ALINE GALLINA
Nascida no dia 27 de agosto de 1983, em Florianópolis – SC, Aline Gallina é acadêmica de Artes Plásticas e de Arquitetura e Urbanismo. Trabalha nas Oficinas de Arte da Fundação Catarinense de Cultura. Quando estava no processo de alfabetização, sua mãe a incentivava à ler, escrever e desenhar - e foi assim que surgiu seu fascínio pelas artes. Faz parte de seletivas realizadas pela Câmara Brasileira de Jovens Escritores e da antologia “Mares diversos, mar de versos”, organizada pela editora Mar de Idéias. Foi selecionada no 6°. corcurso do Sinergia com dois poemas. Tem um poema-plaquete intitulado “A conquista - entregando-se ao prazer”. Blog da autora: http://www.blogger.com/profile/05008247202068680572
Tolerância
Sou de família azul
parida pelo sul da vida
Claro que não herdei
a tolerância do silêncio
Minha mãe tem três filhos
no futuro oco do espaço
Meu ovo quebrou duas vezes
antes de eu trazer eterna(mente)
a tola herança da noite.
Penetrável
Ela soma o ar da janela.
Tropeça na mão direita a cada 20 segundos.
O dia cinza reflete em seu corpo
sujo.
Dois bólides gigantes que se movem
no rosto —
Precisa escondê-los hoje
— caem para debaixo da cama.
Não guarda mais o segredo das cartas antigas,
eis a caixa da caixa!
Onde vive, morta para dormir
no necessário.
A paçoca de papel e capim, sua —
melhor amiga — do peito.
De quantas chamas é feito o dia?
24 goles ásperos e a cortina para
cada lado do ombro.
Perde as pontas dos dedos em cada passado.
Imprime a sombra no rosto, pois
a lua fere quando sorri.
Ecnefia
Seriam apenas dois olhos afundados numa xícara de café
A escolha do teu nome eu não fiz
— você hoje não parecia com coisa alguma —
Quando eu era pequena sua voz eu ouvia
Mesmo tapando as orelhas para ficar tudo bem com a minha
forte persona.
Essa manhã você estava ali na minha frente,
Mas o tempo é urna espécie de memória
As vezes ele não existe.
Eu quase pude te sentir hoje
Mas, pelo que vejo,
Não vi.
Aniversariante em oração
tenho urna pilha de nervos para resolver
Multa parafernalha solta na cabeça:
É prego
É pobre
É problema
pego o prego para começar
Bata! bato, bato... sem martelo ele não entra
-Parafuso pode ser?
para tudo, rodar deixa confuso
Tonto, com o fuso todo desnorteado
vejo a pilha, vejo o prego, não vejo o martelo e não quero
o parafuso
Pronto. Recomeçando...
Ser pobre é um problema!
tem que fazer, tem que comer, tem que dormir,
não tem nada nas mãos.
— Um martelo ajudaria!
não tem martelo não senhor, nem em mãos nem na estória.
o Senhor está no céu, junto dele quem mais? A família,
os fiéis amigos...
eu não sou Senhor, sou Sozinho, filho da terra e é para
lá que eu vou.
Na terra tem tudo.
— puxa vida!
Puxa, puxa a vida que ela vem.
Vida pesada essa.
tenho dor nas costas, calos nos pés, mas tenho voz, tenho a força
que me resta
dessa vida que eu já puxo ha 56 anos completados no dia de hoje. passo a passo vou mais adiante, passo por poças, fundo de poços,
perto, longe
passo por pontes e montes.
junto problemas, resolvo, junto mais problemas que antes.
A cabeça funciona, mas com muita parafernalha - prego, pobre,
ponte, passos —
Solta.
solto meu corpo...pesado!
meus olhos arregalados. Pisante do mundo, que anda
para a terra, é assim:
Daqui para frente é o resto da vida.
Extraídos de
XXI POETAS DE HOJE EM DIA(NTE)
organizado por Priscila Lopes e Aline Gallina
Florianópolis: Letras Contemporâneas,2009. 157 p.
ISBN 978-85-7662-044-0
Página publicada em junho de 2009
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