Página publicada em  março de 2008  |