Home
Sobre Antonio Miranda
Currículo Lattes
Grupo Renovación
Cuatro Tablas
Terra Brasilis
Em Destaque
Textos en Español
Xulio Formoso
Livro de Visitas
Colaboradores
Links Temáticos
Indique esta página
Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 




JOÃO EVANGELISTA DE ANDRADE FILHO
 

Nasceu em São Paulo , viveu muitos anos no DF (estudando e lecionando na Universidade de Brasília e dirigindo o Museu de Arte de Brasília) e vive há vários anos em Florianópolis, onde exerce o cargo de diretor/curador do Museu de Arte Moderna de Santa Catarina. É um erudito, um humanista. Paleógrafo, virtuoso, já escreveu uma peça teatral em português medieval. Artista plástico, desenhista, poeta. Autor de vários livros de poesia, escrevendo poemas em português, espanhol, francês, italiano, alemão, inglês....

 

De

DE ZEPPELIN, DE GATOS

E DE CAMBUCÁS

(Pavana para um cunhado morto)

Florianópolis: 2006)

 

 

Esse vermelho, de enxurrada, nada tinha a ver com sangue.

O sangue veio depois, bem depois,

Acompanhado de arquejos e suspiros.

Sangue sacado e recebido nas salas intestinas

E nos leitos de tão lentos hospitais...

Longo tempo se passou, mas chegou o dia em que a Dissipadora,

Além disso conhecida como a dama do seio frio

Se instalaria entre nós, já muito longe daquele palacete

De que estávamos a falar, e onde tão completo eu fui

Fiel de Deus já pronto e definido...

E, por contradição,

Fiel de um doce paganismo que, um pouco além,

A fortiori

Os jesuítas do colégio haveriam de enquadrar.

 

 

AMORES

 

(...)

Também o primeiro amor, que será,

Acreditem, o penúltimo de uma história,

Data desse segundo período.

Durou exatos sete anos, em clima de exaltação.

Passou por transes de angústia e de despeito,

Sendo este o caso do minueto fatídico, que não era o de Boccherini,

Minueto que eu devia dançar com a menina

Na festa do fim-de-ano.

Pelas falhas da minha coordenação motora, patenteadas nos ensaios,

Ou por motivos políticos, fui preterido

Em favor do filho do diretor do Grupo Escolar,

Que, de ódio, desejei matar.

Apesar de tudo isso, e de tantos cruciantes momentos,

Hoje, desconfio que esse amor tão carregado de paixão

Era o produto alquímico de um romantismo precoce

Destilado no crisol do intelecto e não no alambique das vísceras.

Foi esse, igualmente o caso,

Quando cortejei,

Não muito tempo depois,

Um colega do ginásio.

Não sendo alvo de um autêntico interesse dos sentidos

Se ele dissesse sim,

Eu ficaria atrapalhado

Sem saber o que fazer.

 

Nos dias atuais

Depois de ter galgado alguns degraus na escada da carnalidade

Aquela maladresse espiritualizante

Eu haveria de superar,

Conquanto o colega ressurgisse

Na forma e na função de efebia

Ou fosse, como o menino de Pérgamo, complacente.

Mas, ao presente,

Sem apetência,

Teria eu de contornar,

Certa hipoteca de ordem mecânico-muscular

Que só uma cocote experiente

Resgataria.

 

Assim foi que, no desenrolar do meu filme,

Tão cheio de ação e amizade,

Na verdade

O script do amor e do sexo

Não tiveram entrecho conexo.

Nos anos tardegos,

Iguais a morcegos,

Voejam meus pensamentos.

E cobram de mim

A ausência de amores;

Pendores drenados

Pra ermos desertos

Pra rasos incertos:

Omissos terrenos

Perdidos na esquiva

Torre de marfim

--------------------------------------------------------------------------------- 

De

CRIA DE MULA

(VERSOS DESCONEXOS)

Florianópolis:2007

 

Quando digo”fui em busca”,

Ou então “durante o dia”;

Ao dizer “dia após dia”

Digo: “o tempo tem idade”.

Arrancar a pelo ao tempo!

O que sobra? Talvez nada.

Arrancar a pele ao tempo!

Sobrará a eternidade?

 

 

FRONTEIRA

 

Esta é a minha fronteira.

Como podes ver, não chovem pétalas de rosas

E a hera tomou conta dos muros

Enquanto o silêncio desce,

A última luz a deitar-se no lago

Só consegue refletir

A imagem de um sorriso que se despede

 

 O GATO

 

Havia um gato

Só que dessa vez

Não era de estimação.

Quando ele vinha,

Vinha para comer

Não se importando com afagos e mesuras...

 

Havia um coração,

Mas, dessa vez,

Ele aprendera

O quão agrestes podem mostrar-se

Os cômodos da casa.

 

Havia uma aparência

Aparência, porém, nada mais é que um

toque de vazio.

Não houve jeito.

Que eu me lembre

Esse era um tempo de viver à revelia

 

 

 **************************************

 

CINCO

 

Cinco horas da tarde!

Deixo com Lorca o estro.

Quem melhor pôs-se a cantar

As cinco horas da tarde;

As cinco horas fatídicas da morte?

 

Vejo, porém: nem todos os relógios

Apontam para as cinco em ponto...

É quase tudo uma questão de sorte.

Atrasos e adiantamentos

Não são meros momentos...

No espaço indeciso entre os ponteiros

Há vidas que se jogam, de alto a baixo

Céus que se perdem;

Infernos que se ganham.

 

O tempo é um dado falaz!

Afinal as cinco horas, da tarde ou da manhã,

Tanto faz.

Não se distinguem de outras quaisquer horas...

Seja o prazo da morte de um herói

Seja o encontro para um simples chá das cinco.

Só sabemos a diferença que se fez

Se ganhamos ou perdemos, cada vez.

 

UM

 

Antes

e era dois

ou mesmo três.

Às vezes quatro, cinco...

Com o apagar das luzes

e fui ficando

cada vez mais

um.

 

Antes

tantas empreendi.

A giravolta,

Aquela que, em calma,

só a alma consegue percorrer,

e que dispensa asa,

hoje eu palmilho

dentro de casa.

 

Antes

a minha cama circulava em um rodízio...

O possuir era a essência da ventura.

Já me contento

com a aventura

não tão segura

de ser apenas.

De ser só um.

 

 

SETE

 

Sete punhais de ouro se cravaram

Fundo no coração cheio de medos...

Sete segredos, tredos, se guardaram

A sete chaves, que de outro seriam...

E foram sete léguas percorridas.

Sete pecados foram perdoados

Sete faróis transpostos; sete mares.

Setenta luzes que nos alumiam...

 

Sete mansões de sombras se afundaram

No lago do Silêncio, entre penedos...

Sete demãos de tinta se passaram

Em um sepulcro nu que se escondia...

Sete lanternas rubras se apagaram

Antes que a noite espessa clareasse.

Sete morcegos negros que voaram

Não mais pousaram, por temor a dia..

 

Mas não chegava nunca aquele dia,

Por sete sortilégios encantado...

Então os sete sinos repicaram,

E as sete pragas foram proferidas;

E sete gnomos reles se danaram

E sete anacoretas se enforcaram...

E sete raios a seguir partiram

As sete torres de marfim erguidas.

 

Sete donzelas foram lapidadas

E sobre sete palmos, no terreno,

Sete rosas de sangue se abriram.

Dormiram sete luas tão pesado

Que em vão sete fogueiras se acenderam.

De ser tão longa assim a noite fria

Gelou nos corações o sentimento:

Anátema final aí lançado.

 

Em vão se esconjuram aquela treva,

Pois nem setenta mil terços bastaram

(Que foram tantos os que se rezaram).

Em vão as muitas velas se acenderam

(Bem setecentas mil, que assim contaram).

 

O esperado dia não tornou...

E um deserto imenso foi surgindo

Para engolir de vez o que restou. 

 

 

Extraídos do livro OUTROS POEMAS & TREZE NÚMNEROS. Florianópolis: Agnus, 2000. 44 p.

 

 

PALAVRAS

 

Para Vera Amália Amarante Macedo

 

Estalo, sol e merendar,

Intonso, alforje, sereia,

Bramir, motejo, simonia...

Escusam de saber que senso têm,

Lindas palavras são, nos fazem bem.

 

Culatra, regougo, finfar, tamanco,

Sovaco, bolacha, rubrica, faroja,

Úteis até, mas feias de doer.

 

A vida fervilha de contrastes

E o dicionário também. 

 

 

[SEM TÍTULO]

 

O poeta, mesmo quando finge, expele o seu sentir.

Não sendo esfinge, conhece o desabrigo de uma confissão.

Não pensa em indulgência, nem pede remissão.

Por ser como é, pouco sereno,

O terreno lhe foge ao pé.

Ele se expõe. Se a blefar

Se põe

Fichas arrisca

E morde a isca..

Jogo que faz

Não volta atrás.

A poesia

Tem seus perigos

Como os do mar.

Se a nau faz água

Por que culpar

Os calafates?

Mar é assim

Às vezes liso

Às vezes crespo

Às vezes limpo

Às vezes turvo.

Caprichos

Tem.

Ao içar velas

Reza por elas

Amém.

Quebrou-se o leme

Perdeu-se a rota.

Como o alcatraz

Extraviado

Não voltarás.

Quarta do leste, quarta do sul,

Quarta do norte, quarta do ocaso.

Marinhando à mercê dos quatro pontos,

Derivando ao sabor de rumos ora crus ora incruentos

O poeta não se afasta de si mesmo

Apenas faz-se ao mar atrás dos ventos.

 

 

Extraído do livro VERSOS JOCO-SÉRIOS. Florianópolis: Agnus, 2003. 132 p.


 


Voltar à página de Santa Catarina Voltar ao topo da página

 

 

 
 
 
Home Poetas de A a Z Indique este site Sobre A. Miranda Contato
counter create hit
Envie mensagem a webmaster@antoniomiranda.com.br sobre este site da Web.
Copyright © 2004 Antonio Miranda
 
Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Home Contato Página de música Click aqui para pesquisar