LUIZ HENRIQUE QUERIQUELLI
A poesia de Luiz Henrique Queriquelli, a começar pelo título Garfando com facas malditas, mescla ousadia e criatividade. Natural de Indaiatuba, São Paulo, onde nasceu em 1985. Queriquelli deixou aflorar na Ilha da Magia a sua veia artística. Entre música, teatro e um poema e outro, transformou-se em escritor. Antes de lançar-e ao livro, credenciou-se vencendo prêmios de literatura em Piracicaba, Rio de Janeiro e Florianópolis. Trata-se de um talento enriquecedor para a Coleção Ipsis Litteris, que vem cumprindo o papel de revelar novos valores literários.
“Em sua escrita, Queriquelli constrói e descontrói palavras e significados, ora fundindo-os, ora distorcendo-os, mas sempre brincando com as possibilidades surgidas dessas travessuras lexicológicas.” Mauri Furlan
De
GARFANDO COM FACAS MALDITAS
A quarta gota de adoçante
Florianópolis; Editora da UFSC, 2005.
Cinemateca
Chacina de idosos
em fileira.
Cabírias na esquina
de uma igreja.
Bela Cass na cidade
alcoviteira.
Evelyn Roe na proa
do mundo inteiro.
É assim que festejando passo o tempo
em recantos de seus vales fedorentos.
Desperdício de alívio e sentimento,
pernostismo, Chaplins barulhentos.
É claro,
não me agüento.
Contemplação da megassina
Agora que a euforia toma conta,
a utópica esperança de vitória entorta o sustento de meu ser,
meu fazer azarado começa a triunfar sobre os olhares mal-amados.
Revigorado por um dom entusiasmado, calo à voz do baixo bravo,
triste,
ensolarado.
Entusiástico lapidar de um colhedor de falsas palmas,
impávido pulsar de corredor de linhas tortas.
O inglês, que pólvora prometia, forja agora sua inútil valentia.
O outro que de nada me alumia,
já ouvia suas calúnias em família.
Agência de ilusões
À espera de um emprego encontrar,
lançam pedras,
comem sopas de insatisfação.
Sem projetos, os dejetos do mercado roubam vidas,
sopram rosas,
furacão.
Sem fronteiras no ensejo de um atalho,
falhas pedem pouco mais de espantalhos.
Sem veredas que agucem o vergalho,
vem buscar sua carteira de trabalho.
Tempestidão
O atento enverga tudo,
em tudo faz-se o velho mudo.
O vermelho que me aquenta,
o branco que me inquieta,
o luar que já não chega,
o negro que me incendeia.
Sem as mãos traz-me oferendas,
com paixão tecendo a teia,
com temor o riso chega.
Já a luva,
já a rima,
essa sina não me cabe.
Enduvidado
Será afeto ou distúrbio
que transcende nossas dúvidas?
Será ciúme ou alívio
que ultrapassa minha recusa?
Viria roxo ou maduro
o flagelo de meus passos?
Viera livre ou culpado
o descaso de sua culpa?
Voltemos à agressão.
Minutos antes do começo do fim
Um goleiro em desespero,
arranha-céus numa assembléia.
Velhos,
pouco dinheiro,
buchas limpando idéias.
Ala de não-fumantes,
todos fumando intrigas.
Roupas, contradição,
colheitas em rodovias.
Olá, posso ajudar?
Poemas extraídos do livro, doado à Biblioteca Nacional de Brasília por Alcides Buss, poeta e diretor da Editora da UFSC. |